Qual a importância do estudo da anatomia e fisiologia humana

  1. 1. A importância da anatomia para profissionais da área de saúde A anatomia é a ciência que estuda, macro e microscopicamente a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados; sendoainda, uma disciplina da maior importância para as ciências da vida e da saúde. O ato de ministrar aulas de Anatomia Humanaé maior que o conjunto de estruturas biológicas que compõem o corpo humano. Através dos séculos, o estudo da anatomia não foi só mesclado com imposições da Igreja mas também com o fato dos cadáveres se deteriorarem facilmente e não haver um método de conservação, usando-se, assim, cadáveres frescos conservados por meio de divisões seqüenciais das camadas de músculo e da remoção deestruturas e da aprendizagem da anatomia por experiências visuais e táteis. Nosso conhecimento de informação anatômica tem sido grandemente aumentado através de novos e requintados métodos técnicos. O produto mais usado universalmente para conservação dos cadáveres para estudo é o formol e entre suas principais aplicações está oembalsamamento de peças anatômicas. A dissecação fornece ao estudante conhecimento direto no cadáver que o habilita a conhecer a anatomia do vivente. A análise do cadáver é extrapolada para o conhecimento do vivente, no todo e em suas partes, porém, os líquidos fixadores e embalsamadores, em variados graus, modificam o aspecto normal do corpo e dos órgãos. Profissionais da área da saúde, técnicos de patologia e histologia, professores e estudantes que manuseiam espécimes preservados estão potencialmente em alto risco de exposição. Portanto, falar da importância da anatomia para estudantes e profissionais da área da saúde é falar da importância da base de um prédio para toda a construção.
  2. 2. domingo, 13 de dezembro de 2009 A importância do conhecimento da anatomia humana para os cursos da área de saúde. * Ricardo Souza. Para quem estuda ou pretende participar de um curso na área de saúde, seja ele de nível técnico ou superior a disciplina de anatomia humana é uma ferramenta de fundamental importância e até posso dizer que a considero como a ciência mãe dessa área. Anatomia humana parece ser um desafio para muitos – digo mais: parece não, é um desafio real! - principalmente para aqueles que estão iniciando seus estudos na área da saúde, mas se for estudada de forma organizada e sistematizada, torna-se uma situação otimizada tanto para o docente ministrante da disciplina quanto para o aluno, principalmente quando relacionada a situações práticas como visitas aos laboratórios de anatomia ou aos necrotérios. Nos laboratórios temos os manequins e peças anatômicas, réplicas das partes do corpo humano ou mesmo partes reais em soluções conservantes; no necrotério, cadáveres para práticas de dissecação e estudo mais aprofundado. Vale lembrar que é sempre bom termos um atlas de anatomia humana em mãos, pois eles trazem muitas informações sobre o conhecimento geral da maioria das estruturas do corpo humano. Alguns deles são bem mais específicos e completos, com uma grande quantidade de informações detalhadas mostradas em fotografias ou ilustrações feitas à mão por artistas treinados e outros mais simples por serem utilizados em situações que não exijam tanto aprofundamento em determinadas situações (os de conteúdo mais resumido). Até mesmo para uma simples aplicação de uma injeção intramuscular, devemos ter o conhecimento da área de interesse, pois dessa forma saberemos se poderemos possivelmente atingir alguma estrutura como um vaso samguíneo ou um nervo, por exemplo, e assim, evitar possíveis problemas em nossos procedimentos. Outro exemplo de situação em que o conhecimento da anatomia humana é importante aplica-se aos profissionais da imaginologia médica, como os
  3. 3. técnicos e tecnólogos em radiologia que precisam ter um conhecimento muito abrangente desta ciência para que eles possam atuar de forma precisa na localização de estruturas e na realização de exames radiológicos – costumo até brincar com meus alunos dizendo que eles devem falar anatomia fluentemente – o que não deixa de ser uma verdade que deve ser aceita por esses profissionais. Vamos mais adiante: todos nos concordamos que um acadêmico de medicina, enfermagem, fisioterapia e tantos outros estudantes mergulham fundo na disciplina com o intuito de dominar a anatomia e usá-la posteriormente como ferramenta principal nas suas atividades de trabalho cotidianas. Portanto, anatomia é considerada como um ramo das ciências biológicas que estuda a estrutura e a forma de células, tecidos, órgãos ou sistemas (LOPES, 1994, p 14.) e tenho certeza de que o grego Teofrasto (discípulo de Aristóteles) tido como o mais antigo relator de experiência com dissecação de cadáveres (WIKIPÉDIA.ORG, NOV. 2009.) ficaria feliz em saber que nos, os estudiosos da anatomia possuímos largo conhecimento do corpo humano, fruto de incansável pesquisa e dedicação. ___________________________ *Técnico em radiologia e chefe do serviço de diagnóstico por imagem do hospital do pronto-socorro municipal Mário Pinotti - Belém - PA, acadêmico de tecnologia em radiologia e Licenciado pleno em Biologia e professor das disciplinas anatomia humana e radiológica, posicionamento radiológico, técnicas contrastadas, especialização técnica em tomografia computadorizada, capacitação técnica em mamografia e ressonância magnética nuclear dos cursos ENFERTEC, DNA Radiologia, BIORAD E NEXTCURSOS e colaborador do CCIH (centro de controle de infecção hospitalar) - MP em Biossegurança do serviço de diagnóstico por imagem no ambiente hospitalar.
  4. 4. Importância Do Ensino Da Anatomia Humana Para A Formação Do Enfermeiro O estudo dos dados anatômicos é fundamental para possibilitar ao enfermeiro o reconhecimento dos órgãos do corpo humano, assim como, a morfologia, a localização, a função e a organização desses órgãos em sistemas. Na disciplina anatomia humana são abordados os sistemas tegumentar, esquelético, muscular, articular, circulatório, respiratório, digestório, urinário, genital masculino, genital feminino, endócrino e nervoso. Oferecendo desta forma subsídios para construção do conhecimento do profissional de enfermagem que o habilite a compreender a história e a nomenclatura anatômica, os planos corporais, os fatores de variação, bem como, estudo teórico e prático dos sistemas orgânicos, relacionando as principais patologias associadas a cada um desses sistemas. Contudo, os direcionamentos do ensino e da pesquisa em enfermagem precisam adquirir autonomia, possibilitando ao enfermeiro buscar a conciliação entre os novos conhecimentos adquiridos e as metodologias adotadas durante a graduação, visando uma melhoria do atendimento prestado e da qualidade de vida do enfermo, fundamentada na Ciência da Saúde. A partir de reflexões a respeito da prática do enfermeiro faz-se necessário a construção de um conhecimento sobre anatomia humana articulado a outras disciplinas da grade curricular dos cursos de graduação em enfermagem. Tendo em vista que profissional necessita de uma sólida qualificação técnico-científica e a partir desse conhecimento, reconhecer e compreender a natureza humana de cada indivíduo com necessidades básicas de saúde e de assistência de enfermagem adequados às dimensões biopsicossociais. Desta forma, é relevante a importância do estudo da anatomia humana, bem como a sua interdisciplinaridade, permitindo ao enfermeiro um desenvolvimento de suas atividades profissionais com competência, capacitando-o a exercer funções complexas nos sistemas de saúde. Portanto, consolida-se a ampliação do conhecimento científico do profissional, possibilitando intervenções individualizadas junto aos pacientes. (2011, 11). Importância Do Ensino Da Anatomia Humana Para A Formação Do Enfermeiro. TrabalhosFeitos.com. Retirado 11, 2011,

