As Reformas Religiosas, que ocorreram na Europa durante o século XVI, constituíram o movimento que rompeu a unidade do cristianismo. As Reformas Religiosas fizeram com que parte da população europeia deixasse a Igreja Católica e passasse a aderir a outras religiões cristãs, que não mais se submeteriam aos dogmas católicos e à autoridade do papa. Vale ressaltar que as Reformas Religiosas se referem tanto à Reforma Protestante quanto à Contrarreforma, que foi um movimento organizado pela própria Igreja Católica para reverter os avanços da Igreja Protestante. O teocentrismo, típico da Idade Média, vinha sendo substituído por uma atitude antropocêntrica, valorizadora do ser humano e suas capacidades individuais. A Igreja Católica, certamente, ressentiu-se dessa mudança. Por outro lado, o desenvolvimento das forças capitalistas exigia uma nova ética religiosa frente às atividades econômicas da burguesia. FATORES GERADORES Dentre as principais causas da Reforma Protestante do século XVI podemos destacar:
EPISÓDIOS INICIADORES As críticas mais contundentes e eficientes contra o catolicismo surgiram no século XVI. Os questionamentos aos dogmas e poder da Igreja, no entanto, já se manifestavam há séculos. No século XI, vimos que a incompatibilidade entre o cristianismo oriental e ocidental gerou a primeira cisão no interior da religião fundada por Jesus: o Cisma do Oriente que originou a Igreja Cristã Ortodoxa Grega. A partir de 1054, portanto, o domínio do papa ficou restrito ao Ocidente europeu. Durante a Baixa Idade Média, surgiram heresias na Europa, algumas delas saídas do seio da própria Igreja Católica. Tratava-se de movimentos religiosos que negavam vários princípios do catolicismo, a riqueza da Igreja e o comportamento do clero. As heresias que mais se destacaram foram a dos valdenses e a dos albigenses que, entre outras coisas, defendiam mudanças nos dogmas católicos e a distribuição dos bens da Igreja. A repressão contra elas foi violenta. Em 1378, ocorreu o Cisma do Ocidente, um desentendimento entre o papado e o rei da França. Nessa oportunidade, enquanto a sede do catolicismo elegeu um papa, o rei francês indicou outro e fez da cidade de Avignon a sede do papado. Apesar de resolvida a questão, essa disputa enfraqueceu o catolicismo romano. Já às vésperas da Reforma, emergiram dois movimentos contestatórios ao predomínio do catolicismo na Europa. O primeiro deles foi encabeçado pelo inglês John Wycliff que atacou violentamente a estrutura eclesiástica, a opulência do clero e a venda das indulgências, insistindo em que as Sagradas Escrituras eram a verdadeira fonte da fé. Pregava a criação de uma Igreja nacional, separada da romana e despojada de seus bens. Advogava, sobretudo, um retorno ao cristianismo primitivo defensor da humildade e da pobreza. John Wycliffe John Huss, líder de um movimento que ganhou expressão na Boêmia (atual República Checa), aderiu às ideias de Wyclif e, como ele, defendia uma Igreja nacional e a pobreza dos primeiros cristãos. O movimento hussita surgiu numa região que lutava pela centralização do poder e, principalmente, pela independência em relação ao domínio do Sacro Império Romano Germânico. Tanto Wyclif quanto Huss foram perseguidos pela Igreja Católica. O LUTERANISMO Foi na Alemanha (parte do Sacro Império Romano-Germânico) que se iniciou a Reforma Protestante. Região essencialmente feudal, composta por nada menos que 300 Estados independentes (principados, ducados, condados, cidades-livres), vivendo da agricultura, contava com a figura do Imperador, mas que só exercia o poder de fato sobre suas possessões. A Igreja Católica era a maior possuidora de terras, detendo cerca de 1/3 das propriedades. Na Alemanha, a massa da população vivia sob o regime de servidão, enquanto a nobreza leiga e a nobreza eclesiástica viviam em disputa. Aos nobres, que pretendiam, para enfraquecer a autoridade dos clérigos, confiscar as terras da Igreja e incorporá-las aos seus domínios, aliou-se a burguesia que protestava contra o abuso da arrecadação de impostos eclesiásticos, que depois eram enviados para a Itália. Até mesmo a plebe rural e urbana, sobrecarregada de tributos devidos à Igreja, desejava ver sua autoridade diminuída. Nesse contexto, agravado pelo mau comportamento do clero, surgiu o nome de Martinho Lutero, religioso que, em 1517, afixou na porta da Catedral de Wittenberg, as 95 Teses, rol de itens em que criticava o sistema clerical dominante, sobretudo a venda das indulgências, e expunha sua doutrina. Tal atitude valeu-lhe a excomunhão, em 1520, a qual Lutero queimou em praça pública, fundando uma nova religião: o luteranismo. Martinho Lutero
