Pode-se considerar como uma característica importante dessa revolução

A Revolução Industrial foi considerada pelos historiadores como um período de grande avanço tecnológico, que ocorreu na segunda metade do século XVIII e que permitiu o desenvolvimento da indústria moderna. Esse desenvolvimento ocasionou severas transformações no processo produtivo (a maquinofatura substituiu a manufatura) e nas relações de trabalho, alteradas com a proletarização do trabalhador.

O processo de Revolução Industrial aconteceu de maneira pioneira na Inglaterra. De sua primeira fase, destaca-se o uso da máquina a vapor, construída inicialmente por Thomas Newcomen em 1698 e aperfeiçoada por James Watt em 1765. Watt conseguiu fazer com que o desperdício de energia da máquina fosse reduzido, e isso melhorou o desempenho do maquinário.

Além disso, nesse período, houve o desenvolvimento de máquinas voltadas para as indústrias têxteis. O grande destaque foi a water frame, criada por Richard Arkwright, máquina que tecia fios de algodão utilizando-se da força motriz da água. Essa criação de Arkwright permitiu que fossem produzidos tecidos em uma velocidade muito superior em comparação com a manufatura.

Por fim, o desenvolvimento da máquina a vapor possibilitou o crescimento das ferrovias, que foram construídas em enorme velocidade pela Inglaterra, a partir das décadas de 1830 e 1840. Além de encurtarem as distâncias, as ferrovias também permitiram que as mercadorias fossem transportadas em maior quantidade e maior velocidade.

A Revolução Industrial gerou ainda transformações profundas na produção de mercadorias com a substituição do modo de produção manufatureiro pelo da maquinofatura. Antes da industrialização, a produção de vestuário, por exemplo, era realizada em oficinas de artesãos conhecidas como manufaturas. Essas oficinas agrupavam trabalhadores especializados que conheciam todo o processo de produção e que o realizavam manualmente.

Esse processo, no entanto, era lento, pois estava sujeito às limitações do trabalho humano e também demandava uma melhor remuneração, uma vez que o trabalhador deveria ser especializado nessa atividade. Com o desenvolvimento das máquinas, o grosso da produção passou a ser realizado por elas, ou seja, não se fez mais necessário o trabalhador especializado, pois a máquina poderia ser manejada por uma mão de obra menos qualificada.

Isso gerou um aumento na produção, pois as máquinas produziam muito mais, e a grande disponibilidade de mão de obra – uma vez que qualquer um poderia realizar esse trabalho – resultou na desvalorização do trabalhador (o resultado prático disso foi a diminuição salarial). O historiador Hobsbawm exemplifica isso ao afirmar que o salário médio de um tecelão na cidade de Bolton, em 1795, era 33 xelins e, entre 1829 e 1834, esse salário foi reduzido para aproximadamente 5 e 6 xelins|1|.

Além disso, esse trabalhador foi obrigado a aceitar uma jornada de trabalho extenuante que, em muitos casos, estendia-se por 16 horas por dia, com uma pausa de 30 minutos para o almoço. Não havia nenhum tipo de segurança no trabalho e, por isso, os acidentes eram comuns. Os trabalhadores que se acidentavam não recebiam pagamento dos patrões durante o tempo em que estivessem afastados.

Essa precarização – ou proletarização – contribuiu para o fortalecimento das organizações de trabalhadores, conhecidas no inglês como trade union. A precariedade do trabalho fez com que os trabalhadores, ao longo do século XIX, exigissem melhores condições de trabalho, como jornada reduzida e melhores salários.

Os dois grandes movimentos trabalhistas existentes na Inglaterra durante o século XIX foram o ludista e o cartista. Os ludistas atuaram no período de 1811-1816, e sua ação consistia em invadir fábricas para destruir o maquinário industrial. Os trabalhadores desse movimento afirmavam que as máquinas estavam roubando o emprego dos homens e, por isso, deveriam ser destruídas. Como seus integrantes foram intensamente perseguidos pelas autoridades britânicas, o movimento dos ludistas acabou enfraquecendo-se.

Além de melhores condições para os trabalhadores, o movimento cartista, surgido na década de 1830, exigia direitos políticos, até então negados ao proletário. Os cartistas reivindicavam, por exemplo, o direito ao sufrágio universal masculino, ou seja, que todos os homens a partir de certa idade tivessem direito ao voto. Eles também demandavam representação para sua classe no parlamento inglês.