A Anatomia Humana é uma das ciências médicas mais antigas, estudando estruturas e funções do corpo humano. Mompeo e Perez1Mompeo B, Perez P. Relevance of Gross Human Anatomy in health primary care and in clinical discilines of medical studies. Educ. méd. 2003;6(2). consideram a anatomia como uma coluna fundamental e de grande sustento para as ciências que formam profissionais da área da saúde e afins, uma vez que seu entendimento é necessário a um bom proceder profissional. Com base nisso, é imprescindível a existência de um vínculo estreito entre “aprendentes” e “ensinantes”.

Para tanto, ao se estabelecer a relação professor-aluno, é necessário ter a clareza de que esses indivíduos precisam ser vistos como seres humanos que se inter-relacionam num mesmo tempo e espaço – a sala de aula. Nesse relacionamento, considerado longo e complexo, os sujeitos se influenciam reciprocamente, e os resultados do ensino e da aprendizagem dependerão das muitas possibilidades de diretrizes desse relacionamento2Jardilino JRL, Amaral DJ, Lima DF. A interação professor-aluno em sala de aula no ensino superior. Rev. Diálogo Educ. 2010;10(29):101-119..

Nessa perspectiva, percebemos, com base numa revisão bibliográfica, que o ensino da Anatomia Humana ainda não apresenta mudanças significativas, mesmo em meio ao avanço tecnológico e à evolução dos métodos didáticos. Autores como Stacciarini e Esperidião3Stacciarini JMR, Esperidião E. Reviewing teaching strategies in a learning process. Rev. Latino-am. Enferm. 1999;7(5). afirmam que o conteúdo era e continua a ser apresentado de forma expositiva, gerando como resposta a unilateralidade de comunicação e a restrição do raciocínio crítico do aluno. Isto se contrapõe à teoria freireana – muito utilizada na área da saúde, especialmente na da Enfermagem – de que é no diálogo entre educador e educando que ambos aprendem e ensinam4Freire P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1987..

Na universidade em que este estudo foi desenvolvido, o ensino de Anatomia é um componente curricular de cursos das áreas das Ciências da Saúde, Humanas e Biológicas, trazendo preocupações ao professor titular da disciplina ao perceber as dificuldades teóricas e práticas apresentadas pelos acadêmicos iniciantes – isto devido ao caráter singular da disciplina, que apresenta um número considerável de estruturas incomuns e de complexo entendimento. Muitas vezes, esse caráter interno da Anatomia torna seu ensino monótono e desmotivante, principalmente para os acadêmicos que se deparam pela primeira vez com seus conteúdos e que ainda não têm bem clara a necessidade de um conhecimento sólido e profundo do assunto. Esse fato acaba por exigir que o professor compreenda por que esse processo ocorre e, em consequência, repense novas metodologias de ensino. Dizendo de outra forma, o entendimento dos conteúdos um pouco mais rebuscados deriva não só das condições de aprendizagem do acadêmico, como também da forma como o educador veicula tais conteúdos.

A pesquisa que originou este artigo5Isaia SMA, Bolzan DPV, org. Pedagogia universitária e desenvolvimento profissional docente. Porto Alegre: EDIPURS; 2009. se justifica se forem levados em conta os elementos da Pedagogia Universitária, na qual o educador pode construir sua profissionalidade refletindo na e sobre a ação pedagógica de ensinar e aprender; que, em geral, as universidades têm buscado, mediante processos de formação continuada de seus professores, que estes utilizem metodologias mais ativas e métodos de ensino inovadores, que atendam à demanda correspondente ao ensino e à aprendizagem de cada curso de graduação; e que a aprendizagem significativa torna o ensino de qualidade suficiente para a formação de profissionais hábeis, competentes, críticos e criativos.

