Na escola aprendemos a compartilhar o que

Na escola aprendemos a compartilhar o que

Preocupações com o método de ensino e com o conteúdo programático são uma constante na vida dos pais que buscam uma escola para os filhos. Porém, você sabia que é no ambiente escolar que as crianças aprendem e desenvolvem competências e habilidades sociais?

Um estudo realizado em 2019 mostrou que as crianças que desenvolvem mais as competências e habilidades sociais são menos estressadas. Em outras palavras, isso significa que a instituição de ensino na qual o seu filho está matriculado precisa ir além daquilo que está na grade curricular. Há muito mais para ser trabalhado nos primeiros anos de vida.

Crianças socialmente mais habilidosas têm mais facilidade para fazer amigos, o que as estimula a terem comportamentos sociais mais avançados, resolvendo melhor conflitos e lidando de forma mais tranquila com situações de potencial estresse. Listamos aqui 5 competências e habilidades que o seu filho pode desenvolver na escola.

1. Compartilhar

Compartilhar um pedaço de comida ou um brinquedo são ações que as crianças podem desenvolver na escola. Um estudo publicado em 2010 mostrou que até os 3 anos de idade as crianças estão mais propensas a compartilhar suas coisas do que entre os 3 e 6 anos de idade.

Pesquisadores norte-americanos concluíram que as crianças que se sentem melhor e mais seguras sobre si mesmas são mais propensas a compartilhar coisas do que aquelas que não desenvolvem esse comportamento. Portanto, ensiná-las a compartilhar desde cedo pode resultar em melhorias na autoestima. 

2. Seguir regras

Não se trata de uma crítica aos pais, mas sim de uma característica. Os pais costumam ser mais permissivos do que os professores. Isso porque em uma residência há menos pessoas para seguir regras do que em uma sala de aula. Portanto, a disciplina e as regras de convívio se tornam fundamentais para que tudo transcorra bem.

Desde cedo, elas aprendem a seguir regras simples e objetivas e são estimuladas a pensar nos motivos pelo qual as seguem. Isso faz com que elas desenvolvam um senso de coletividade. Fazer silêncio enquanto alguém está falando, por exemplo, é uma forma de compreender o outro. Essas associações fazem mais sentido à medida que são praticadas.

3. Respeitar as diferenças

Junto de suas famílias as crianças têm acesso apenas a visões de mundo similares. Quando vão para a escola elas aprendem que existem pessoas em outras condições sociais, com outros pensamentos ideológicos e com objetivos diferentes no mundo. Ao conhecer e compreender o outro elas desenvolvem a empatia.

Aceitar as pessoas como elas são é parte do processo de reconhecimento do mundo. As múltiplas visões de mundo que uma escola oferece permitem à criança ampliar os horizontes e conhecer outras realidades. Não se trata de mudar o pensamento, mas sim de respeitar as diferenças.

4. Cooperar

Quando cooperamos uns com os outros conseguimos atingir objetivos em comum com maior facilidade. Essa é uma das habilidades e competências que mais podem ser desenvolvidas na escola, especialmente em aulas que requeiram habilidades manuais ou na prática de esportes.

As crianças aprendem que mais do que compartilhar, se esforçar para que todos sejam beneficiados e recebam uma recompensa no fim vale a pena e requer menos esforços do que tentar fazer tudo de maneira individual. Quanto maior for o contato com outras crianças, maiores serão os estímulos para que essas habilidades sejam desenvolvidas.

5. Boas maneiras

Muitas das boas maneiras que aprendemos, seja em casa ou na escola, têm por objetivo tornar mais amigável a convivência com outras pessoas. Não se trata apenas de ser educado e respeitar os colegas, se dirigindo a eles sempre de forma educada e cordial. Se trata também de respeitar o que é coletivo para que todas as pessoas possam usufruir.

Ao não colocar os pés na cadeira, por exemplo, a criança deve aprender que está fazendo isso para que o assento não fique sujo e que outras pessoas possam se sentar sem sujar a roupa. A simples indicação de “pode” ou “não pode” não costuma funcionar, ela deve vir acompanhada de uma contextualização para facilitar a compreensão.

Educação também se aprende em casa

Embora a escola seja o local ideal para desenvolver todas essas habilidades e competências que citamos acima, isso não significa que ela seja a única alternativa. Essas características também são estimuladas pelos pais, mas devido às limitações de interação em uma família nem sempre os resultados são tão eficientes quanto o trabalho realizado pelos professores.

Por isso, ao avaliar a escola dos seus filhos, não leve em consideração apenas o conteúdo programático e a qualidade do ensino, mas também o resultado e as transformações pelas quais os seus filhos estão passando. Será que eles estão desenvolvendo bem as competências que mencionamos acima?

Fonte(s): Dx Doi, Very Well Family, Sisd, Revista Crescer e Ctrl+Play.

Num passado recente, acumular e proteger informações conferia significativo reconhecimento e respeito às pessoas pelos seus pares. Mas isso pertence ao passado. Estamos na era do compartilhamento, uma era em que o valor está em distribuir, em coparticipar, em tornar público o que se pensa, o que se faz, o que se lê, o que se vê e até o que se come ou o lugar onde se está. Hoje temos a opção e a oportunidade de produzir conteúdo e de compartilhar sobre tudo, ao mesmo tempo que temos a liberdade de escolher o que consumir e valorizar o que nos é relevante.

