Em sua formação a música brasileira recebeu contribuições dos indígenas, dos colonizadores e dos negros. Musicalmente, o africano tem o mais forte caráter entre os três elementos étnicos que se fundiram para formar o perfil cultural brasileiro. O jazz nos Estados Unidos e o samba no Brasil mostram como se diversificaram, no contato com o elemento branco, as influências musicais negras na América.
Música erudita - Das origens ao romantismo. Os primeiros cronistas do descobrimento relatam que a terra era povoada de música, e os gentios que assistiram à primeira missa mostravam-se naturalmente sensíveis ao canto e à sonoridade dos instrumentos. Na catequese a que foram submetidos os indígenas, entrava, como um dos ingredientes mais persuasivos, o cantochão.
O repertório habitual desses teatros constituía-se principalmente das óperas do brasileiro Antônio José da Silva, o Judeu, e de obras da escola napolitana (óperas de Nicola Porpora, Cimarosa etc.). Modernamente, as pesquisas de Francisco Curt Lange, em Minas Gerais, e do padre Jaime C. Dinis, em Pernambuco, ampliaram consideravelmente o conhecimento sobre a evolução musical daquele período histórico.
Escola nacionalista - A primeira figura a ser mencionada, na tendência nacionalista da música brasileira, é a do compositor e diplomata Brasílio Itiberê da Cunha. Sua obra, exemplificada pela rapsódia A sertaneja (1866-1869), para piano, anunciou o período do nacionalismo musical. O precursor dessa tendência foi Alexandre Levy, em cuja obra se evidenciam os traços apenas sugeridos por Itiberê. Em suas composições, a preocupação nacionalista surge com o emprego de temas originais ao lado de melodias autenticamente populares.
Música popular urbana - A música popular urbana no Brasil pode ser definida quanto às qualidades que a distinguem da música folclórica e quanto às condições de ordem histórica, social e étnica do ambiente onde se elaborou. Assim, entende-se por música popular aquela que é composta por autor conhecido e se difunde por todas as camadas de uma coletividade. Acrescenta Oneida Alvarenga: "Essa música usa os recursos mais simples, ou mesmo rudimentares, da teoria e da técnica musicais cultas."
Primeiras influências - Dentre os gêneros que influenciaram a música urbana incluem-se a embolada, cultivada inclusive por Almirante (pseudônimo de Henrique Foreis Domingues) e Noel Rosa, na fase primitiva do rádio brasileiro; o baião, lançado em bases comerciais no Rio de Janeiro, na década de 1940; certos temas nordestinos (cocos, maracatus, caboclinhos); e alguns pontos de candomblé em trabalhos de harmonização de autores como Hekel Tavares, Valdemar Henrique, Osvaldo de Sousa e Capiba (pseudônimo de Lourenço da Fonseca Barbosa).
Lundus e modinhas - No final do século XVIII, podem ser detectadas as manifestações musicais que contribuiriam para a fixação das linhas dominantes e dos primeiros elementos rítmico-melódicos do cancioneiro do Brasil. O mulato Domingos Caldas Barbosa, tido como pioneiro do sentimento musical brasileiro, apresentava para a corte lisboeta, em 1775, o lundu e a modinha, gêneros que, segundo o musicólogo Mozart de Araújo, foram os pilares mestres sobre os quais se ergueu todo o arcabouço da música popular brasileira.
A influência da música de Portugal, revigorada pela vinda da corte de D. João VI, afirmou-se posteriormente no cancioneiro do Brasil. O tonalismo harmônico, assim como o emprego de instrumentos europeus, fazem parte do legado português. O violão, a viola, o cavaquinho, a flauta e o oficlide constituíram mais tarde o agrupamento típico do choro carioca. O piano e o grupo de arcos figuram também entre os instrumentos incorporados por influência portuguesa. Entre os autores de modinha na Bahia, do primeiro e do segundo impérios, em sua maioria eruditos, mas já ao lado de cultores do gênero a caminho da vulgarização, encontramos Domingos da Rocha Muçurunga, autor de uma Artinha Muçurunga, e seu filho Zuzinha (autor de A mulher cheia de encantos, Quero partir, Enlevo d'alma). Outros compositores importantes são Chico Cardoso (autor de Do que me serve esta vida), José Pereira Rebouças, Damião Barbosa, Joaquim Silvério de Bittencourt e Sá, Maciel Tomé, Augusto Baltasar da Silveira e os padres Maximiano Xavier de Santana e Guilherme Pinto da Silveira Sales.