Assim, os principais objetivos deste estudo foram investigar as percepções acadêmicas sobre o processo de ensinar e aprender na disciplina de Anatomia Humana, presente em cursos de graduação de uma universidade localizada na Região Centro-Oeste do Estado do Rio Grande do Sul, bem como em que dimensão a Pedagogia Universitária pode contribuir para sua efetividade.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa descritivo-exploratória e de abordagem qualitativa. Para Vianna6Vianna IOA. Metodologia do trabalho científico: um enfoque didático da produção científica. São Paulo: EPU; 2001., a pesquisa exploratória é desenvolvida para se obter a compreensão sobre uma situação, um problema, um fato ou determinado caso, partindo de estudos realizados por vários autores ou vivenciados por diferentes pessoas. Assim, possibilita uma explicação maior e um aprofundamento de questões surgidas no estudo. A pesquisa descritiva é trazida assim por Gauthier7Gauthier JHM, Cabral IE, Santos I, Tavares CMM. Pesquisa em enfermagem: novas metodologias aplicadas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.: “este método de pesquisa é um delineamento da realidade, uma vez que descreve, registra, analisa e interpreta a natureza atual ou processos dos fenômenos”(p.12).

Este trabalho vai nessa direção, isto é, busca conhecer, analisar, discutir, interpretar a percepção dos acadêmicos dos cursos de Enfermagem e de Ciências Biológicas a respeito do processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Anatomia Humana, com vistas a torná-la menos árida.

A análise qualitativa exige maior tempo de observação para a obtenção de resultados, dispensando pressupostos antes da coleta e permitindo, dessa forma, reformular o problema ao longo da pesquisa. Conforme Leopardi8Leopardi MT. Metodologia da pesquisa na Saúde. In: Fundamentos gerais da produção científica. Santa Maria: Pallotti; 2001. p.135-136., “este tipo de pesquisa é utilizada quando não se pode usar instrumento de medida preciso, deseja-se dados subjetivos, ou se faz estudos de um caso particular de avaliação de programas ou propostas de programas, ou ainda quando não se possui informações sobre o assunto”(p.135). O caso foi justamente esse: embora se tivesse uma visão das dificuldades apresentadas pelos acadêmicos, estes ainda não haviam sido instigados a relatar suas dificuldades no estudo da Anatomia Humana.

O local de pesquisa escolhido para esse projeto foi uma instituição de ensino superior, privada, filantrópica, localizada na Região Centro-Oeste do Estado do Rio Grande do Sul, que oferta a disciplina de Anatomia Humana na grade curricular de quatro de seus cursos de graduação. A pesquisa, que tem por objetivo investigar os cursos de Ciências Biológicas, Enfermagem, Farmácia e Psicologia, neste primeiro momento se deteve em conhecer as percepções acadêmicas acerca do ensino e da aprendizagem apenas dos cursos de Ciências Biológicas e Enfermagem.

Para compor os sujeitos da pesquisa, foram convidados aleatoriamente dez acadêmicos de cada um dos cursos nesse momento estudados. Os pesquisados foram selecionados segundo alguns critérios previamente estabelecidos, como ser maior de idade, estar participando efetivamente das aulas extracurriculares no Laboratório de Anatomia e aceitar livremente participar do estudo.

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da instituição em questão, para avaliação e apreciação, tendo como CAAE 5751013.4.0000.5353 e parecer consubstanciado 289.327. A pesquisa atende aos preceitos da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que regula estudos envolvendo seres humanos. Os sujeitos foram esclarecidos quanto aos objetivos, ao procedimento para coleta dos dados e à finalidade dos resultados, que, além de contribuírem para a elaboração do Relatório Final de Bolsa de Iniciação Científica, poderiam ser elementos para a elaboração de artigos para publicação.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A educação universitária está diretamente ligada ao processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, essas expressões, embora partam de um mesmo processo, apresentam sentidos bem distintos. O ensino é entendido como o processo de organização, veiculação e mediação de conhecimentos e experiências para que ocorra a apropriação dos referidos conhecimentos e a aprendizagem por parte do educando; já a aprendizagem está relacionada às habilidades do indivíduo de apropriar-se dos conhecimentos e experiências estudados e/ou vivenciados ao longo da vida. É importante ressaltar que a aprendizagem pode ocorrer de maneira formal (ensino adquirido em aulas, por exemplo) ou informal (ensino adquirido pelas relações sociais, por exemplo). Assim, a aprendizagem está relacionada com a adaptação do indivíduo ao meio que pode modificar o seu comportamento9Lima ES. Didática geral. Teresina: UAPI; 2010..

No que se refere ao ensino e à aprendizagem, convém observar que um número significativo de estudantes tem chegado ao ensino superior com lacunas de conhecimentos e saberes que inibem a produção de conhecimento. Por outro lado, a maioria dos professores que atua no ensino superior não tem formação específica para o ensino. A combinação desses dois aspectos – defasagem de conhecimentos básicos por parte do acadêmico e falta de formação específica para o ensino por parte do professor – afeta diretamente o processo de ensinar e aprender. Assim, cabe às instituições de ensino buscar formação pedagógica para seus docentes, bem como métodos e inovações pedagógicas para suprir as dificuldades de aprendizagem dos alunos. Isto se dará por meio de maior qualificação na formação profissional, tornando esses estudantes mais criativos e críticos1010 Verri ED, Deienno FS, Sampaio MGE, Gomes OA. Análise comparativa da metodologia de estudo para o ensino e aprendizagem de anatomia entre ABP/tradicional. Ribeirão Preto: UNAERP; 2008.,1111 Lima VM, Pereira K. Métodos de ensino-aprendizagem em anatomia humana e comparativa. Jataí: Edição Nacional; 2009.. É neste sentido que esta pesquisa pretende contribuir, isto é, verificar o que pensam os acadêmicos sobre seus processos de aprendizagem, para nortear o processo de ensino por parte do professor. Além disso, pretende alertar para a contribuição da Pedagogia Universitária na melhoria do processo de ensino e de aprendizagem.

