A partir do texto da questão anterior descreva como caminha retrata a terra encontrada.

  • Descobrimento do Brasil: Cabral não foi o primeiro a chegar ao país

Atualizada em 22/4/10, às 12h14

A célebre "Carta do Achamento do Brasil" foi escrita por Pero Vaz de Caminha em Porto Seguro, entre 26 de abril e 2 de maio de 1500. O escrivão só interrompeu o trabalho no dia 29, quando ajudou o capitão-mor a reorganizar os suprimentos da frota.

Enquanto o restante da armada seguiu para a Índia, o navio de Gaspar de Lemos foi despachado por Cabral para Lisboa, ao fim da estadia no Brasil, em 2 de maio. Por meio dele, a carta chegou ao seu destinatário. Das mãos de dom Manuel 1o, passou à secretaria de Estado como documento secreto, pois se queria evitar que chegasse aos espanhóis a notícia do descobrimento.

Anos mais tarde, o documento foi enviado para o arquivo nacional, localizado na Torre do Tombo do castelo de Lisboa ("tombo" tem aí o sentido de conservação, como quando se fala, por exemplo, em tombamento de uma cidade histórica). No arquivo, o manuscrito de Caminha - 27 páginas de papel, com formato de 29,6 cm X 29,9 cm - repousou esquecido durante os séculos seguintes.

O documento volta ao Brasil

Somente em 1773, o diretor do arquivo, José Seabra da Silva, mandou fazer uma nova cópia da Carta do Achamento. Seabra tinha ligações familiares com o Brasil. Supõe-se que por meio dele o texto de Caminha tenha chegado aqui, possivelmente com a sua transferência para o Rio de Janeiro quando acompanhou a família real portuguesa.Essa cópia da carta foi encontrada no Arquivo da Marinha Real do Rio de Janeiro pelo padre Manuel Aires do Casal, que a imprimiu em 1817, tornando-a pública pela primeira vez. O documento ganhou particular importância para o Brasil com a Independência, em 1822.

Para o novo país, tratava-se do manuscrito que encerrava o primeiro registro de sua existência. Além disso, no século 19, com o desenvolvimento dos estudos históricos, os estudiosos reconheceram o valor dos documentos escritos como fontes privilegiadas para o conhecimento da história.

Análise linguística

Isso se deve ao fato de o português do início do século 16 estar bem distante do português tal qual é falado hoje em dia. Alteraram-se os sons ou os significados de algumas palavras, outras caíram em desuso, novos termos apareceram.É o caso de "achamento", usado no século 16, e substituído por "descobrimento" nos dias de hoje.Mas a simples transcrição de um trecho do original de Caminha pode deixar mais clara a ação do tempo sobre a língua e revelar o abismo histórico que se abriu entre o português do escrivão e o nosso:

"Posto que o capitam moor, desta vossa frota e asy os outros capitaães screpuam a vossa alteza a noua do achamento desta vossa terra noua que se ora neesta nauegaçam achou, nom leixarey tambem de dar disso minha comta avossa alteza asy como eu milhar poder aimda que pera o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer."

Texto rico e envolvente

Como o português empregado por Caminha é muito diferente do atual, não se pode ter certeza do significado de algumas palavras empregadas pelo autor.No caso de outras, sua significação simplesmente se perdeu no tempo. Há passagens da carta cuja compreensão depende das interpretações que os estudiosos propõem para preencher essas lacunas.Felizmente, esses problemas não chegam a prejudicar a compreensão do texto como um todo. Nem impedem que se possa "traduzi-lo" para o português de hoje.Com a intenção de informar ao rei o descobrimento e apresentar-lhe o que aqui se encontrou, o estilo do autor é claro e marcado pela objetividade, como convém a quem escreve um relatório.Mas o texto acaba sendo mais do que isso, pois o escrivão não se comportou como um simples burocrata. Sua linguagem nunca é seca ou mesquinha. Pelo contrario, Caminha se dá o direito de ser bem-humorado, fazendo até trocadilhos e brincadeiras ao comparar o corpo das índias com o das mulheres portuguesas.Além disso, a grande riqueza de detalhes e as impressões do autor sobre aquilo que via dão ao relato vida e uma grande dimensão humana, Caminha acompanha não somente as ações do índios e europeus, mas também as reações e atitudes que cada grupo tem em relação ao outro, chegando a perceber as emoções que o contato desperta em ambos.