A pressão dos movimentos trabalhistas, principalmente a partir da greve, possibilitou que os trabalhadores tivessem acesso a melhorias, como a limitação da carga de trabalho a 10 horas por dia. Eric Hobsbawm aponta, no entanto, que o fortalecimento dos movimentos trabalhistas não foi apenas uma reação natural dos trabalhadores contra a exploração, pois esses movimentos já existiam na Inglaterra desde antes da Revolução Industrial e ganharam impulso com a inspiração dada pela mobilização popular da Revolução Francesa|2|.

Por que a Inglaterra foi a pioneira no desenvolvimento industrial?

A Revolução Industrial, isto é, o boom de desenvolvimento tecnológico e o surgimento da indústria moderna, aconteceu de maneira pioneira na Inglaterra, e depois espalhou-se por outras partes do mundo, por causa, em parte, do acaso (riqueza em carvão mineral) e dos eventos políticos que criaram as suas condições ideais (estabelecimento da burguesia inglesa).

O primeiro fator levantado pelos historiadores para explicar o pioneirismo da Inglaterra na industrialização foi o estabelecimento da burguesia, ocorrido nesse país no final do século XVII. Em 1688, aconteceu a Revolução Gloriosa que marcou o fim definitivo do absolutismo monárquico na Inglaterra. Com isso, os poderes do rei foram limitados, e o parlamento – composto em grande parte por burgueses – fortaleceu-se, o que possibilitou que medidas em benefício dessa burguesia pudessem ser tomadas.

O segundo fator foram os cercamentos que se tornaram muito comuns na Inglaterra a partir do século XVI. Eles resultaram na expulsão dos camponeses das terras comuns – locais nos quais viviam da produção de subsistência – para transformá-las em pasto para a criação de ovelhas. Essa expulsão dos trabalhadores criou uma grande disponibilidade de mão de obra barata para as indústrias dos burgueses.

Além disso, o desenvolvimento tecnológico somente foi possível graças à existência de uma intensa troca de ideias que existia na Inglaterra. Esse forte intelectualismo criou o clima para que houvesse inovações – a grande consequência disso foi a invenção das máquinas. Os historiadores também apontam que a existência de capital acumulado permitiu aos burgueses investirem no desenvolvimento dessas máquinas e na construção das indústrias.

Por fim, o desenvolvimento industrial deveu-se também à existência de carvão mineral em grande quantidade na Inglaterra. As reservas de carvão eram extremamente importantes, uma vez que a grande invenção da época – a máquina a vapor – funcionava utilizando essa matéria-prima como combustível.

|1| HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014, p. 79.
|2| Idem, p. 326-327.

Por Daniel Neves
Graduado em História

A Revolução Industrial foi o período de grande desenvolvimento tecnológico que teve início na Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII e que se espalhou pelo mundo, causando grandes transformações. Ela garantiu o surgimento da indústria e consolidou o processo de formação do capitalismo.

O nascimento da indústria causou grandes transformações na economia mundial, assim como no estilo de vida da humanidade, uma vez que acelerou a produção de mercadorias e a exploração dos recursos da natureza. Além disso, foi responsável por grandes transformações no processo produtivo e nas relações de trabalho.

A Revolução Industrial foi iniciada de maneira pioneira na Inglaterra, a partir da segunda metade do século XVIII, e atribui-se esse pioneirismo aos ingleses pelo fato de que foi lá que surgiu a primeira máquina a vapor, em 1698, construída por Thomas Newcomen e aperfeiçoada por James Watt, em 1765. O historiador Eric Hobsbawm, inclusive, acredita que a Revolução Industrial só foi iniciada de fato na década de 1780|1|.

Pode-se considerar como uma característica importante dessa revolução

Uma das principais invenções da Primeira Revolução Industrial foi a locomotiva a vapor.

O avanço tecnológico característico da Revolução Industrial permitiu um grande desenvolvimento de maquinário voltado para a produção têxtil, isto é, de roupas. Com isso, uma série de máquinas, como a “spinning Jenny”, “spinning frame”, “water frame” e a “spinning mule”, foram criadas para tecer fios. Com essas máquinas, era possível tecer uma quantidade de fios que manualmente exigiria a utilização de várias pessoas.