Destacando a fala dos participantes deste estudo, observamos que trazem questões consideradas relevantes no processo de ensino em que estão inseridos e, consequentemente, importantes para sua aprendizagem. Elas se referem às dificuldades enfrentadas na disciplina que interferem diretamente no contexto do aprendizado. As falas a seguir denotam as percepções dos alunos sobre essas dificuldades:

“Encontro dificuldades para entender, [...] são muitos nomes, principalmente na osteologia, são nomes mais difíceis, [...] a gente tem dificuldade para gravar”. (B4)

“[...] só os nomes, as estruturas são boas, guardar os nomes é que é difícil, mas o atlas me auxilia”. (E3)

“[...] as aulas de Anatomia são boas se não tivesse a parte dos ossos [...] é a parte mais difícil, tem muitos nomes para decorar, [...] isso não tem como aprender!” (E5)

Deparamo-nos com percepções quase unânimes, trazendo a morfologia da disciplina como uma das maiores dificuldades enfrentadas. Os participantes revelam seus anseios e opinam sobre a disciplina, apontando o número infindável de estruturas com nomes incomuns e de intricada compreensão, e nomenclaturas semelhantes que dificultam a aprendizagem. Corroborando as percepções dos acadêmicos em estudo1212 Ramos KS, Pedroso AC, Guimarães GF, Santos JCC, Lacerda PSD. Uma análise de caso acerca do ensino em morfologia na universidade do estado do Pará. Pará: Universidade Federal do Pará; 2008., o processo de ensino-aprendizagem dos aspectos morfológicos em Anatomia Humana apresenta caráter complexo e difícil porque a memorização de estruturas extensas e com nomes complexos torna a tarefa monótona e desestimulante para a maioria dos alunos quando não ministrada de maneira mais participativa.

Estas premissas, em última instância, servem de alerta ao docente responsável pela disciplina, para que possa pensar na possibilidade de adotar abordagens diferenciadas, buscar metodologias personalizadas que venham a facilitar a aprendizagem. Para tanto, é de fundamental importância buscar estratégias de ensino inovadoras que facilitem a apreensão dos conhecimentos1313 Campus Neto FHC, Maia NMFS, Guerra EMD. A experiência de ensino da anatomia humana baseada na clínica. Fortaleza: Universidade Metropolitana de Fortaleza; 2008.. Isto, por certo, trará avanços nessa área do conhecimento, assim como desenvolvimento para os acadêmicos. Atualmente, as instituições de ensino superior buscam não apenas métodos e inovações no ensino para atender à falta de conhecimentos dos alunos ingressantes, bem como a qualidade na formação de um profissional criativo e crítico nessas instituições1111 Lima VM, Pereira K. Métodos de ensino-aprendizagem em anatomia humana e comparativa. Jataí: Edição Nacional; 2009..

Ao analisarmos a disciplina de Anatomia Humana, percebemos que ela se apresenta, na universidade estudada, como uma das mais difíceis do início da graduação, sendo visível o alto índice de alunos com média acadêmica ao final do semestre, inferior ao exigido. Vários fatores concorrem para isto, entre eles, algumas dificuldades dos estudantes. A pesquisa nos permitiu verificar que grande parcela de alunos exerce atividades paralelas, o que diminui o tempo destinado aos estudos. Em sua maioria, trabalham, formal ou informalmente, muitos são provedores do lar e, como chefes de família, assumem compromissos e responsabilidades que requerem tempo e dedicação. Além disso, alguns deles estiveram vários anos afastados dos estudos, o que, em geral, lhes causa mais dificuldades. A esse respeito, assim se manifestam:

“[...] tenho dificuldades, faz vários anos que parei de estudar [...] quando voltei, foi uma barreira, a cada momento eu vou aprendendo”. (B10)

Outros aspectos que chamam a atenção na fala dos sujeitos da pesquisa são a consciência de que a distância entre uma aula e outra interfere na motivação e o fato de que o trabalho prático, no laboratório, seria uma alternativa para diminuir as dificuldades apresentadas:

"[...] as aulas de Anatomia são muito distanciadas, seria mais fácil se fossem próximas, você não perde a empolgação”. (B10)

“Eu trabalho durante o dia, não posso vir (no laboratório), tenho dificuldade em entender os conteúdos [...] o laboratório não abre de noite, e a carga horária (da disciplina) é pouca”. (B5)

“[...] tenho dificuldade de tempo de ir ao laboratório (trabalho), aí fica difícil de assimilar os conteúdos”. (E2)

Cabe à instituição universitária buscar alternativas para que os acadêmicos que trabalham durante o dia possam usufruir do laboratório em horários alternativos. Por outro lado, o docente deve desenvolver práticas pedagógicas que minimizem as deficiências do processo de ensino-aprendizagem, elaborando estratégias embasadas em métodos interativos, que se aproximem da realidade dos educandos. O educador precisa atuar eficazmente, com práticas inovadoras, e ter competência não somente no domínio dos conteúdos da disciplina que ministra; necessita, também, conhecer propostas alternativas, que exijam mais do aluno na disciplina, estimulando não apenas a capacidade de memorização das estruturas anatômicas, mas o estabelecimento de correlações entre as ciências morfológicas e a prática específica do curso em que busca formação1313 Campus Neto FHC, Maia NMFS, Guerra EMD. A experiência de ensino da anatomia humana baseada na clínica. Fortaleza: Universidade Metropolitana de Fortaleza; 2008..