Música no Rio de Janeiro - A ida de Xisto Bahia para o Rio de Janeiro, onde destacou-se também como ator de teatro musicado, indicou a tendência da cidade para transformar-se em centro hegemônico da música popular. O Rio de Janeiro, por sua importância política, sua intensa vida teatral, a atividade de suas casas editoriais e a proliferação de conjuntos musicais e chorões, passou a ser, desde então, o núcleo que transmitia para todo o país as novas manifestações do cancioneiro nacional: o maxixe, o samba, a marcha e a canção.
Choro e maxixe - Executado por conjuntos que perambulavam até alta noite pelas ruas da Cidade Nova, o choro adquiriu instrumental e estrutura rítmico-melódica definidos. Gênero de preferência instrumental, teve algumas de suas obras mais representativas enriquecidas por versos de poetas da época, como a citada Flor amorosa; Iara, de Anacleto de Medeiros (também conhecida como Rasga o coração, cujo tema Villa-Lobos estilizou em seu choro nº 10), e, em época mais recente, o Carinhoso, de Pixinguinha.
Música e carnaval - A atividade musical popular, embora de caráter essencialmente amadorístico, contava com músicos de notável virtuosismo. Fatores alheios ao talento de seus intérpretes, no entanto, concorreram para a fixação dos vários gêneros de música popular carioca: o maxixe, a canção popular, a marchinha, a marcha-rancho e o samba, este como expressão mais típica e representativa, sob variadas formas. A partir de meados do século XIX, fenômenos de índole sociológica, étnica e histórica, paralelos ao desenvolvimento das invenções modernas -- sobretudo o disco e a radiofonia -- influíram no processo evolutivo da música popular brasileira, cujo centro de irradiação continuou sediado no Rio de Janeiro.
Era do samba - A partir de 1917, com a gravação de Pelo telefone (Donga e Mauro de Almeida), primeira composição editada com o nome de samba, tem início uma nova fase dentro da música popular brasileira ambientada no Rio de Janeiro. O samba fixou-se como gênero musical, urbanizou-se e, em pouco tempo, foi assimilado pelos primeiros profissionais da classe média, que começaram a dominar um ainda precário mas crescente mercado de discos.
Bossa nova, jovem guarda e tropicalismo - Fruto da fusão do samba com soluções harmônicas mais requintadas, extraídas do jazz, a bossa nova teve como marco o disco Chega de saudade (1959), do cantor e violonista baiano João Gilberto, com arranjos do pianista e compositor carioca Antônio Carlos Jobim. A maneira intimista de cantar e a batida quebrada do violão, que explora os contratempos, aliadas às letras coloquiais de Vinícius de Morais e Newton Mendonça, influenciariam toda uma geração de instrumentistas, cantores, compositores e arranjadores, em sua maioria jovens universitários. Em 1962 esboçaram-se os primeiros sinais de diluição do movimento, com a evasão de suas principais figuras para os Estados Unidos, cujo mercado se mostrava bastante receptivo à novidade brasileira. Transformada em moda, a bossa nova massificou-se, perdeu sua característica inovadora e procurou soluções por meio de uma aliança com o samba de morro e a música nordestina. A partir de 1965, o rótulo bossa nova passou a ser progressivamente substituído pela denominação mais ampla de música popular brasileira (MPB). Comandado por Elis Regina, firmou-se na televisão paulista o programa "O fino", antes "O fino da bossa", e proliferaram os festivais de música, que revelaram e confirmaram nomes como Chico Buarque de Holanda, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento. Paralelamente, ganhava espaço no gosto da juventude e no mercado um gênero de temática ingênua inspirado principalmente na música do grupo inglês The Beatles: o iê-iê-iê, cultivado pelo grupo da jovem guarda, integrado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Vanderléia, entre outros.
