Como fazer um estudo comparativo em pesquisa cientifica

“Método” é o nome dado a um sistema de justificação para teorias, na busca de diferenciar uma opinião de uma comprovação científica – e, dessa forma, estruturar a ciência (ou seja, conhecimento das coisas). Há, por exemplo, o método empírico, o da tentativa e erro, o estatístico, cartesiano, dialético, entre diversos outros. Vale ressaltar que todos os métodos possuem méritos e falhas. 

Para se justificar uma determinada hipótese no campo científico, é necessário se debruçar sob certos aspectos metodológicos que envolvem uma pesquisa científica. Com efeito, é necessário definir os métodos que melhor respaldam as evidências de seus argumentos. Tais medidas são preponderantes para compreender os fenômenos observados no bojo da pesquisa. A partir das raízes instaladas no arcabouço epistemológico-metodológico das ciências naturais e sociais, depreende-se diferentes tipos de métodos de pesquisa, entre eles, os métodos qualitativos e os quantitativos. A partir desses dois últimos, há uma ramificação de técnicas e métodos diferentes, que serão usados de acordo com os tipos de dados mais fundamentais para comprovar certa hipótese encontrada no âmbito dos objetivos de uma pesquisa (TURATO, 2005).

Este estudo procura analisar e comparar as principais características do método descritivo, que é um dos métodos quantitativos, com o método indutivo, que é um dos métodos qualitativos. Por isso, o próximo tópico trata brevemente das principais atribuições dos métodos quantitativos e qualitativos; em seguida, há a explicação do método indutivo e descritivo, a fim de que, finalmente, haja a análise comparativa entre os dois últimos.

No âmbito das ciências naturais, encontram-se algumas disciplinas científicas: as ciências médicas, as ciências biológicas, a química, a física e a sociologia positivista. Nelas, há a supremacia, obviamente, da objetividade, inerente à sua estrutura científica. Dessa objetividade, advinda do positivismo lógico, formam-se as bases dos métodos quantitativos (TURATO, 2005). 

Esses tipos de métodos assumem uma realidade estática, observando os fatos e descrevendo-os, a fim de se obter unicamente respostas sujeitas a se multiplicarem de forma generalizada. Mediante uma visão objetiva e, com isso, mais verificável e reproduzível, encontrada por meio de mecanismos matemáticos das relações causa-efeito, o pesquisador busca o porquê de os fatos ocorrem de determinada maneira e não de outra. Esse tipo de método se utiliza, geralmente, de resultados matemáticos obtidos da análise de dados estatísticos, para conseguir se replicar em outros contextos  (TURATO, 2005).

O pesquisador que se utilizar de um método quantitativo, pode-se utilizar da coleta e análise de dados numéricos, a realização de questionários, teste empíricos, pesquisas, gráficos, amostragem ampla, índices, entre outras fontes de informações, a fim de elaborar indicadores e tendências para aprimorar a tomada de decisão.

Enquanto isso, os métodos qualitativos se aproximam mais na interpretação da análise dos diferentes dados, fazendo ligações entre eles, a fim de explicar como e por que eles acontecem em certa frequência e maneira. Esses métodos são embasados na construção de conceitos e conhecimentos, que buscam definir os significados observados das relações, resultantes de fenômenos sociais. Nesse sentido, a pesquisa terá que interpretar a situação por meio de, sobretudo, pressupostos exploratórios, descritivos e indutivos (TURATO, 2005).

Para tanto, os métodos quantitativos necessitam da subjetividade interpretativa do pesquisador e procuram desvendar novas ideias advindas do comportamento humano. Dessa maneira, é necessária uma observação naturalista em um ambiente dinâmico, e não controlada por uma sequência de variáveis verificáveis, como ocorre com os métodos qualitativos (TURATO, 2005).

O método descritivo, de natureza exploratória, é um método qualitativo e, de acordo com Gil (2008), é o mais adequado para organizações, como as empresas comerciais. Isso se deve ao fato de ocorrer primeiro o estudo, em seguida a análise do objeto estudado, e somente no fim os dados são registrados e interpretados. O autor acrescenta que o método descritivo “tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. Assim, é possível calcular e analisar o resultado final que cada variável escolhida possui ao ser implementada durante o estudo de caso. 

Gil (2002) ainda indica que o método descritivo é capaz de, além de analisar o modo como se comportam as variáveis, induzir o pesquisador a elaborar novas ponderações sobre o assunto. Essa é uma forma do pesquisador se tornar instrumento da pesquisa e analisar o comportamento humano para conceituá-lo.

Esse tipo de método qualitativo permite ao pesquisador uma maior flexibilidade, visto que ele poderá adequar a pesquisa ao longo do trabalho de campo, segundo as respostas obtidas durante esse período, de acordo com Rodrigues (2002). As informações fundamentais do método qualitativo são coletadas por meio de entrevistas, análises documentais, opiniões de especialistas, narrativas, observações, grupos focais, etnografias, o estudo de caso, entre outras. 