Assim, por meio da sua narrativa o leitor parece entrar numa máquina do tempo e presenciar o momento em que portugueses e índios se encontraram no litoral baiano, quinhentos anos atrás.

Duplo valor histórico

A carta apresenta também um duplo valor histórico. De um lado, tem a importância de ser o registro documental do descobrimento ou da entrada do Brasil na história universal, constituindo uma espécie de certidão de nascimento do nosso país. De outro, tem o mérito de revelar que a história se faz também a partir de fatos corriqueiros (como o "baile" organizado por Diogo Dias e seu gaiteiro), protagonizados por pessoas comuns e sem intenções de grandiosidade e heroísmo.

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POR: NOVA ESCOLA, Márcia Scapaticio, Bruna Nicolielo
01 de Setembro | 2012

Cena 1: portugueses e indígenas se encontram pela primeira vez, no litoral sul da Bahia. Cena 2: depois de momentos de hesitação, os dois grupos trocam objetos, prática que se tornaria uma das mais emblemáticas ao longo da colonização portuguesa. Os episódios são narrados por Pero Vaz de Caminha (1450-1500), escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral (1467/68-1520) no primeiro registro escrito do país. Ele inclui muitos outros detalhes da chegada dos portugueses ao Brasil e revela episódios do cotidiano de personagens que ficaram para a História, como Cabral e o próprio autor da carta, e de pessoas comuns - tripulantes dos barcos, por exemplo - à época do descobrimento. A carta, hoje guardada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, pode ser trabalhada em classe desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. "Nessa etapa da escolaridade, o mais indicado é apresentar trechos selecionados previamente, de acordo com os objetivos do professor, e propor uma discussão", explica a historiadora Isabel Barca, docente da Universidade do Minho, em Portugal, e autora de livros didáticos e orientações curriculares que propõem a leitura e a análise da carta. O documento permite um primeiro contato das crianças com a formação do Brasil. Contribui, ainda, para iniciar um processo de aprendizagem com base em inferências sobre documentos e outras fontes. Aqui, vale um esclarecimento: todo vestígio do passado é uma fonte histórica em potencial. Porém só fontes de valor legal e/ou institucional podem ser consideradas verdadeiros documentos históricos. Essa proposta de trabalho, que aproxima os alunos dos procedimentos de trabalho de um historiador, é a perspectiva atual no ensino da disciplina desde os anos iniciais. A abordagem cultural deve nortear o estudo da carta. Segundo Francisco Alfredo Morais Guimarães, professor de História da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), para entender as diferenças entre índios e portugueses naquele período, a turma deve considerar que os primeiros desenvolveram sua cultura por meio de um processo de adaptação às florestas tropicais, aprendendo a ler os códigos de interação entre plantas e animais, que constituem o seu patrimônio. Além disso, praticavam a agricultura de subsistência sem fins comerciais.

Já na Europa, o objetivo era estabelecer relações de comércio visando o lucro e a exploração de comunidades que viviam em outros continentes, sem preocupação com o meio ambiente. Esse dado ajuda a entender o embate cultural que se seguiu ao primeiro encontro do homem branco e do índio. "É possível estudar a carta enfocando esse momento e depois expandir a análise, discutindo os impactos e as mudanças nas organizações sociais já existentes, tanto a indígena quanto a portuguesa", recomenda o historiador Juliano Custódio Sobrinho, selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

Mediar a leitura, lançando perguntas à turma, estimula a discussão. Questionamentos gerais, do tipo "Quem escreveu a carta?", "Por quê?", "Para quem vocês acham que ela foi destinada?" e "O que ela significou para as pessoas daquele tempo?", podem iniciar o debate.

A conversa pode ser aprofundada com indagações específicas sobre alguns trechos (leia os excertos comentados na última página). São exemplos de questões: "O que os portugueses encontraram por aqui?", "Será que a paisagem mudou muito desde 1500?", "Os índios usavam moedas de troca?", "Tinham religião?", "No que eles acreditavam?". "Assim, os alunos podem debater causas e efeitos de mudanças ao longo do tempo e construir e comparar interpretações sobre o passado", diz a britânica Hilary Cooper, da St Martin’s College, que pesquisa o processo de formação do pensamento histórico em crianças a partir dos 3 anos e acaba de lançar no Brasil o livro Ensino de História na Educação Infantil e Anos Iniciais - Um Guia para Professores (261 págs., Ed. Base, tel. 41/3264-4114, 40 reais). Depois da problematização da carta, vale sistematizar as informações encontradas e fazer uma lista das dúvidas.

