O que é inveja branca

O que é inveja branca

G1 mostra as histórias de quem convive com o preconceito racial diariamente

"Negro de alma branca", "a coisa está preta", "inveja branca". Quem nunca ouviu alguma dessas expressões? Apesar de ainda fazerem parte do nosso cotidiano, elas são exemplos de como a cultura racista se expressa por meio da fala.

Nesta sexta-feira (20), Dia da Consciência Negra, o G1 e a TV Globo ouviram mulheres que convivem diariamente com o preconceito e falaram sobre as expressões que mais as ofendem. Veja mais depoimentos ao longo do MG1 desta sexta.

'Ah, mas você nem é negra'

O que é inveja branca
1 de 3 A arte-educadora Marlene Ferreira. — Foto: Arquivo pessoal A arte-educadora Marlene Ferreira. — Foto: Arquivo pessoal

A dançarina afro e arte-educadora Marlene Ferreira é uma delas. Ela diz que convive desde a infância com a frase "ah, mas você nem é negra", o que a incomoda bastante.

"A frase é racista e contém um desprezo pelas nossas raízes, origem e essência, pela sua ancestralidade, sem falar da tentativa de apagamento da construção da identidade de negra", destaca.

'Negros como sujeitos inferiores'

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2 de 3 Luana Tolentino afirma que o racismo vem desde a primeira infância — Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal Luana Tolentino afirma que o racismo vem desde a primeira infância — Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal

Para a mestre em educação Luana Tolentino, estas falas estão relacionadas à educação que cada um recebe, desde os primeiros anos de vida.

"Nós vivemos em uma sociedade que, desde os primeiros anos de vida, ensina a enxergar os sujeitos negros como inferiores. Sentenças como 'inveja branca' ou a prática de apontar o braço identificando a cor da pele de alguém são amostras de quantas atitudes racistas ainda sobrevivem sem ao menos percebermos o quanto é nocivo", aponta.

'Sou preta, com orgulho'

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3 de 3 Madu Santos: 'Sou preta, com orgulho' — Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal Madu Santos: 'Sou preta, com orgulho' — Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal

A empreendedora e representante da Associação Cultural ODUM Orixá Madu Santos disse também que, quando criança, ouvia expressões como "negrinha", "negrinha/preta", "bonequinha preta".

"Na adolescência, o que mais ouvia era 'morena', 'moreninha', 'você não é preta, você é morena'. Sou preta, com orgulho", disse.

Reconhecer que racismo existe

Para Luana, o racismo ainda está presente em vários ambientes e espaços de socialização, como escola, família e igreja. "São nas metáforas, brincadeiras e falsos elogios, que reforçam nossas noções discriminatórias".

O reconhecimento é o primeiro passo para se extinguir as condutas racistas:

“Cabe a cada um olhar para dentro e reconhecer, perceber as nossas condutas racistas. É se interrogar, olhar no espelho e enxergar que o racismo existe, está entre nós. Fazer o processo de reflexão e interrogação e assumir um compromisso na luta antirracista, que não pode se limitar ao mês de novembro. É uma luta de todos".

O professor de ciências políticas da UFMG Cristiano Rodrigues também falou sobre a importância de refletirmos sobre condutas racistas cotidianas. Assista à entrevista que ele concedeu ao Bom Dia Minas:

O que é inveja branca

Consciência Negra: Dia de refletir sobre conquistas e preconceitos na sociedade

Os vídeos mais vistos dos últimos 7 dias no G1 Minas:

Mais do que uma data celebrada anualmente, o dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, deve servir de lembrete da resistência, história e importância da identidade do povo negro como forma de buscar uma sociedade livre de toda forma de discriminação e opressão. E para essa construção, é necessário descontruirmos costumes da nossa sociedade, com a consciência de que pequenos atos podem estar carregados de racismo estrutural que são reproduzidos sem, muitas vezes, nem nos darmos conta.

Isso porque os mais de 300 anos marcados pela escravidão no Brasil deixaram marcas que não se apagam facilmente e refletem em costumes e falas racistas e ofensivas. Pensando nisso, reunimos algumas expressões com origens racistas para excluirmos do nosso vocabulário. Vamos juntos repensar e ter consciência durante o ano inteiro?