Como alternativa, os laboratórios contemporâneos são espaços modernos destinados à difusão e à popularização do conhecimento. Cada vez mais, esses espaços se tornam lúdicos, interativos e exploram tópicos atuais de forma interdisciplinar. Diante dessa alternativa, a percepção dos pesquisados apresenta-se compatível. Alguns sujeitos relatam que esses recursos didáticos são utilizados nas aulas e favorecem a aprendizagem, tornando-a mais significativa:

“Eu acho o laboratório superinteressante, tem bonecos [...] não é o mesmo que estudar no cadáver! O nosso laboratório tem os dois, tem os órgãos humanos, os ossos, tudo muito bom”. (B10)

“O laboratório tem os simuladores e estes painéis que auxiliam bastante”. (B6)

“[...] utilizamos os órgãos, o cadáver, os ossos, tem o atlas, os materiais dados pela professora. O atlas é bastante claro, ilustrativo e explicativo, porque as imagens são grandes [...] mas se fosse um atlas de imagens reais, como fotos, seria melhor de estudar”. (E2)

“[...] pra aprender Anatomia, eu faço desenhos e coloco os nomes, olho vídeos, consulto a internet e as aulas práticas no laboratório”. (B5)

“A praticidade, o lúdico, o tocar, o enxergar cada órgão [...] analisar, estudar, é uma nova descoberta, e aquilo se torna mais interessante” . (B8)

“[...] a prática é mais fácil [...] você vem ao laboratório e consegue pegar os órgãos [...] o cadáver, que você pode tocar”. (E5)

Nos discursos, nota-se que cada aluno revela a sua forma de aprendizagem. Assim, cabe ao professor fazer a leitura das possibilidades de aprendizagem de cada um. Interpretamos que, para dar conta dessas possibilidades, o professor precisa usar novas metodologias, tecnologias de ensino, materiais didático-pedagógicos que contribuam positivamente com o processo de ensinar e aprender Anatomia Humana. Nessa dimensão, destacamos o uso de concepções teórico-metodológicas, avaliação e recursos materiais que envolvam recursos eletrônicos (analógicos e digitais) e fotônicos de informações (microcomputadores, telas de monitor sensíveis ao toque, discos laser, fibras ópticas, dispositivos de multimídia, videodiscos) – tudo que possa estimular a aprendizagem significativa. Além dessas alternativas para que se dê dinâmica ao ensino, há que se pensar em relação ao ensino e à aprendizagem da Anatomia Humana, que, segundo Berbel1414 Berbel NANA. Problematização e a Aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface. 1998;2(2):139-154., à biblioteca tradicional sucedeu outra que, além de reunir acervos mais diversificados por ter como suporte imagens, sons e texto, se transformou em midiateca.

Desta forma, entendemos que é necessário construir um diálogo entre o professor e o acadêmico a fim de que se consiga um bom planejamento de aula, que parta de um processo reflexivo, para motivar mais o discente e qualificar a prática docente. A respeito do processo reflexivo, Perrenoud1515 Perrenoud P. Formar professores em contextos sociais em mudança — prática reflexiva e participação crítica. Rev. Bras. Educ. 1999;12. sustenta que a reflexão permite analisar mais tranquilamente os acontecimentos e construir saberes que cubram eventuais situações comparáveis, o que estimula o envolvimento e, por consequência, a aprendizagem.

As aulas de Anatomia apresentam dois momentos distintos: a parte teórica, que apresenta conceitos e definições dos sistemas e órgãos do corpo humano; e a parte prática, que, utilizando peças anatômicas geralmente naturais, em laboratório, estuda as características gerais e suas inter-relações1616 Costa AP. Ensino da anatomia humana em cursos de graduação em educação física. São Paulo; 2007. Mestrado [Dissertação] - Programa de pós-graduação Stricto Sensu - Universidade São Judas Tadeu.. Com base numa dimensão pedagógica de desafio ao acadêmico, podemos sugerir que o ponto de partida desse processo de ensino seja uma problematização, a partir da prática a ser desenvolvida no curso, que exija do aluno a busca do conhecimento teórico-prático com vistas à solução do problema. Assim, mesmo no laboratório, as atividades seriam mais significativas, pois caberia ao estudante não apenas a visualização de estruturas, mas a aplicação na atividade prática, entendida como o desafio a ser enfrentado no dia a dia do exercício profissional. Dessa maneira, pensamos destacar não apenas a atividade prática, mas também a importância do uso do cadáver nas aulas práticas de Anatomia para a formação da personalidade e da ética profissional, até porque os autores consideram o cadáver como o primeiro paciente do acadêmico de graduação na área de saúde1717 Horne DJ, Tiller JW, Eizenberg N, Tashevska M, Biddle N. Rections of first-year medical students to their initial encounter with a cadaver in the dissecting room. Acd. Méd. 1990; 65(10):645-646..

Nessa direção, observamos nas falas que os sujeitos da pesquisa pensam de forma semelhante com relação a vários métodos de estudo. Todavia, no contexto geral desta pesquisa, fica claro para cada um dos sujeitos entrevistados, independentemente do curso a que pertencem, que a melhor forma de aprender os conteúdos propostos pela Anatomia Humana é, sem dúvida, por meio da realização de estudos práticos. Entretanto, não podemos desconsiderar a teoria como elemento relevante, principalmente no ensino superior.

Sendo assim, as aulas teóricas e práticas poderiam ser abordadas não como momentos separados, mas como parte do mesmo processo, de forma a completar e superar a dicotomia teoria-prática. Em resumo, que o processo de ensinar e aprender se dê em relação direta com as futuras ações profissionais. Ou seja, a partir do conhecimento do organismo humano, o professor conseguirá conduzir os acadêmicos a compreender e elaborar questionamentos diretos e objetivos do seu cotidiano, que os levarão à construção das habilidades e competências profissionais necessárias ao exercício da profissão. Assim, associando os elementos teóricos à compreensão das próprias experiências e proporcionando aos alunos a construção do conhecimento a partir de seus significados pessoais, as aulas de Anatomia seriam realmente integrativas1818 Pereira ALF. Pedagogical approaches and educational practices in health sciences. Cad. Saúde Pública. 2003;19(5):1527-1534., uma vez que a Anatomia é considerada1Mompeo B, Perez P. Relevance of Gross Human Anatomy in health primary care and in clinical discilines of medical studies. Educ. méd. 2003;6(2). uma das colunas fundamentais que dão sustento às ciências da saúde e afins e que seu entendimento é necessário para um bom proceder profissional.

