No trecho: portanto, informo que a palavra destacada introduz uma


1 PLANO DE ESTUDO TUTORADO SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS COMPONENTE CURRICULAR: LÍNGUA PORTUGUESA ANO DE ESCOLARIDADE: 8º ANO PET VOLUME: 04/2021 NOME DA ESCOLA: ESTUDANTE: TURMA: BIMESTRE: 4º NÚMERO DE AULAS POR SEMANA: TURNO: TOTAL DE SEMANAS: NÚMERO DE AULAS POR MÊS: SEMANA 1 PRÁTICAS DE LINGUAGEM: Análise linguística/semiótica. OBJETO (S) DE CONHECIMENTO: Figuras de linguagem/Formação de palavras (justaposição e aglutinação). HABILIDADE(S): (EF89LP37X) Analisar e empregar os efeitos de sentido do uso de figuras de linguagem como ironia, eufemismo, antítese, aliteração, assonância, dentre outras. CONTEÚDOS RELACIONADOS: Gírias. Estrutura das palavras. Formação de palavras: composição por aglutinação e por justaposição. INTERDISCIPLINARIDADE: Ciências, Geografia. TEMA: Figuras de linguagem Olá, como vai? Teremos uma semana bastante proveitosa! Busque aprender o máximo que puder. BREVE APRESENTAÇÃO: A ironia, o eufemismo, a antítese, a aliteração, a metáfora, a assonância, entre outras figuras, têm ca- pacidade de produzir imagens que apontam para uma linguagem simbólica, indireta, surpreendente ou simplesmente enfática. Ao se utilizar desses recursos, quem escreve (ou fala) enriquece seu texto e seus argumentos. Algumas das principais figuras de linguagem: Metáfora: é o uso de palavra ou expressão que estabelece uma relação de semelhança com outro ter- mo, numa espécie de comparação em que o termo não está expresso, mas subentendido. Ex.: O meu pai é um touro (o meu pai é forte como um touro). 2 Metonímia: estabelece uma relação entre elementos pertencentes a um mesmo universo, de modo que a parte substitui o todo. Ex: Tenho oito bocas para alimentar (tenho 8 filhos para alimentar). Ironia: emprego de uma expressão com o objetivo de dizer o contrário. Ex.: Como você está linda! (quando, na verdade, não está ) Eufemismo: cria uma expressão mais agradável para suavizar o sentido. Ex.: O réu faltou com a verda- de no tribunal (ele mentiu). Antítese: opõe, numa mesma frase, duas palavras ou ideias de sentidos opostos, mas sem haver con- tradição. Ex.: Estou acordado e todos dormem. Aliteração: é a repetição dos mesmos sons de natureza consonantal. Ex.: “Vozes veladas, veludosas vo- zes,/volúpias de violões, vozes veladas,/vagam nos velhos vórtices velozes/dos ventos, vivas, vãs vulca- nizadas.” (SOUZA; Cruz e. Violões que choram. In: Nossos Clássicos. Nº 4. Poesia. 7ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1994. p. 31) Assonância: é a repetição de sons vocálicos em sílabas acentuadas (vogal tônica). Ex.: “[...] sou um mulato nato/No sentido lato/Mulato democrático do litoral [...]” Caetano Veloso. Disponível em www. caetanoveloso.com.br. Acesso em 29 jul. 2021. Hipérbole: diz respeito aos exageros e à intensificação das ideias. Ex.: Ela chorou um mar de lágrimas. Sinestesia: consiste no cruzamento de alguns dos cinco sentidos (tato, olfato, paladar, visão, audição). Ex.: Seu olhar é tão doce (associação de visão e paladar). Prosopopeia (ou personificação): é a atribuição de características humanas a seres inanimados ou a animais. Ex.: O sussurro da floresta assustou os viajantes. Formação de palavras: composição por aglutinação e por justaposição A língua portuguesa está sempre se transformando, seja pelo acréscimo de novas palavras, seja pelo desaparecimento de outras, que caem em desuso. Vamos ver agora uma das maneiras de novas pala- vras serem incorporadas ao vocabulário. O primeiro passo para entendermos os processos de formação de palavras é percebemos que em Lín- gua Portuguesa há alguns processos de formação de palavras: ✔Composição - quando se juntarem dois ou mais radicais (radical: parte da palavra que não se al- tera) para formar uma nova palavra. Há dois tipos de composição: • justaposição: os radicais se juntam sem que haja alteração fonética: Exemplos: couve-flor; salário-família; passatempo; girassol. • aglutinação: na junção dos radicais ocorre alteração fonética: Exemplos: aguardente (água + ardente); planalto (plano + alto); fidalgo (filho + de + algo) PARA SABER MAIS: FILHO, Domício Proença. A linguagem literária. 8ª ed. São Paulo: Ática, 2007. 