Por relatar o primeiro contato entre o europeu e o indígena por meio da ótica do colonizador, o documento não pode ser a única fonte apresentada à turma. Ele é o primeiro de uma série de recursos, que inclui textos informativos, extraídos de enciclopédias, e imagens, como a pintura a óleo Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles (1832-1903), realizada posteriormente. Materiais que trazem informações sob a perspectiva indígena não podem ficar de fora, como a canção Pindorama e sua letra, do grupo Palavra Cantada.

Nesse ponto, é possível introduzir uma discussão já clássica na historiografia nacional: o Brasil foi descoberto ou conquistado? Desse modo, a garotada compara diferentes versões do mesmo fato e aprende que a História é feita de múltiplas perspectivas. "Fontes foram criadas com propósitos diferentes e, portanto, possuem níveis de validade distintos. Frequentemente, são incompletas", explica Hilary. A saída é estimular a discussão e a formulação de hipóteses. "Por mais que pareçam improváveis, as inferências dos pequenos mostram que eles estão aprendendo sobre o processo de investigação histórica."

Articulando a história nacional à local e à vida da turma Para atrelar esse estudo à história local, Graça Regina Franco da Silva Reis, pedagoga da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), sugere uma etapa posterior à análise de fontes, com base na história individual dos alunos. Eles podem relatar o que aconteceu de importante em sua vida até o momento. "Essas referências dos fatos importantes da trajetória pessoal de cada um ajudam a dar a noção de memória e de passagem do tempo", explica Graça. O passo seguinte é uma pesquisa sobre a origem da escola e da cidade onde vivem. Depois, eles discutem os dados levantados. Ao questionar sobre quais os primeiros habitantes da sua cidade e se havia ou não índios na região, a criança expande o olhar, vendo que o passado influi no futuro, que está sendo construído. Isso também faz com que ela se perceba como sujeito que constrói uma história.

Conhecer datas não é relevante nesse estudo. Porém vale auxiliar os estudantes na tarefa de compreender a localização temporal, relacionando cronologia e espaço, uma tarefa que nem sempre é fácil para os menores. Construir uma linha do tempo com dados sobre as datas pesquisadas e a História do Brasil ajuda nesse sentido. Depois da atividade, a turma vai olhar a formação do país para além das versões oficiais.

Trechos da carta interpretados

Terra (exótica) à vista
As primeiras impressões dos portugueses sobre nosso território mostram grande entusiasmo diante da exuberância local

A partir do texto da questão anterior descreva como caminha retrata a terra encontrada.

A chegada Depois de um longo percurso, a frota avista o país. Aves sinalizam a proximidade da terra firme. Não imaginava-se a extensão do território. 

Flora exuberante
O relevo plano da nova terra e as características da mata Atlântica, que na época cobria todo o sul da Bahia, são citados pelo escrivão.

Inspiração religiosa
A Igreja Católica é parceira do Estado português e garante seu domínio sobre novos territórios. Isso explica a origem do primeiro nome do Brasil.

O encontro de culturas diferentes
O contato inicial entre portugueses e indígenas escancara o estranhamento típico de culturas que se confrontam e interagema

A partir do texto da questão anterior descreva como caminha retrata a terra encontrada.

Costumes distintos O modo de viver do índio é visto primeiro com curiosidade e depois com preconceito pelos europeus. A cultura nativa é, então, subjugada.

Comunicação
O choque cultural passa pela falta de entedimento entre grupos tão distintos. A conversa se estabelece, então, por meio de gestos. 

Escambo
O escrivão faz o primeiro registro da prática no país. As trocas são muito comuns durante a colonização, pois os índios não conhecem o dinheiro.

A imposição da cultura europeia
A primeira missa realizada em solo brasileiro evidencia as diferenças entre a visão de mundo do homem branco e do habitante local

A partir do texto da questão anterior descreva como caminha retrata a terra encontrada.

Missão civilizatória Os portugueses aproveitam suas viagens para impor sua religião e ideologia. Não é diferente ao conquistarem o território brasileiro. 

Curiosidade
Alguns nativos acompanham a construção do altar e a missa com interesse, o que leva os europeus a achar que não tinham religião. 

Crenças diferentes
Índios e europeus dão significados distintos à realidade. Os indígenas reagem ao fim da missa cantando e tocando flautas, chocalhos e buzinas.

Consultoria Maria Claudia dos Reis, mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora da Uerj.

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