Quanto ao exposto, convém observar as críticas e contribuições dos participantes do estudo em relação ao processo de ensino da Anatomia Humana, em que se podem inferir elementos necessários ao aprimoramento do ensino e, por extensão, de sua aprendizagem:

[...] poderia haver mudanças, ter mais exercícios, a professora só passa as estruturas [...] não tem exercícios, a gente não sabe o que vai estudar para as provas teóricas. Já os materiais do laboratório são muito bons, a gente tem muitos órgãos e o cadáver para estudar. (B5)

[...] acho que deveria haver mais horários disponíveis para aulas práticas. (E1)

[...] tinha que ter um pouco mais de dinâmicas, [...] a gente fica muito mecanicista, [...] chega, vê as estruturas, analisa, decora e vai embora. (E6)

As falas dos sujeitos da pesquisa trazem elementos importantes para uma reflexão do professor no sentido de verificar as possibilidades de ampliar o nível de aprendizagem de seus alunos. Além disso, trazem uma preocupação dos alunos que pode ampliar a discussão sobre essa temática e que não fez parte deste estudo por ora: como é feito o processo de avaliação da disciplina, bem como a percepção dos acadêmicos a respeito de aprendizagem e aprovação. Vejamos como expressam essa preocupação:

"[...] as avaliações poderiam ter um pouquinho mais de trabalhos pra ajudar [...] eu acho que o aluno, fazendo trabalhos, aprende muito mais do que estudando para provas”. (E4)

Retomando a discussão sobre a dinâmica do ensino da Anatomia, as falas revelam que o professor tem o dever de abdicar do posto de detentor do conhecimento e promover espaços de construção coletiva em sala de aula, proporcionando que seus alunos contribuam efetivamente no processo de ensinar e de aprender1919 Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra; 1996., tornando-os os sujeitos desse processo, isto é, “aprendentes” e “ensinantes”. Nesse contexto, é válido mencionar a contribuição da Pedagogia Universitária, que traz a importância de o docente construir sua profissionalidade com base na reflexão sobre a própria prática. Nesse sentido, esta pesquisa pode contribuir com a formação dos docentes de Anatomia caso sirva de elemento de reflexão e propulsor de seus estudos.

Ainda em referência à fala dos sujeitos, convém ressaltar que estes consideram a visualização de fundamental importância para a aprendizagem. A maioria das metodologias de ensino utilizadas nessa área explora, principalmente, o uso de multimídia, com imagens estáticas, gráficas ou vídeos. No entanto, o contato manual com as estruturas anatômicas facilita a compreensão dos detalhes, dimensões, texturas e propriedades físicas delas, tais como peso, rigidez e elasticidade2020 Melo JSS. Uso da realidade virtual em sistemas tutores inteligentes destinados ao ensino de anatomia humana. 2007. [acesso em 09 mai. 2013] Disponível em: http://www.brie.org/pub/index.php/sbie/article/view/622/608
http://www.brie.org/pub/index.php/sbie/a...
. Assim, é relevante o uso do laboratório como elemento impulsionador de um ensino problematizador e de uma aprendizagem significativa que possa ser transferida para a atividade profissional.

A relevância da anatomia humana para a formação profissional

A Anatomia é o ramo da Biologia que estuda a estrutura e organização dos seres vivos, tanto externa como internamente. Os principais objetivos da disciplina são possibilitar ao futuro educador o aprendizado da organização morfológica do corpo humano, procurando, a partir do ensino da forma e das funções dos órgãos e sistemas, a constituição do corpo como um todo, propiciando o conhecimento geral da construção, conformação e o valor funcional do organismo humano.

O conhecimento acerca do corpo transmitido na disciplina de Anatomia Humana constitui-se numa abordagem teórica e prática, fazendo com que os licenciandos do curso de Ciências Biológicas vivenciem um amplo conhecimento sobre o assunto. Dessa forma, como futuros educadores, serão capazes de discutir e introduzir métodos que despertem a curiosidade e o aprendizado dos alunos da Educação Básica.

“O biólogo estuda todas as formas de vida [...]”. (B10)

“[...] estuda todos os tipos de vida, [...] é imprescindível, devemos conhecer a vida vegetal, animal e a humana [...]”. (B9)

“[...] o estudo da Anatomia estimula a conhecermos o nosso próprio corpo e, assim, vincularmos esse conhecimento à teoria e levar isso aos nossos alunos”. (B8)

“[...] como futura professora, eu sei que vou trabalhar com o corpo humano nas escolas [...] então, é bom eu ter um embasamento”. (B2)

Esses alunos estão convictos da importância do ensino e da aprendizagem dos conteúdos propostos pela disciplina de Anatomia, que contribuem para sua formação profissional. Observamos a sensibilidade dos alunos em apreender os ensinamentos da disciplina, para que disponham do saber necessário para proporcionar a seus futuros alunos um ensino com embasamento teórico e prático.