3 ATIVIDADES 1 - Responda, ao lado de cada exemplo, com a figura de linguagem correspondente Ironia / Metáfora / Assonância / Hipérbole / Sinestesia Antítese / Aliteração / Metonímia / Personificação ou Prosopopeia a) “Um beijo seria uma borboleta afogada em mármore” Cecília Meireles b) Ele é meu braço direito no trabalho c) “De repente do riso fez-se o pranto/Silencioso e branco como a bruma/E das bocas unidas fez-se espuma/E das mãos espalma- das fez-se o espanto” Vinícius de Moraes d) “O cipreste inclina-se em fina reverência/e as margaridas estre- mecem, sobressaltadas” Cecília Meireles e) Esses têm sido os grandes feitos de grande parte de nossa classe política: roubar e enganar a população f) Sua voz doce e aveludada era uma carícia em meus ouvidos g) Seu pai já te alertou mais de um milhão de vezes... h) O rato roeu a roupa do rei de Roma i) “Jurei mas não acreditei. Não fiquei quando eu pensei: “nunca he- sitei, então irei”. 2 - A importância da preservação do meio ambiente para a saúde é destacada pelos recursos verbais e não verbais utilizados nessa propaganda da SOS Mata Atlântica. No texto, a relação entre esses recursos: Disponível em: www.ideiasustentavel.com.br. Acesso em: 29 jul. 2021. 4 a) condiciona o entendimento das ações da SOS Mata Atlântica. b) estabelece contraste de informações na propaganda. c) é fundamental para a compreensão do significado da mensagem. d) propõe a eliminação do desmatamento como suficiente para a preservação ambiental. 3 - Observe a imagem a seguir. Trata-se do cartaz documentário Lixo extraordinário. Reino Unido/Brasil: Almega Projects/O2 Filmes, 2010 (99 min). Classificação: livre. Dirigido por Lucy Walker e codirigido por João Jardim e Karen Harley, que acompanharam, durante dois anos, o trabalho do artista plástico Vik Muniz (1961-) em um dos maiores aterros sanitários do mundo, no Jardim Gramacho, bairro periférico da cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Embora todos já saibam do enorme desafio ambiental que enfrentamos, esse documentário é um pontapé inicial para a nossa (real) tomada de consciência. a) Retire, do texto verbal do cartaz, palavras compostas por justa- posição e aglutinação. b) Analise o título do documentário, Lixo extraordinário. Ele re- presenta alguma figura de linguagem estudada nesta semana? Justifique sua resposta. Disponível em: https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/lixo-extraordinario/. Acesso em: 29 jul. 2021. Chegamos ao fim da primeira semana. Espero que você tenha gostado! REFERÊNCIAS ABAURRE, Maria Bernadete; ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Gramática. Texto: análise e construção de sentido. Parte I. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2010. p. 89-98. CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 39ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1996. p. 543-556. FREITAS, Horácio Rolim. Princípios de Morfologia. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. 5 SEMANA 2 PRÁTICAS DE LINGUAGEM: Análise linguística/semiótica. OBJETO (S) DE CONHECIMENTO: Análise de textos legais/normativos, propositivos e reivindicatórios. HABILIDADE(S): (EF69LP27A) Analisar a forma composicional de textos pertencentes a gêneros normativos/ jurí- dicos e a gêneros da esfera política, tais como propostas, programas políticos (posicionamento quanto a diferentes ações a serem propostas, objetivos, ações previstas etc.), propaganda política (propostas e sua sustentação, posicionamento quanto a temas em discussão). CONTEÚDOS RELACIONADOS: Especificidades dos textos normativos, jurídicos e reivindicatórios; vozes verbais; concordância nominal; transitividade verbal; termos essenciais integrantes e acessórios da oração. INTERDISCIPLINARIDADE: História. TEMA: Texto reivindicatório e propositivo Olá, tudo bem? Teremos uma semana bastante produtiva! Aproveite ao máximo o aprendizado. BREVE APRESENTAÇÃO: Texto normativo é aquele que integra um conjunto de regras, normas e preceitos. Destina-se a direcio- nar o funcionamento de um grupo ou de uma determinada atividade. Normativo é tudo aquilo que esta- belece regras ou normas). Um texto afixado na portaria de um prédio, estabelecendo regras e padrões de conduta, é um texto normativo. As leis também são textos normativos: estabelecem os direitos, deveres e punições para a sociedade. Já um texto propositivo (ou reivindicatório) é conhecido por apresentar uma situação-problema de forma a propor melhorias para o problema abordado, seja ele uma questão social, como um problema comum a todos, seja ele reivindicações pessoais. A carta de reclamação (um texto reivindicatório/propositivo) é um gênero textual