“A coisa tá preta!”

Essa expressão se refere a uma situação negativa, mas associar a cor “preta” a algo desagradável ou difícil é um dos reflexos do racismo em nossa sociedade. Vamos trocar por “A coisa tá ruim”? Afinal, como canta o rapper Ricon Sapiência, o certo é que se a coisa tá preta, a coisa tá boa! O mesmo raciocínio serve para “serviço de preto” que se refere de uma forma racista a serviços mal feitos ou desagradáveis, “lista negra”, que pode ser substituída por “lista má” ou “mercado negro”, que deve ser referido como “mercado clandestino”. Não devemos usar “preto” e “negro” como adjetivos negativos.

“Inveja branca”

Em uma situação semelhante à anterior, o uso da palavra “branca” na expressão é usada para suavizar algo negativo e remeter a algo bom e inocente. Podemos substituir por “inveja boa”.

“Denegrir”

O significado real desta palavra é “tornar negro”, então por que ela sempre está condicionada a contextos pejorativos? Ao nos referirmos a casos de falar mal ou caluniar alguém, há palavras mais adequadas como por exemplo, “difamar” e “menosprezar”.

“Cabelo ruim”

Cabelo ruim, cabelo duro, Bombril e piaçava são alguns dos termos racistas usados para se referir a um cabelo não liso. Mas não é verdade que existe um cabelo ruim e feio e um cabelo bom e bonito. Essas são ideias que prejudicam a autoestima de mulheres e homens negros e estabelece, erroneamente, padrões de beleza impostos. O termo correto é simplesmente cabelo crespo, com toda diversidade de formas e espessuras de fios possíveis e toda a beleza que eles carregam. Afinal, ruim mesmo é o racismo.

“Cor de pele”

Você com certeza já ouviu essa expressão para se referir aquele lápis de cor bege e rosada, não é mesmo? Esse é um termo muito presente inclusive entre as crianças, mas dá a ideia de que existe uma única “cor de pele” padrão e exclui as diversas tonalidades negras. A mesma lógica aparece em expressões como “negro de traços finos” e “beleza exótica”, que colocam qualquer estética não branca como incomum, serve para estereotipar negros e ignora a diversidade de cores, raças e traços. Vamos pensar nisso?

“Cor do pecado”

Usada de forma errada como um elogio, essa expressão além de associar a cor negra como algo pecaminoso, sexualiza principalmente as mulheres negras e se associa ao imaginário dessas mulheres como uma figura sensualizada. Sendo assim, devemos sempre repensar essa imagem que além de racista está carregado de machismo e não devemos usar essa expressão. Expressões como “Não sou suas negas” também devem ser tiradas do vocabulário pois também remetem ao desrespeito com mulheres negras, que eram vistas como mercadorias e objeto de desejo sexual no período de escravidão.

“Samba do crioulo doido”

Este é o nome de uma música que satirizava a obrigatoriedade imposta às escolas de samba durante o período de ditadura. Mas apesar do contexto histórico, a expressão “Samba do crioulo doido” é usada para se referir a situações confusas e bagunçadas e reafirma a discriminação aos negros. Devemos trocar por “trapalhada” ou “bagunça”.

“Nhaca”

Essa palavra é usada para se referir ao mal cheiro, mas uma informação importante é a de que “Inhaca” na verdade, é o nome de uma Ilha de Maputo, em Moçambique, país africano de onde vieram muitas pessoas escravizadas no Brasil. A expressão é racista por associar, de forma errada, o negro a um forte odor e por isso não deve ser usada.

“Doméstica”

Usada para se referir a empregadas que trabalham em residências, a palavra tem origem na época da escravidão, quando os negros eram vistos como animais selvagens e as escravas que trabalhavam dentro de casa eram consideradas “domesticadas” para tal serviço.

“Criado mudo”

Essa é uma daquelas expressões que podem parecer inofensivas, mas sua origem também vem da época da escravidão e, portanto, é um termo racista e carregado de ofensa. Isso porque esse era o nome dado aos escravos que tinham a função de segurar coisas para seus “donos” e não podiam fazer barulho durante a tarefa. Devemos substituir a forma que chamamos o móvel conhecido por esse nome por mesa de cabeceira.