Mesmo sendo estudantes dos primeiros semestres da graduação, os pesquisados já percebem a importância do seu papel como educadores. Nesse sentido, o fazer docente se realiza por meio de um conjunto de atitudes, procedimentos, posturas e valores que buscam contextualizar e relacionar o novo conteúdo a ser ensinado à realidade acadêmica, profissional, emocional, psicológica, cultural, política e religiosa dos alunos2121 Costa AP, Gama EF, Silva SAPS. Anatomia humana aplicada à educação física e ao esporte: uma experiência pedagógica. São Paulo: Universidade São Judas Tadeu; 2008.. A esse respeito, Silva e Guimarães2222 Silva RA, Guimarães MM. Arte educação: facilitando o ensino de morfologia. Educere. 2004;4(1): 55-64. consideram que “ensinar significa resgatar no aprendiz uma integração do racional com o estético, conjunto da razão e do sonho no qual conhecer algo novo é maravilhar-se, trabalhar duro, esforçar-se e descobrir-se” (p.59).

Quanto ao ensino da Anatomia Humana, esses futuros educadores deverão atuar eficazmente, com didáticas inovadoras, e ter competência não somente no domínio dos conteúdos da disciplina que ministram, como também no conhecimento de propostas alternativas, exigindo mais de seus alunos1313 Campus Neto FHC, Maia NMFS, Guerra EMD. A experiência de ensino da anatomia humana baseada na clínica. Fortaleza: Universidade Metropolitana de Fortaleza; 2008..

Com relação à atuação profissional dos licenciados em Biologia, é importante que esses futuros educadores façam uso dos preceitos da Pedagogia Universitária, permitindo que seus alunos tenham um papel ativo no processo de aprendizagem, pois nesse modelo ambos são responsáveis por ele2323 Veiga IPA, Castanho MELM, orgs. Pedagogia Universitária: A aula em foco. Campinas-SP: Papirus; 2000..

Outro ponto importante é a postura como educadores. Em oposição ao professor que apenas transmite o saber, esses futuros profissionais precisam se projetar como facilitadores do processo de aprendizagem. Uma vez professores, não deverão estar acima do grupo, mas, sim, ser parte dele, estabelecendo um clima positivo e propiciando a participação dos alunos2323 Veiga IPA, Castanho MELM, orgs. Pedagogia Universitária: A aula em foco. Campinas-SP: Papirus; 2000..

Contribuições para a formação do enfermeiro

A Anatomia Humana é a base de conhecimento para todos os estudantes das Ciências da Saúde (Enfermagem, Odontologia, Psicologia, Farmácia, Educação Física) e acompanha o aluno universitário desde o primeiro ano até a plenitude da sua formação acadêmica, inclusive no desempenho de suas atividades laborais. A cada disciplina dos cursos que compõem as Ciências da Saúde compete uma particularidade, uma exclusividade da formação acadêmica. É importante perceber a relevância dessa disciplina para o estudante, pois desde o primeiro ano ele poderá observar as interligações e correlações intrínsecas com as outras disciplinas – Fisiologia Humana, Histologia, Biologia Celular e Molecular, Bioquímica, Genética, Microbiologia, Parasitologia, Fisiopatologia, Imunologia, Patologia, entre outras2424 Vavruk JW. A importância do estudo da anatomia humana para o estudante da área de saúde. O Anatomista. Rev. Div. Cient. Soc. Bras. Anat. 2012;2(3)..

O estudo dos dados anatômicos é fundamental para possibilitar ao enfermeiro o reconhecimento dos órgãos do corpo humano, assim como a morfologia, localização, função e organização desses órgãos em sistemas. Esse conhecimento é indispensável à atuação profissional. Assim, não há como um enfermeiro atuar nessa profissão se não tiver pleno domínio dos conhecimentos relativos ao corpo.

Alguns autores2525 Madeira MC. Sou professor universitário e agora?: manual de primeira leitura do professor. São Paulo: Sarvier; 2008. consideram a Anatomia Humana como o alicerce de todas as disciplinas clínicas. É, portanto, uma disciplina instrumental e indispensável. Uma disciplina instrumental significa o que será usado, um instrumento, uma ferramenta, uma atividade intelectual eficaz. Logo, conhecê-la bem é uma necessidade intrínseca ao profissional de enfermagem.

Corredera e Santana2626 Corredera BM, Santana PL. Relevancia de la anatomia humana en El ejercicio de la medicina de asistencia primaria y em el estudio de las asignaturas de segundo ciclo de la licenciatura em medicina. Educación médica. 2003; 6(1): 41-51. declaram que as metas do ensino de Anatomia Humana são, no mínimo, conhecer as estruturas anatômicas e as relações entre elas; reconhecer estruturas anatômicas por meio de técnicas de imagens; e entender as bases anatômicas da Patologia.

Assim, ao nos referirmos à Anatomia Humana, referimo-nos à vida, pois o seu conhecimento tem o propósito de gerar cuidado a quem está com vida. Seu estudo leva a refletir sobre as mais variadas formas de estar a favor do outro, do cuidar em enfermagem, e esse cuidar do outro deve ser desenvolvido em todos os momentos2727 Oda JY, Castilho MAS, Castro SL. O ensino da anatomia humana e sua relevância para o curso de enfermagem. EDUCERCE- Revista de Educação, Umuarana. 2009;9(1):65-80.. O acadêmico, por meio de uma análise crítica e consciente de sua organização corporal, entende questões acerca das situações humanas a serem encaradas2222 Silva RA, Guimarães MM. Arte educação: facilitando o ensino de morfologia. Educere. 2004;4(1): 55-64..

Nesse contexto, os alunos participantes deste estudo trouxeram em seus discursos suas percepções acerca da importância de aprender os conteúdos da disciplina e a relevância para sua formação profissional.