Posteriormente, no começo do século XIX, o desenvolvimento tecnológico foi utilizado na criação da locomotiva e das estradas de ferro, que, a partir da década de 1830, foram construídas por toda a Inglaterra. A construção das estradas de ferro contribuiu para ampliar o crescimento industrial, uma vez que diminuiu as distâncias, ao tornar as viagens mais curtas, e ampliou a capacidade de locomoção de mercadorias.

O desenvolvimento das estradas de ferro aproveitou aprosperidade da indústria inglesa, uma vez que os financiadores de sua construção foram exatamente os capitalistas que prosperaram na Revolução Industrial. Isso porque a indústria inglesa não conseguia absorver todo o excedente de capital, fazendo com que os investimentos nas estradas de ferro acontecessem.

Acesse também: Revolução Francesa — acontecimento também do séc. XVIII que foi um marco na história da humanidade

Resumo sobre a Revolução Industrial

  • A Inglaterra foi a nação pioneira no desenvolvimento industrial e tecnológico no mundo.

  • Por meio da Revolução Industrial, o capitalismo consolidou-se como sistema econômico vigente.

  • O desenvolvimento da máquina a vapor é considerado como o ponto de partida da Revolução Industrial.

  • Causou profundas transformações no modo de produção e também nas relações entre patrão e trabalhador.

  • Durante o auge da Revolução Industrial, os trabalhadores ingleses recebiam salários baixíssimos e eram obrigados a suportar uma longa jornada de trabalho.

  • A intensa exploração do trabalho do proletário fez com que os trabalhadores organizassem-se em sindicatos.

  • Dois movimentos de trabalhadores foram muito importantes no século XIX: o ludismo e o cartismo.

  • A Revolução Industrial aconteceu de maneira pioneira na Inglaterra por uma junção de fatores, que englobam as grandes reservas de carvão do país, os cercamentos, o excedente de capital existente no país etc.

  • As transformações econômicas, sociais e tecnológicas proporcionadas pela Revolução Industrial dividem-se em fases, segundo os avanços produtivos, no campo científico e em diversas outras áreas do setor econômico e industrial.

  • Pode-se dividir a Revolução Industrial em: Primeira Revolução Industrial, Segunda Revolução Industrial e Terceira Revolução Industrial.

  • Diversas foram as consequências da Revolução Industrial. Houve aumento da produtividade, mudança nas relações de trabalho, alterações no modo de vida e padrões de consumo da sociedade; alterou-se a relação entre o homem e a natureza, houve avanços em diversos campos do conhecimento, entre outras mudanças.

A Revolução Industrial também gerou grandes transformações no modo de produção de mercadorias. Antes do surgimento da indústria, a produção acontecia pelo modo de produção manufatureiro, isto é, um modo de produção manual que utilizava a capacidade artesanal daquele que produzia. Assim, a manufatura foi substituída pela maquinofatura.

Com a maquinofatura, não era mais necessária a utilização de vários trabalhadores especializados para produzir uma mercadoria, pois uma pessoa manuseando as máquinas conseguiria fazer todo o processo sozinha. Com isso, o salário do trabalhador despencou, uma vez que não eram mais necessários funcionários com habilidades manuais.

Isso é evidenciado pela estatística trazida por Eric Hobsbawm que mostra como o salário do trabalhador inglês caiu com o surgimento da indústria. O exemplo levantado foi Bolton, cidade no oeste da Inglaterra. Lá, em 1795, um artesão ganhava 33 xelins, mas, em 1815, o valor pago havia caído para 14 xelins e, entre 1829 e 1834, esse salário havia despencado para quase 6 xelins |2|. Percebemos aqui uma queda brusca no salário e esse processo deu-se em toda a Inglaterra.

Além do baixo salário, os trabalhadores eram obrigados a lidar com uma carga de trabalho extenuante. Nas indústrias inglesas do período da Revolução Industrial, a jornada diária de trabalho costumava ser de até 16 horas com apenas 30 minutos de pausa para o almoço. Os trabalhadores que não aguentassem a jornada eram sumariamente substituídos por outros.

Não havia nenhum tipo de segurança para os trabalhadores e constantemente acidentes aconteciam. O acidente mais comum era quando os trabalhadores tinham seus dedos presos na máquina, e muitos os perdiam. Os trabalhadores que se afastavam por problemas de saúde poderiam ser demitidos e não receberiam seu salário. Só eram pagos os funcionários que trabalhavam efetivamente.