A partir das análises desses dados, estes serão cruzados para que se evite uma análise singular e mais subjetiva do pesquisador. Assim, o pesquisador dará ênfase na visão global da pesquisa, de modo a superar análises rasas, que levam em conta apenas um foco individualista a respeito de certo objeto de pesquisa. Em outras palavras, o pesquisador terá que avaliar os mesmos dados com diferentes atores, cenários, contextos, e outras variáveis, para que consiga concluir cientificamente alguma tendência encontrada no comportamento desses dados.

Já o método dedutivo possui uma outra perspectiva por se enquadrar como um método quantitativo. Consoante apresenta Gil (2008, p.9), esse método se pauta no silogismo, o qual “consiste numa construção lógica, que, a partir de duas proposições chamadas premissas, retira uma terceira, nelas logicamente implicadas, denominada conclusão.” Como forma de exemplo, há a biologia, que se atribui de premissas preexistentes para chegar a uma conclusão lógica. Se as premissas forem realmente reais, a conclusão também o será, pois as últimas compõem inerentemente partes da realidade, que apenas se juntaram para formar uma conclusão patente. (MARCONI & LAKATOS, 2003, p.92). 

Portanto, o método será embasado em uma cadeia de raciocínio lógico. Entre os seus principais pensadores, reside a defesa da ideia de que a razão é a principal forma de se obter o conhecimento, excluindo daí a metafísica, a teologia, entre outras formas de se compreender a realidade. Para se chegar a uma dedução, primeiro deve-se observar os fatos e depois descobrir a relação entre eles em uma cadeia lógica de eventos. Esses eventos poderão ser previstos por meio de uma análise estatística rigorosa de suas tendências, durações e consequências.

Como pode-se perceber, os dois métodos partem de raízes epistemológicas distintas. Enquanto o dedutivo parte de uma busca mais racional e lógica de fatos, a fim de articulá-los de maneira coerente, o descritivo se atenta em observar estatísticas e características dos fenômenos e suas variáveis intrínsecas, com objetivo de testá-los de forma sistemática. 

A partir da experiência, o método descritivo relaciona as variáveis e alcança um resultado replicável e generalizável, o que contribui cientificamente para a reprodução de análises capazes de efetuarem verdadeiros resultados práticos para os objetivos do projeto. Por exemplo, uma empresa que deseja realizar uma análise de investimento para saber se é viável ou não abrir uma franquia tem que angariar dados internos da empresas e, posteriormente, introduzi-los em equações consagradas cientificamente. Estas que já foram replicadas e testadas em diferentes níveis, sempre obtendo os mesmos resultados, provando a sua eficiência.

 Por outro lado, o método dedutivo associa fatos já concebidos e tenta enquadrá-los em uma sequência lógica capaz de traduzir a realidade da melhor forma possível, no âmbito da pesquisa. Quando esta última tem o fito geral de comprovar, por exemplo, que a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) trará consigo consequências econômicas, sociais e geopolíticas aos atores envolvidos, o pesquisador terá que compor uma cadeia lógica de fatos e dados que auxiliem a comprovar que a perspectiva desses fatos está sendo analisada cientificamente, por meio da razão, e não por mera opinião pessoal, profissional ou partidária.

De acordo com o conteúdo apresentado nesta análise comparativa, é possível afirmar como os dois métodos são complementares. À medida que se utiliza o método dedutivo para interpretar racionalmente uma ideia holística da situação, o método descritivo partirá mais do experimento para verificar casos específicos e mensurar resultados replicáveis. 

Por isso, Bertucci (2008) expõe que, antes de se realizar uma pesquisa, se deve definir “os tipos de pesquisa a ser realizada, os procedimentos que serão adotados para a realização da pesquisa empírica, como os dados serão tratados e analisados”. Laville (1999), por sua vez, acrescenta que é através da leitura operacional do quadro teórico, que o pesquisador compreenderá os instrumentos metodológicos necessários para o seu tipo de pesquisa, a fim de alcançar os objetivos gerais e específicos do projeto. 

Turato (2005) acrescenta que será função demonstrativa do quadro de referenciais teóricos a reunião dos elementos essenciais dos objetos de pesquisa, capazes de alicerçar o pesquisador a embasar todo o pensamento científico de maneira clara, objetiva, justificada e calcada nas melhores técnicas para se chegar à ciência. Portanto, deve-se considerar as suas características metodológicas fundamentais, a fim de determinar quais serão as mais propícias para o objetivo geral e específico do projeto em questão. Com efeito, se o pesquisador desejar, ele pode se utilizar de métodos mistos de pesquisa para alcançar os objetivos escolhidos.

BERTUCCI, Janete Lara de Oliveira. Metodologia básica para elaboração de trabalhos de conclusão de cursos (TCC). São Paulo, Atlas, 2008.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo:
Atlas, 2002.

________. Metodologia do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2005.

________. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo:
Atlas, 2008.

LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de
metodologia da pesquisa em Ciências humanas. Trad. Heloísa Monteiro e
Francisco Settineri. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

RODRIGUES, Maria Ângela Fernandes. Elementos motivadores para a criação do próprio negócio. 2002. [126] f. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.TURATO, Egberto Ribeiro. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 39, n. 3, junho 2005. Disponível em: <https://www.scielosp.org/article/rsp/2005.v39n3/507-514/>. Acesso em: 27/10 de 2021.