À margem dos movimentos, outros autores desenvolveram obras relevantes. Entre eles estão Milton Nascimento, cujo trabalho de grande requinte harmônico e melódico incorporou elementos de tendências diversas, e Paulinho da Viola. A popularização dos meios de comunicação a partir da década de 50 permitiu um maior contato da população brasileira com manifestações culturais provenientes de outros países. Um exemplo disso foi a difusão do rock’n’roll no cenário musical do Brasil, fato que fez com que logo tenham surgido os primeiros compositores do gênero em 1957. Os precursores do “iê, iê, iê”, como ficou popularmente conhecido o estilo musical, eram influenciados por artistas como Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones. Com letras descontraídas, ambientadas em cenários urbanos, a versão brasileira do rock começou a cair nas graças do povo. Entre alguns artistas e bandas adeptos ao gênero, podemos citar Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Vanusa, Ronnie Von, Wanderley Cardoso, Sérgio Reis, Celly Campelo, Trio Esperança, Os Incríveis, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, The Fevers, entre outros. Foi a partir de uma parceria entre Roberto e Erasmo Carlos, inclusive, que surgiu a ideia de um programa televisivo dedicado ao novo estilo musical. A mesma acabou sendo concretizada pela TV Record, que, aproveitando o fato de as emissoras de TV estarem impedidas de transmitir os jogos de futebol na época, colocou o novo programa nas tardes de domingo: “Jovem Guarda”. O título da atração, uma alusão ao discurso de Lenin "o futuro pertence à jovem guarda porque a velha está ultrapassada", acabou sendo utilizado para denominar todo o movimento cultural. Aos poucos, o programa foi se tornando uma das principais atrações da televisão brasileira, ganhando grande notoriedade nacional. Após o lançamento de grandes sucessos, como "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno", "Festa de Arromba", "Biquíni Amarelo", "Meu Bem" e "A Festa do Bolinha”, o movimento começou a se esgotar durante o fim da década de 60. As maiores críticas ao mesmo giram em torno da falta de engajamento político e social de suas canções. De qualquer forma, a Jovem Guarda revelou grandes artistas, como Roberto Carlos, por exemplo, considerado por muitos como um dos maiores cantores da história do Brasil. Baião - Baião é dança e gênero musical do Nordeste brasileiro, de ritmo singelo mas sincopado, em compasso binário, a que às vezes se acrescentam versos curtos e bem-humorados. É também denominado baiano ou baiana.
Como música popular urbana, o baião chamou a atenção em 1946, quando Luís Gonzaga, em parceria com Humberto Teixeira, lançou em disco a composição intitulada exatamente Baião, na trilha do compositor e arranjador cearense Lauro Maia, que já adotava um ritmo por ele chamado "balanceio", adaptação do balanço rítmico da música dos conjuntos nordestinos formados por sanfona, zabumba, pífaros e triângulos.
Música Folclórica - Criada e aceita coletivamente, a música folclórica traduz ideias e sentimentos comuns de um povo ou de um grupo e se transmite por tradição oral. Suas principais fontes são os fenômenos rituais ou lúdicos (jogos), ou a comunicação de fatos e notícias. As composições, anônimas, divulgam-se e se repetem, e assim se transformam e apresentam aspectos novos, adaptados a uma comunidade, até converter-se em patrimônio comum de um grupo social.
Características formais - As composições de música folclórica não diferem essencialmente das composições da música erudita quanto aos aspectos técnicos, pois podem utilizar idênticos ritmos, escalas e estruturas. Falta, no entanto, à música folclórica, a notação escrita, o que a torna especialmente suscetível a modificações e à apropriação pela coletividade. Episódios épicos ou amorosos, cantados em forma de balada, constituem a maior parte do repertório, enriquecido com canções de trabalho, canções que acompanham jogos e celebrações e as que se relacionam com o ciclo agrícola anual, frequentemente associadas à dança. O padrão mais comum é o das estrofes de poucos versos com rima livre, que se repetem estruturalmente ao longo da canção. A música é frequentemente monofônica, isto é, de melodia única e não harmonizada, mas há obras que apresentam outras linhas melódicas sobre a voz principal, assim como estruturas harmônicas.