Essa situação degradante fez com que os trabalhadores mobilizassem-se pouco a pouco contra seus patrões. Isso levou à criação das organizações de trabalhadores (mais conhecidas no Brasil como sindicatos) e chamadas na Inglaterra de trade union. Os trabalhadores exigiam melhorias salariais e redução na jornada de trabalho.

Pode-se considerar como uma característica importante dessa revolução

Representação de uma revolta de trabalhadores do século XIX.

Dois grandes movimentos de trabalhadores surgiram dessas organizações foram o ludismo e o cartismo. O ludismo teve atuação destacada no período entre 1811 e 1816, e sua estratégia consistia em invadir as fábricas e destruir as máquinas. Isso acontecia porque os adeptos do ludismo afirmavam que as máquinas estavam roubando os empregos dos homens e, portanto, deveriam ser destruídas.

O movimento cartista, por sua vez, surgiu na década de 1830 e lutava por direitos trabalhistas e políticos para a classe de trabalhadores da Inglaterra. Uma das principais exigências dos cartistas era o sufrágio universal masculino, isto é, o direito de que todos os homens pudessem votar. Os cartistas também exigiam que sua classe tivesse representatividade no Parlamento inglês.

A mobilização de trabalhadores resultou em algumas melhorias ao longo do século XIX. A pressão exercida pelos trabalhadores dava-se, principalmente, por meio de greve. Uma das melhorias mais sensíveis conquistadas pelos trabalhadores foi a redução da jornada de trabalho para 10 horas diárias, por exemplo.

A mobilização de trabalhadores enquanto classe, isto é, pobres (proletários), não foi um fenômeno que surgiu especificamente por causa da Revolução Industrial. Nas palavras de Eric Hobsbawm, o enfrentamento dos patrões pelos trabalhadores aconteceu, porque a Revolução Francesa deu-lhes confiança para isso, enquanto“a Revolução Industrial trouxe a necessidade de mobilização permanente”|3|.

Leia também: Proletariado — a classe de trabalhadores sem meios próprios de subsistência

Por que a Revolução Industrial aconteceu primeiro na Inglaterra?

A Revolução Industrial despontou pioneiramente, na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra e gradativamente foi espalhando-se pela Europa e, em seguida para todo o mundo. Mas por que necessariamente isso ocorreu na Inglaterra? A resposta para isso é encontrada um pouco no acaso e um pouco na própria história inglesa.

Primeiramente, é importante estabelecer que o desenvolvimento tecnológico e industrial na Inglaterra foi possível, porque a burguesia estabeleceu-se como classe e garantiu o desenvolvimento da economia inglesa na direção do capitalismo. Isso aconteceu no século XVII, com a Revolução Gloriosa.

A Revolução Gloriosa aconteceu em 1688 e consolidou o fim da monarquia absolutista na Inglaterra (que já vinha enfraquecida desde a Revolução Puritana, na década de 1640). Com isso, a Inglaterra transformou-se em uma monarquia constitucional parlamentarista, na qual o poder do rei não estava acima do Parlamento e nem da Constituição, no caso da Inglaterra da Declaração de Direitos – Bill of Rights.

Assim, a burguesia conseguiu consolidar-se enquanto classe e governar de maneira a atender aos seus interesses econômicos. Um acontecimento fundamental para o desenvolvimento do comércio inglês ocorreu no meio das duas revoluções do século XVII, citadas acima. Em 1651, Oliver Cromwell decretou os Atos de Navegação, lei que decretava que mercadorias compradas ou vendidas pela Inglaterra somente seriam transportadas por embarcações inglesas.

Essa lei foi fundamental, pois protegeu o comércio, enfraqueceu a concorrência dos ingleses e garantiu que os navios ingleses controlassem as rotas comerciais marítimas. Isso enriqueceu a burguesia inglesa e permitiu-lhes acumular capital. Esse capital foi utilizado no desenvolvimento de máquinas e na instalação das indústrias.

Mas não bastava somente excedente de capital para garantir o desenvolvimento industrial. Eram necessários trabalhadores, e a Inglaterra do século XVIII tinha mão de obra excedente. Isso está relacionado com os cercamentos que aconteciam na Inglaterra e que se intensificaram a partir do século XVII.

Os cercamentos aconteciam por força da Lei dos Cercamentos (Enclosure Acts), lei inglesa que permitia que as terras comuns fossem cercadas e transformadas em pasto. As terras comuns eram parte do sistema feudal, que estipulava determinadas áreas para serem ocupadas e cultivadas pelos camponeses.