A doutrina de Lutero tinha nos escritos de Santo Agostinho sua fonte de inspiração. Ao contrário de São Tomás de Aquino, principal teólogo da Idade Média, a doutrina agostiniana defendia a predestinação, a salvação pela fé e não pela fé e obras. Lutero assumiu essa ideia, rejeitou a hierarquia religiosa e os sacramentos, com exceção do batismo e da eucaristia, negou a transubstanciação. Segundo seus ensinamentos, a Bíblia era a fonte única da verdade divina e cada homem deveria interpretar os textos sagrados de acordo dom sua consciência e capacidade; por isso, a Bíblia deveria ser traduzida do latim para as línguas nacionais. À Igreja, por sua vez, cabia oficiar os cultos e ministrar os sacramentos, isto é, realizar atividades limitadas à sua natureza e, por isso, devia estar subordinada ao Estado. A necessidade de bens para cumprir suas tarefas era mínima e, por isso, o patrimônio da Igreja, dizia Lutero, deveria ser confiscado. Não é preciso dizer que, sobretudo esta última ideia, seduziu a nobreza leiga, que há tempos vinham advogando o confisco dos bens da Igreja. Lutero, porém, mantinha certas restrições à busca do lucro e à usura e o sucesso do luteranismo no interior da burguesia, grupo além do mais frágil dentro da Alemanha, foi mínimo. O caráter elitista da Reforma de Lutero ficou evidente quando ele condenou tais movimentos radicais e defendeu sua repressão. Luteranos e católicos entraram em choque na Alemanha. Após vários conflitos foi assinada a Paz de Augsburgo (1530) que, entre outras coisas, estabelecia que os príncipes e nobres tinham liberdade religiosa, mas os súditos não, devendo acompanhar a escolha do príncipe. O CALVINISMO Uma outra expressão do reformismo religioso do século XVI foi o surgimento do calvinismo, na Suíça. Essa região, tal como a Alemanha, não possuía unidade política, mas ao contrário daquela, contava com próspera e forte burguesia, oriunda de um intenso desenvolvimento comercial. Na Suíça, ao mesmo tempo, a Igreja Católica possuía poderes e riqueza consideráveis. Inspirado pela doutrina de Lutero, o francês João Calvino, que morava em Genebra, formulou uma doutrina que rompia com o catolicismo. Tal como seu precursor, defendia a predestinação, a livre interpretação das Sagradas Escrituras, a simplificação do culto, a diminuição da autoridade do clero, cujas funções deveriam ser limitadas ao plano espiritual e, portanto, o patrimônio confiscado. Calvino, todavia, aprofundou a doutrina da salvação pela fé, admitindo que um sinal da salvação futura, já durante a vida, é o sucesso profissional e econômico. Dessa forma, justificava a moral burguesa, pregando o lucro e a austeridade, conquistando, assim, ampla adesão dos setores burgueses da sociedade europeia. Na França, Escócia e Inglaterra o calvinismo conseguiu a adesão de muitos seguidores e favoreceu a expansão das atividades capitalistas. O ANGLICANISMO A Inglaterra, em meados do século XVI, era uma monarquia centralizada que contava com significativo avanço das forças capitalistas. Por isso, apresentava uma burguesia forte, disposta a romper com o tradicionalismo católico. O rompimento da Igreja inglesa com Roma deu-se por um problema pessoal do rei Henrique VIII. Tendo como herdeira legítima uma única filha, Maria, de sua primeira esposa, a católica Catarina de Aragão, o rei, temendo que a Espanha dos Habsburgos se apoderasse do trono inglês, solicitou ao papa que lhe concedesse o divórcio para que pudesse se casar novamente e tivesse um filho varão. O papa, entretanto, muito ligado ao trono espanhol, negou-lhe o pedido e, diante do novo casamento de Henrique VIII com Ana Bolena, o excomungou. O rei da Inglaterra rompeu, então, com Roma, fundando a Igreja Anglicana, cuja doutrina se assemelha muito à católica, mas que tem um caráter nacional. Henrique VIII aproveitou o rompimento com o papa para confiscar os bens da Igreja Católica na Inglaterra, tornando-se o chefe da recém-criada Igreja Anglicana.
Dessa forma, ao tornar-se chefe da Igreja em seu país, o rei da Inglaterra fortaleceu ainda mais sua autoridade, decisivo passo no sentido da formação do Estado absoluto inglês. A CONTRARREFORMA Apesar do termo, Contrarreforma, o movimento de reação iniciado pela Igreja Católica a partir da expansão do protestantismo na Europa ocidental apresentou muito mais um caráter reformista. Ou seja, ainda que reagindo violentamente à expansão das novas doutrinas religiosas pelo continente europeu, a alta hierarquia do clero católico percebeu a necessidade de alterar importantes aspectos de sua existência, sob risco de perder ainda mais fiéis. Nesse sentido, realizou-se, na cidade de Trento, norte da Itália, um Concílio que recebeu o nome da cidade. Durante as discussões, que se prolongaram por vários anos, com inúmeras interrupções, algumas decisões foram tomadas: manutenção da doutrina católica (sacramentos, dogmas etc.), melhor preparação para os membros do clero, punição aos clérigos e leigos que não apresentassem comportamento condizente com sua condição, perseguição aos que se desviassem do caminho estabelecido pela Igreja de Roma através do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, criação do Índex, relação de livros proibidos à leitura por ameaçar a doutrina católica.
Além disso, a Igreja Católica procurou ainda expandir a fé e conquistar novos fiéis. Para isso, foi decisiva a atuação da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada por Ignácio de Loyola, cuja organização se assemelhava à de um exército. Os jesuítas atuaram sobretudo nas áreas educacional, fundando colégios e seminários para melhor preparar os que pleiteavam a vida religiosa, e de catequese, dedicando-se à conversão dos gentios da América. Com a Reforma Católica, o papa pretendia, não só coibir as dissenções em favor das novas religiões protestantes, mas, também, aumentar o número das ovelhas de seu rebanho. Avalie a aula |