Foi-se o tempo em que um bom nível de interação em sala de aula era quando o estudante fazia alguma pergunta ao professor sobre o conteúdo exposto por ele. Essa foi uma época em que o aluno era tão somente um receptor de informações, não se esperava mais do que isso. Atualmente, mesmo que ele não seja convidado a se manifestar, a expor o seu ponto de vista ou instigado a construir e compartilhar o novo, o aluno é um cidadão que vive na era da tecnologia digital. Por conviver com essa tecnologia, literalmente na palma de sua mão, esse cidadão é permanentemente estimulado a consultar conteúdos de forma irrestrita, a consumir informação, a interagir com ela, a compartilhá-la ou, ainda, a produzi-la.

Um exemplo de fonte de informação ou conteúdo usualmente consultada nos espaços educacionais, mas produzida e consumida em escala global, é a Wikipédia. Ela não é somente uma enciclopédia, mas uma mídia social que resultou em um produto construído e mantido a partir de inúmeras interações, construções e reconstruções por múltiplos autores, como Kaplan e Haenlein.  Esse é um espaço que convida cada indivíduo a produzir conhecimento, a imprimir sua autoria em um universo flexível, dinâmico e acessível com foco em um objetivo comum e que tem o compartilhamento como sua maior marca.

Saber compartilhar é uma competência altamente valorizada também no mercado de trabalho. Starbucks e Instagram, por exemplo, são empresas que trabalham para criar o que chamam de cultura de aprendizagem compartilhada. Evidências da presença e experiência dessa cultura são valorizadas já na seleção dos colaboradores. Na prática, em ambas as empresas, os funcionários mais antigos são incentivados a liderar treinamentos e a compartilhar habilidades com os novos colegas. Um dos grandes benefícios dessa ação é a construção de relacionamentos mais fortes entre os integrantes da equipe, pois eles se apoiam de maneira positiva, e isso reflete em apoio também à empresa, conforme Schawbel. 

Na área da educação, um exemplo de prática marcada pelo compartilhamento de experiências pedagógicas vem sendo desenvolvido na UFRGS por meio do projeto “Docência Colaborativa“. O objetivo principal é oportunizar a qualificação das práticas pedagógicas de docentes da Universidade a partir de momentos de observação, reflexão e compartilhamento de experiências. Os participantes são divididos em quartetos de diferentes áreas do conhecimento. Cada professor é observado pelo menos uma vez por seus pares e também observa a prática pedagógica e metodológica dos demais. Os resultados subsidiam um processo reflexivo sobre a própria docência e apontam para um movimento contínuo de aprimoramento das práticas.

É fato que o compartilhamento mostra fortes sinais de mudança na sociedade, que é potencializada pelas tecnologias digitais que favorecem uma transformação cultural. 

Quando o foco se volta para os espaços formais de aprendizagem, nota-se que a educação atravessa tempos de transição e se reorganiza gradativamente, passando a considerar cada indivíduo com potencial de consumir, produzir e compartilhar conhecimento, em detrimento da mera reprodução. Abre-se, assim, espaço para a construção de modelos que favoreçam uma aprendizagem mais imersiva e colaborativa, segundo Behar. 

Como consequência, amplia-se a oportunidade para a construção do senso de trabalho em equipe e para o desenvolvimento de novas competências intelectuais e atitudinais. Além disso, propiciam-se o aprimoramento da interlocução com os pares, a habilidade de compreender e articular com diferentes pontos de vista e o desenvolvimento de um olhar crítico e analítico sobre o objeto de conhecimento. Por fim, favorece uma aprendizagem que valoriza a prática e a experiência em lugar da memorização teórica. Esse conjunto de elementos requer um indivíduo atuante, ativo e reflexivo e que esteja em constante desenvolvimento.

De modo geral, incentivar os indivíduos a compartilhar seus saberes particulares, suas experiências e os resultados que geraram avanços e mudanças pode potencializar uma nova forma de pensar e construir conhecimentos. O principal objetivo é que se consiga aprimorar as estruturas cognitivas e as atividades práticas dos envolvidos. Aprender com o outro aprimora a habilidade de “aprender a aprender” e aprender por toda a vida.

Na escola aprendemos a compartilhar o que
Ilustração: Tietbo

Alexandra Lorandi Macedo é doutora em Informática na Educação e professora da Faculdade de Educação.

Tietbo é natural de Porto Alegre, RS, estudante de Design Visual na UFRGS. Trabalha com quadrinhos e ilustração desde 2017. Publicou “Qualquer Silva” (2019, independente), organizou a coletânea “Quadrinhos que podem desgraçar sua vida” (2018, Quadrúpede), indicada ao 31º HQMIX em duas categorias e em 2019 organizou a Feira Gráfica Quadrúpede, no Centro cultural da UFRGS, um evento de dois dias com foco em quadrinhos, publicações e fanzines independentes.