Instrumentos e estilos - Apesar da grande variedade dos instrumentos da música folclórica nas diferentes culturas, é possível estabelecer uma classificação deles em grupos. Assim, um primeiro grupo se compõe dos instrumentos fabricados pelos povos primitivos, não raro com outras finalidades além da musical. Assim ocorreu com os cornos de caça e os tambores de guerra ou de cerimônias rituais. Os povos primitivos fabricavam apitos de folhas de árvores, flautas de bambu e caixas de ressonância dos ossos de suas presas. Tomando como ponto de referência as sociedades tribais conhecidas, pode-se afirmar que a percussão desempenhava papel predominante nas antigas culturas.
Música folclórica brasileira - O folclorista Câmara Cascudo dividiu em nove áreas as manifestações musicais folclóricas do Brasil: (1) a amazônica; (2) a da cantoria, do sertão nordestino, caracterizada pelos desafios, romances e louvações; (3) a do coco, no litoral nordestino, com predominância do coco e de sua variante, a embolada; (4) a dos autos, principalmente em Alagoas e Sergipe, com folguedos populares cantados e dançados, de origem ibérica, (chegança e fandango), negra (congos e quilombos), ameríndia (caboclinhos, caiapós) ou cabocla (bumba-meu-boi); (5) a do samba, da zona agrícola da Bahia até São Paulo, com núcleos isolados em outros pontos de maior influência negra, como Pernambuco (samba, jongo e cantos rituais da macumba e do candomblé); (6) a da moda de viola, de São Paulo para o centro e sul do país (canto a duas vozes paralelas acompanhado por viola); (7) a do fandango, no litoral dos estados sulinos (chimarrita, anu e quero-mana); (8) a gaúcha, na região dos pampas, extremo sul do país (desafios, ou cantos à porfia); e (9) a da modinha, nos centros urbanos mais antigos (choro). Afoxé - Típica do Carnaval da Bahia, principalmente de Salvador, é uma dança-cortejo ligada ao candomblé, religião de origem africana introduzida no Brasil pelos escravos. Após os ritos religiosos nos terreiros, onde são evocados os orixás, o grupo sai para a rua entoando canções com palavras em línguas africanas, como o ioruba. Para marcar o ritmo desse folguedo, são usados instrumentos como agogôs, atabaques e xequerês. Entre os afoxés, o mais conhecido é o Filhos de Gandhi, cujos integrantes se vestem de branco e azul, com turbantes na cabeça. Afoxé é um rancho negro que sai pelas ruas de Salvador no carnaval. Antes, passa por um ritual de preparação, o padé de Exu, para impedir que o orixá interrompa os festejos de carnaval. O despacho é promovido pelos principais elementos do afoxé, que cantam e tocam o instrumental sagrado até que uma das filhas-de-santo incorpore um orixá. Em louvor aos santos, o mestre entoa o canto tristonho, ritualístico e monótono em língua nagô. As filhas-de-santo respondem em coro e segue-se a louvação ao rei e à rainha do afoxé. A babalotim, boneca nagô que representa Cosme e Damião, é reverenciada por todos e conduzida por um menino de oito a dez anos, que executa os passos da coreografia ritual. Típico do folclore baiano desde 1922, o afoxé misturou seu traço religioso, com origem no candomblé, à maior festa profana cristã, o carnaval. No final do século XX, grupos de afoxé como Filhos de Gandhi e Badauê contribuíram para dar ao carnaval de Salvador a fama de um dos mais originais do país. Terminada a dança, encerra-se a primeira parte do afoxé e os participantes saem às ruas em cortejo, com a babalotim à frente do rei e da rainha. Acompanhados por atabaques, agogôs e cabaças, os cânticos de rua alegram o desfile. www.klimanaturali.org |