Por que e proibido pisar na grama

https://www.youtube.com/watch?v=MSpq7pB1p-Q

Lá vai deitar o proletário após um dia de trabalho.

Cansado.

Sem dinheiro.

Cheio dos problemas (financeiros, sentimentais, de saúde e outros e outros e outros inúmeros problemas).

Mas agora, deitado neste colchão que comprei daquele cara que usa jaleco branco e que falava cheio de propriedade sobre o sono (que mané médico, foi o cara da Ortobom), é hora de esquecer de tudo e dormir por exatas cinco horas e quarenta e sete minutos.

Dormir? Talvez. Relaxar? Nem tanto.

Não dá pra relaxar quando, ao colocar a cabeça no travesseiro acabo lembrando que amanhã (ou depois, sempre esqueço) vence a fatura de um dos cartões. Então é preciso torcer para o salário sair amanhã (ou depois, porque é uma porcaria calcular ao certo quando é o décimo dia útil do mês, ainda mais com sono).

Não posso esquecer de levar o pote que minha mãe me emprestou pra eu poder trazer aquele almoço de domingo. Já estamos entrando na quinta-feira e o meu almoço é o mesmo desde então. Pote este que, se não entrego para minha mãe no prazo de uma semana, ela me deserda. Pessoal da velha guarda tem uma paixão pela Tupperware como eu e meus amigos tínhamos pelas chuteiras da Nike nos anos noventa, início dos dois mil. Impressionante.

Preciso mandar um zap praquele meu primo. Ando preocupado com o sumiço dele. Em falar em zap, preciso apagar aquela cacetada de mensagens de “bom dia/boa tarde/boa noite/negão do zap/video de gato/gifs da Grechen/fake news aleatórias envolvendo o filho do Lula e/ou a Pablo Vittar” que a galera sai mandando feito Rambo atirando nos vietcongue e que deixa meu celular, já combalido, mais pesado que proibidão do Catra. Ok, deixo os vídeos de gatinho pra eu mostrar amanhã pra patroa. A gente se diverte com os bichinhos — mas depois eu apago. Em falar em gato, seriam eles extraterrestres? A conferir. Mas, sério. Os bichos são tão alheios a esse mundo que parecem… De outro mundo.

Pensando em coisas que não são desse mundo, não posso deixar de conferir o som novo do Emicida. Se não fosse tão tarde eu ia escutar amarradão, no último volume, pra assustar essa “gente de bem” que é minha vizinha — roubar sua carteira é parada de amador, eu roubo sua cadeira na faculdade, fidumaégua! -. Em falar em Emicida, o que será que o cara anda lendo? Altas referências desde sempre. Preciso escrever sobre isso. Eu disse escrever? Opa, mais uma ideia para eu colocar naquela lista de ideias de texto. São 29 ideias agora.

Mas ideia boa mesmo eu preciso pra ganhar dinheiro. Ganhar dinheiro e fazer a revolução. O que vier primeiro. E se eu ganhasse na mega-sena? Só falta jogar. É só pensar em jogo que lembro daquela desgraça que amo, o Vasco. Joga desfalcado domingo. Lateral esquerdo improvisado. Lá vou eu assistir e sofrer mesmo assim. Mas sofrimento mesmo é corrigir prova. Daqui a pouco tá chegando época de avaliação e vou perder o pagode no Engenhão de novo porque preciso entregar nota. Nota. Notar. Será que a patroa cortou o cabelo e não percebi? Coitada. Que marido mais distraído ela tem. Se eu fosse ela, já tinha dado no pé faz tempo!

E o tempo, hein? Amanhã deve fazer sol. Não sei porque insisto em levar casaco e guarda-chuva na mochila. Nem vascaíno sou direito, vou ser supersticioso? Vem cá, será que Jorge Ben tem supertição até com os acordes que ele usa nas músicas? Quase sempre é Mi menor, Dó, Ré, fica nessa, variando um pouco aqui e ali. Lembro até daquele show que eu fui, ele emendou uma música na outra por quarenta minutos. E ele só tava começando! Acho que uma das poucas que lembro que foge um pouco disso é aquela “Porque É Proibido Pisar na Grama”. Linda música. Acho que ele não chegou a tocar essa música. Ou tocou? Quem tava comigo nesse show? Preciso saber disso, se ele tocou ou não e quem tava comigo. Não necessariamente nessa ordem. Mas o engraçado dessa música é que ela parece até aquele amontoado de ideias que vem na cabeça antes de dormir. Mais engraçado ainda é que ele começa a música falando “ Acordei com uma vontade de saber como eu ia /e como ia meu mundo”. Essa música é de quem tá quase dormindo e tá com a cabeça com um monte de ideias, não de quem tá acordando. E acordando tenho ideia? Quero é dormir de novo, essa é a única ideia! Loucura. Não sei porque lembrei dela agora. Deve ser porque eu queria fazer um texto falando sobre esses pensamentos. Era isso? Acho que era. Sei lá. Vou anotar também. Amanhã.

Faltam apenas cinco horas e quarenta e cinco minutos para levantar, Flavio. Vai dormir, vai.