usado em situações de comunicação nas quais o cidadão deseja externar alguma injustiça, insatisfação, algo que julgue ser impróprio ou errado; e, ainda, solicitar uma resolução para seu problema. Enfim, a carta de reclamação é usada quando o cidadão se sente lesado ou desrespeitado em seus direitos, ou injustiçado ou discri- minado socialmente. É um gênero que leva a uma forma de exercer a cidadania, e é por esse motivo que vamos chamá-la de gênero da cidadania. As empresas, quase todas, possuem um serviço de atendimento ao cliente (SAC). Por meio dele o con- sumidor (o cidadão, antes de tudo) tem contato direto com a empresa, ao ligar para ela e relatar seu problema ou uma eventual insatisfação. Como quase ninguém hoje em dia escreve cartas (aquelas pos- tadas numa agência dos Correios), o mais comum é o envio de um e-mail. Vamos conhecer um pouco melhor esse documento (a tal carta): 6 CARTA DE RECLAMAÇÃO Intenções principais Fazer uma reclamação ou solicitação; criticar. Publicação Revistas ou jornais (impressos ou on-line); sites; plataformas de reclamação. Leitores Leitores do jornal ou revista; internautas; público em geral. Organização Introdução, exposição do (s) problema (s). Argumentos para justificar a reclamação. Nome do reme- tente. Pode ser escrita em 1ª ou 3ª pessoa. Despedida. Nome completo. Linguagem Informal ou formal, dependendo do autor, do interlocutor e do tipo de publicação. Outras lições importantes (bem resumidas...) Voz verbal indica se o sujeito pratica a ação - voz ativa (ex.: o gorila comeu a banana); se recebeu/so- freu a ação - voz passiva (ex: a banana foi comida pelo gorila) ou se o sujeito pratica e sofre a ação ao mesmo tempo - voz reflexiva (ex.: o gorila cortou-se). Quanto à concordância, temos a verbal e a nominal. Na verbal, o verbo adapta-se em número (singular/ plural) e pessoa (masculino/feminino) conforme o sujeito. Exemplos: Não faltam pessoas boas para aju- dar. Rir e chorar fazem parte da vida. Ela é uma das que mais estudam. Na nominal, os determinantes (adjetivos, artigos, numerais e pronomes) ajustam-se em número e gênero ao determinado (substanti- vo) a que se referem. Exemplos: O ipê cobre-se de flores amarelas. Vi ancorados na baía os navios da empresa. Deixe bem fechadas a porta e as janelas. A transitividade verbal diz respeito à necessidade (ou não) de complemento ao verbo. Verbos intransi- tivos têm sentido completo; dispensam complemento.(Ex.: Nossas encomendas chegaram). Os verbos transitivos podem ser diretos, quando necessita de complemento, mas não iniciado por uma preposi- ção. Ex.: Alguns turistas fotografavam o mar. Já os transitivos indiretos exigem complemento, iniciado por preposição. Ex.: O motorista desconfiou de nossa conversa. Quanto aos termos de uma oração, podem ser essenciais (sujeito e predicado) ou acessórios (objeto direto, objeto indireto, complemento nominal e agente da passiva). 7 ATIVIDADES Leia o texto para responder às questões. Belo Horizonte, 29 de julho de 2021. À Eletro Minas S/A Ref. Reclamação Antônio Araújo de Freitas, inscrito no CPF sob o nº 036.856.491-52, venho manifestar minha irre- signação acerca do processo de entrega do pedido nº 25463-8 (Uma televisão Samsung), realizado no dia 04 de abril de 2021. Ocorre que a entrega do mesmo estava prevista para o dia 17 de abril de 2021 e até o momento, passados mais de 2 meses deste prazo, ainda não o recebi. Portanto,informoquecasoopedidonãosejaentregueatéodia02deagostode2021,considerarei a compra cancelada por inadimplência do vendedor, solicitando desde já a restituição dos valores pagos. Aguardo uma resposta para esta reclamação. Att, Antônio Medeiros de Assis (Obs.: dados pessoais fictícios) 1 - Qual a finalidade do texto? a) Cobrar soluções para uma problemática surgida. b) Realizar críticas sobre uma determinada empresa. c) Apresentar argumentos e opinião sobre um fato. d) Narrar sobre um acontecimento desastroso. 2 - Localize as seguintes informações no texto: a) Para quem é dirigida a carta? b) Quem é o responsável pela reclamação? c) O que gerou a elaboração e envio da carta? 8 3 - No trecho: “... venho manifestar minha irresignação...”, a palavra destacada significa: a) devolução. b) compensação. c) explicação. d) descontentamento. 4 - A utilização dos parênteses no termo “(Uma televisão Samsung)” foi usada para: a) realizar uma citação de outra pessoa. b) apresentar uma informação oposta. c) esclarecer uma informação ao leitor. d) delimitar a fala do reclamante 5-Qualfoioargumentoutilizadopeloremetenteparamostraràempresaquesuainsatisfaçãorealmente é fundamentada em fatos? 