"[...] sei que a gente tem que ter noção, [...] da localização dos órgãos no corpo, da dimensão deles”. (E5)

“[...] nós vamos precisar depois, já que enfermagem é cuidado. Nós vamos cuidar de pessoas [...]” (E9)

“Com toda certeza, é o que você vai vivenciar todos os dias, vai fazer uma anamnese, vai fazer qualquer exame clinico, vai precisar da Anatomia; para qualquer coisa, banho de leito, você vai precisar de Anatomia. É muito importante, eu acho até que deveria ser mais valorizada até na enfermagem”. (E6)

É evidente a percepção dos acadêmicos do curso de Enfermagem sobre a necessidade de estudar os conteúdos da disciplina. Esses sujeitos se referem à Anatomia como a uma forma de conhecer a localização e dimensão dos órgãos do corpo humano. Relatam, ainda, que é graças aos estudos anatômicos que profissionais e estudantes de Enfermagem conseguem dar sustentação aos cuidados prestados aos pacientes.

Os conhecimentos proporcionados pela Anatomia Humana contribuem para a execução da grande maioria dos procedimentos realizados pela equipe de enfermagem, que, segundo os entrevistados, vão desde anamnese, exame físico e banho de leito até a identificação de uma musculatura para aplicação de vacina. Sobre sua importância, assim se expressam:

Totalmente relevante, pois não tem como fazer alguma coisa no trabalho na área da Enfermagem sem conhecer o corpo do paciente [...] e a Anatomia te dá esse suporte, um exemplo é você aplicar uma vacina [...]”. (E2)

Esta pesquisa revela a importância do estudo da Anatomia Humana, bem como a sua interdisciplinaridade, permitindo que o futuro enfermeiro exerça suas atividades profissionais com competência e capacitando-o a executar funções complexas nos sistemas de saúde. Portanto, consolida-se a ampliação do conhecimento científico do futuro profissional, possibilitando intervenções individualizadas junto aos pacientes.

Alguns autores2828 Kestenberg CCF, Reis MMSA, Motta WC, Caldas MF, Rodrigues DMC. Cuidando do estudante e ensinando relações de cuidado de enfermagem. Texto Contexto Enferm. 2006;(15):193-200. sustentam que a disciplina de Anatomia Humana, quando baseada em informações humanitárias e científicas, poderá constituir um instrumento para desenvolver nos alunos o cuidado com o outro. Tais informações precisam ser difundidas e articuladas com outras disciplinas para conduzir à compreensão da prática clínica, pois o conhecimento das disciplinas não se finda em si mesmo; é uma construção em conjunto que se faz e refaz de forma dinâmica e que levará a um propósito: o cuidado com o outro.

A Anatomia é referenciada2727 Oda JY, Castilho MAS, Castro SL. O ensino da anatomia humana e sua relevância para o curso de enfermagem. EDUCERCE- Revista de Educação, Umuarana. 2009;9(1):65-80. como de suma importância para despertar a sensibilidade do acadêmico, pois esta sensibilidade o capacita naturalmente a tocar, sentir, cuidar, tudo em favor da vida. Neste contexto, ensinar Anatomia é levar o acadêmico a refletir sobre o corpo-matéria-morte, conduzindo-o ao entendimento do corpo-matéria-vida. Ao vivenciar o manuseio com o cadáver, o acadêmico desenvolve suas práticas de aprendizagem sobre o cuidado humano, criando seu futuro fazer profissional. O contato com o cadáver na prática anatômica faz o aluno vivenciar a prática do cuidar, uma vez que cuidar do seu semelhante é ter uma vida em suas mãos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Adquirir o conhecimento proposto pela Anatomia Humana é compreender a essência fundamental da arte da profissão em que o estudante se prepara para identificar e conhecer as funções orgânicas, dimensionamento corporal e, posteriormente, as patologias de maneira objetiva.

Percebemos, pelos discursos, que o ensino da Anatomia é repleto de obstáculos para a aprendizagem efetiva dos estudantes. Os conteúdos apresentam grande número de estruturas, com nomes incomuns e de intricada compreensão. Em vários momentos, essas dificuldades despertam nos estudantes sentimentos de impotência e de desânimo, pois, segundo alguns dos sujeitos do estudo, a Anatomia Humana não é uma disciplina para ser aprendida, mas decorada – concepção da qual discordamos, pois ela precisa ser apreendida, tendo em vista sua relevância na atuação profissional tanto do biólogo quanto do enfermeiro.

Além dos aspectos morfológicos da disciplina e das infindáveis nomenclaturas que apresenta, foram trazidas outras questões que dificultam a aprendizagem da disciplina. Uma delas se refere à disponibilidade de tempo para estudos práticos, uma vez que o laboratório de Anatomia na universidade estudada só dispõe de aula extraclasse no período diurno. Este é considerado um importante fator que dificulta aos acadêmicos utilizar essa possibilidade de aprendizagem, pois a rotina de trabalho é uma característica dos alunos de nossa universidade – a grande maioria trabalha durante o dia para financiar seus estudos.

Outro aspecto apontado é o tempo durante o qual muitos desses estudantes estiveram afastados dos estudos, fato que influi diretamente na aprendizagem de cada um, além dos compromissos familiares que, muitas vezes, os afastam da possibilidade de participar das atividades no laboratório de Anatomia.

Segundo as teorias de aprendizado, quando o aluno é solicitado e estimulado a construir seu próprio conhecimento com orientação e incentivo do professor, esse saber se fundamenta de forma mais profunda e duradoura. Por isso, estudos que consideram a opinião dos acadêmicos, propondo espaços de troca, bem como de construção coletiva do seu processo de formação, são alternativas a serem encorajadas, a fim de manter sempre laços estreitos entre professor e aluno.

Os saberes da Pedagogia Universitária são ferramentas essenciais para a efetivação de propostas inovadoras, como a deste estudo, permitindo a (re)construção de saberes e conceitos formativos docentes. Ademais, tais saberes criam condições objetivas para concretizar a inovação, que contemplam estratégias de comunicação favoráveis ao diálogo entre os sujeitos envolvidos.