Com os cercamentos, os camponeses que habitavam essas terras foram expulsos, e as terras foram transformadas em pasto para a criação de ovelhas. A criação de ovelhas era o que fornecia a lã utilizada em larga escala na produção têxtil do país. Os camponeses expulsos de suas terras e sem ter para onde ir mudaram-se para as grandes cidades.

Sem nenhum tipo de qualificação, esses camponeses viram-se obrigados a trabalhar nos únicos locais que forneciam empregos – as indústrias. Assim, as indústrias que se desenvolviam na Inglaterra tinham mão de obra excedente. Isso garantia aos patrões poder de barganha, pois poderiam forçar os trabalhadores a aceitarem salários de fome por uma jornada diária exaustiva.

A adesão dos trabalhadores às indústrias ocorreu de maneira massiva também por uma lei inglesa que proibia as pessoas de “vadiagem”. Assim, pessoas que fossem pegas vagando pelas ruas sem emprego poderiam ser punidas com castigos físicos e até mesmo com a morte, caso fossem reincidentes.

Por último, destaca-se que o acaso e o fortuito também contribuíram para que a Inglaterra despontasse pioneiramente. O desenvolvimento das máquinas e das indústrias apenas ocorreu, porque a Inglaterra tinha grandes reservas dos dois materiais essenciais para isso: o carvão e o ferro. Com reservas de carvão e ferro abundantes, a Inglaterra pôde desenvolver sua indústria desenfreadamente.

Acesse também: Fases do capitalismo — quais são e suas características

Fases da Revolução Industrial

A Revolução Industrial corresponde às modificações econômicas e tecnológicas que consolidaram o sistema capitalista e permitiram o surgimento de novas formas de organização da sociedade. As transformações tecnológicas, econômicas e sociais vividas na Europa Ocidental, inicialmente limitadas à Inglaterra, em meados do século XVIII, tiveram diversos desdobramentos, os quais podemos chamar de fases. Essas fases correspondem ao processo evolutivo das tecnologias desenvolvidas e as consequentes mudanças socioeconômicas. São elas:

  • Primeira Revolução Industrial;
  • Segunda Revolução Industrial;
  • Terceira Revolução Industrial. 

→ Primeira Revolução Industrial

A Primeira Revolução Industrial refere-se ao processo de evolução tecnológica vivido a partir do século XVIII na Europa Ocidental, entre 1760 e 1850, estabelecendo uma nova relação entre a sociedade e o meio, bem como possibilitando a existência de novas formas de produção que transformaram o setor industrial, dando início a um novo padrão de consumo. Essa fase é marcada especialmente pela:

  • substituição da energia produzida pelo homem por energias como a vapor, eólica e hidráulica;
  • substituição da produção artesanal (manufatura) pela indústria (maquinofatura);
  • existência de novas relações de trabalho.

As principais invenções dessa fase que modificaram todo o cenário vivido na época foram:

  • a utilização do carvão como fonte de energia;
  • o consequente desenvolvimento da máquina a vapor e da locomotiva;
  • desenvolvimento do telégrafo, um dos primeiros meios de comunicação quase instantânea.

A produção modificou-se, diminuindo o tempo e aumentando a produtividade; as invenções possibilitaram o melhor escoamento de matérias-primas, bem como de consumidores, e também favoreceram a distribuição dos bens produzidos.

→ Segunda Revolução Industrial

Pode-se considerar como uma característica importante dessa revolução

O petróleo passou a ser utilizado na Segunda Revolução Industrial como fonte de energia para o motor à combustão.

A Segunda Revolução Industrial refere-se ao período entre a segunda metade do século XIX até meados do século XX, tendo seu fim durante a Segunda Guerra Mundial. A industrialização avançou os limites geográficos da Europa Ocidental, espalhando-se por países como Estados Unidos, Japão e demais países da Europa.

Compreende a fase de avanços tecnológicos ainda maiores que os vivenciados na primeira fase, bem como o aperfeiçoamento de tecnologias já existentes. O mundo pôde vivenciar diversas novas criações, que aumentaram ainda mais a produtividade e consequentemente os lucros das indústrias. Houve nesse período, também, grande incentivo às pesquisas, especialmente no campo da medicina.

As principais invenções dessa fase estão associadas ao uso do petróleo como fonte de energia, utilizado na nova invenção: o motor à combustão. A eletricidade, que antes era utilizada apenas para desenvolvimento de pesquisas em laboratórios, nesse período, começou a ser usada para o funcionamento de motores, com destaque para os motores elétricos e à explosão. O ferro, que antes era largamente utilizado, passou a ser substituído pelo aço.

→ Terceira Revolução Industrial

A Terceira Revolução Industrial ficou conhecida como Revolução Tecnocientífica, especialmente pelo desenvolvimento da robótica.

A Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Tecnocientífica, iniciou-se na metade do século XX, após a Segunda Guerra Mundial. Essa fase representa uma revolução não só no setor industrial, visto que passou a relacionar não só o desenvolvimento tecnológico voltado ao processo produtivo, mas também ao avanço científico, deixando de limitar-se a apenas alguns países e espalhando-se por todo o mundo.

As transformações possibilitadas pelos avanços tecnocientíficos são vivenciadas até os dias atuais, e cada nova descoberta representa um novo patamar alcançado dentro dessa fase da revolução, consolidando o que ficou conhecido como capitalismo financeiro. A introdução da biotecnologia, robótica, avanços na área da genética, telecomunicações, eletrônica, transporte, entre outras áreas, transformaram não só a produção, como também as relações sociais, o modo de vida da sociedade e o espaço geográfico.

Todo esse desenvolvimento proporcionado pelos avanços obtidas nas diversas áreas científicas relacionam-se ao que chamamos de globalização: tudo converge para a diminuição do tempo e das distâncias, ligando pessoas, lugares, transmitindo informações instantaneamente, superando, então, os desafios e obstáculos que permeiam a localização geográfica, as diferenças culturais, físicas e sociais.

Consequências

De um modo geral, a Revolução Industrial transformou não só o setor econômico e industrial, como também as relações sociais, as relações entre o homem e a natureza, provocando alterações no modo de vida das pessoas, nos padrões de consumo e no meio ambiente. Cada fase da revolução representou diferentes transformações e consequências mediante os avanços obtidos em cada período.

A Primeira Revolução Industrial representou uma nova organização no modo capitalista. Nesse período houve um aumento significativo de indústrias, bem como o aumento significativo da produtividade (produção em menor tempo). O homem, ao ser substituído pela máquina, saiu da zona rural para ir para as cidades em busca de novas oportunidades, dando início ao processo de urbanização.

Esse processo culminou no crescimento desenfreado das cidades, na marginalização de boa parte da população, bem como em problemas de ordem social, como miséria, violência, fome. Nessa fase, também, a sociedade organizou-se em dois polos: de um lado a burguesia e do outro o proletariado.

A Segunda Revolução Industrial teve como principais consequências, mediante o maior avanço tecnológico, o aumento da produção em massa em bem menos tempo, consequentemente o aumento do comércio e modificação nos padrões de consumo; muitos países passaram a se industrializar, especialmente os mais ricos, dominando, então, economicamente diversos outros países (expansão territorial e exploração de matéria-prima).

O avanço nos transportes possibilitou maior e melhor escoamento de mercadorias e trânsito de pessoas; surgiram as grandes cidades e com elas também os problemas como superpopulação; aumento das doenças; desemprego e aumento da mão de obra barata e novas relações de trabalho.

A Terceira Revolução Industrial e a nova integração entre ciência, tecnologia e produção possibilitaram avanços na medicina; a invenção de robôs capazes de fazer trabalho extremamente minucioso e preciso; houve avanços na área da genética, trazendo novas técnicas que melhoraram a qualidade de vida das pessoas; bem como diminuição das distâncias entre os povos e a maior difusão de notícias e informações por meio de novos meios de comunicação; o capitalismo financeiro consolidou-se e houve aumento do número de empresas multinacionais.

E não menos importante, todas essas transformações possibilitadas pela Revolução Industrial como um todo transformaram o modo como o homem relaciona-se com o meio. A apropriação dos recursos naturais para viabilizar as produções e os avanços tecnocientíficos tem causado grande impacto ambiental.

Atualmente, as alterações provocadas no meio ambiente têm sido amplamente discutidas pelas comunidades internacionais, órgãos e entidades, que expressam a importância de mudar o modelo de desenvolvimento econômico que explora os recursos naturais sem pensar nas gerações futuras.

Notas

|1| HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014, p. 59.
|2| Idem, p. 79.
|3| Idem, p. 326-327.

Por Daniel Neves
Graduado em História

e

Rafaela Sousa
Graduada em Geografia