6 - No trecho: “... ainda não o recebi.”, o pronome destacado refere-se: a) à data. b) ao produto. c) ao prazo. d) à entrega. 7 - No trecho: “Portanto, informo que...”, a palavra destacada introduz uma: a) explicação. b) adição. c) consequência. d) conclusão. 9 8 - Segundo o texto: a) Antônio está decidido em não aceitar mais o produto comprado. b) Apesar do desgosto, Antônio proporciona uma oportunidade à loja. c) A loja se prontificou a entregar o produto ao consumidor. d) Antônio fará a devolução do dinheiro, caso não receba o produto. 9 - Antônio começa seu texto com o verbo em qual voz? Justifique. REFERÊNCIA CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 39ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1996. 10 SEMANA 3 PRÁTICAS DE LINGUAGEM: Leitura e produção de texto. OBJETO (S) DE CONHECIMENTO: Construção da textualidade. HABILIDADES: (EF89LP35) Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos, narrati- vas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos (...) CONTEÚDOS RELACIONADOS: Produção de crônica. Construção da textualidade. INTERDISCIPLINARIDADE: História. TEMA: Gênero Crônica A crônica é um gênero que se popularizou no Brasil. Misturando ação narrativa, comentário do cotidiano, lirismo e humor, muitas crônicas brasileiras permanecem interessantes e atuais até muito tempo depois de terem sido publicadas em jornais diários, seu principal suporte. Nesta aula, você vai conhecer melhor esse gênero situado entre o jornalismo e o literário, e depois será sua vez de produzir uma crônica. BREVE APRESENTAÇÃO A palavra crônica vem do latim chronica; significa originalmente “registro de histórias, segundo a ordem em que se sucedem no tempo”. No século XIX, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal de Débats, publicado em Paris. Esses textos comentavam, de forma crítica e irônica, os fatos ocorridos durante a semana. O cotidiano é presença fundamental na crônica. É a partir dele que esse gênero desenvolve a análise, a reflexão, o comentário ligeiro, a narração, a composição de retratos (descrição de pessoas) etc., de modo a levar o leitor (a leitora) a se divertir, a refletir ou a se emocionar. Embora esta não seja uma característica de todos os textos do gênero, muitas crônicas contam uma história (aproximando-se, portanto, do gênero conto). Quando isso acontece, é possível identificar os elementos básicos de uma narrativa: enredo, tempo, espaço, personagens e narrador. Em muitos casos, a crônica utiliza a metalingugem: fala sobre si mesma, sobre a escrita e a observação do cronista, sobre a escolha de palavras e a necessidade de ter ideias: enfim, sobre tudo o que envolve a produção desse gênero textual. A crônica, justamente por ter o cotidiano como principal fonte temática, revela aspectos da sociedade na qual se insere a situação narrada. Muitas crônicas tratam diretamente de temas sociais como a de- 11 sigualdade, o preconceito e as relações de trabalho. Outras comentam os acontecimentos políticos ou os hábitos sociais. PARA SABER MAIS: O escritor e jornalista mineiro Fernando Sabino é considerado um dos mais importantes cronistas do país, ao lado de Paulo Mendes Campos e de Rubem Braga. Suas principais obras foram O encontro mar- cado, o homem nu, O menino no espelho e o grande mentecapto; este último rendeu ao escritor o Prê- mio Jabuti. “A última crônica na telinha” Essa crônica ganhou várias versões em vídeo. Dentre elas, destaca-se a dirigida por Jorge Monclar. Ao fazer uma releitura da crônica, o vídeo introduz elementos característicos da vida nas grandes cidades. Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2021. Vale também conferir esta outra versão, de Magno Marconi, Mariana de Almeida e Rafaela Siquara: Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2021. ATIVIDADES A crônica a seguir foi escrita por Fernando Sabino (1923-2004) e publicada no livro A companheira de viagem, de 1965. Leia-a com atenção para responder às questões. A última crônica A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. Ao fundo do botequim, um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tra- dicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome. Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. 12 A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualqu...