Explique por que Vivemos numa civilização do petróleo

A) Os plásticos, borrachas, cosméticos, medicamentos, e tranformações em fibras sintéticas são derivados do petróleo.

Questão 01 - As fontes não renováveis de energia, embora tenham o seu uso amplamente questionado, respondem por uma considerável parte da matriz global de geração de eletricidade. Entre os itens a seguir, podemos considerar como pertencentes a esse segmento: 

I. A produção a partir do carvão mineral; 

II. O funcionamento das usinas nucleares; 

III. A utilização do petróleo e seus derivados; 

IV. A construção de estações eólicas; 

V. A produção de energia hidroelétrica. 

Estão corretas as afirmativas: 

a) I e III 

b) II e IV 

c) IV e V 

d) I, II e III 

e) I, III e V

Questão 02 - Fonte de energia amplamente utilizada na atualidade que ainda não encontrou um declínio mesmo com os avanços produzidos pela Terceira Revolução Industrial. Apesar de ser altamente poluidora, essa matriz responde por 80% de toda a energia gerada em âmbito mundial. O trecho acima refere-se: 

a) ao petróleo. 

b) aos combustíveis fósseis. 

c) às centrais hidrelétricas. 

d) ao gás natural. 

e) à energia atômica ou nuclear.

Questão 03 - “Vivemos numa 'civilização do petróleo'. A importância desse recurso natural vai além da geração de energia”. (LUCCI, E. A. et. al. Território e sociedade no mundo globalizado. 2ª ed. Editora Saraiva, 2014. p.341). 

“O petróleo está prestes a acabar? A realidade será feita de automóveis eléctricos? Acabam os navios petroleiros que naufragam e poluem o mar? Nada disso. O petróleo veio para ficar. E vai ficar ainda ao logo dum tempinho. Bastante tempinho”. (TAVARES, A. A Era do Petróleo veio para ficar. Disponível em . Acesso em: 27 mar. 2015).

Além da geração de combustíveis para a obtenção de energia, entre os demais uso do petróleo nas atividades econômicas, podemos citar: 

I. Fabricação de plásticos e borrachas; 

II. Confecção de rochas ígneas para fins arquitetônicos; 

III. Produção de cosméticos e medicamentos; IV. Transformação em fibras sintéticas; 

V. Sintetização do alumínio e outros metais. 

Sobre as afirmativas acima, é correto dizer que: 

a) somente I, III e IV estão corretas 

b) somente II, III e V estão corretas 

c) somente I, IV e V estão corretas 

d) somente I, II e III estão corretas 

e) Todas estão corretas

Questão 04 - (Enem/2004) O debate em torno do uso da energia nuclear para produção de eletricidade permanece atual. Em um encontro internacional para a discussão desse tema, foram colocados os seguintes argumentos: 

I. Uma grande vantagem das usinas nucleares é o fato de não contribuírem para o aumento do efeito estufa, uma vez que o urânio, utilizado como “combustível”, não é queimado, mas sofre fissão. 

II. Ainda que sejam raros os acidentes com usinas nucleares, seus efeitos podem ser tão graves que essa alternativa de geração de eletricidade não nos permite ficar tranquilos. 

A respeito desses argumentos, pode-se afirmar que 

a) o primeiro é válido e o segundo não é, já que nunca ocorreram acidentes com usinas nucleares. 

b) o segundo é válido e o primeiro não é, pois de fato há queima de combustível na geração nuclear de eletricidade. 

c) o segundo é válido e o primeiro é irrelevante, pois nenhuma forma de gerar eletricidade produz gases do efeito estufa. 

d) ambos são válidos para se compararem vantagens e riscos na opção por essa forma de geração de energia. 

e) ambos são irrelevantes, pois a opção pela energia nuclear está se tornando uma necessidade inquestionável.

GABARITO

01 - D

02 - B

03 - A

04 - D

QUESTÃO ENERGÉTICA

Da civilização do petróleo a uma nova civilização verde

Ignacy Sachs

RESUMO

O PICO da produção de petróleo que se aproxima e a conseqüente forte alta dos preços do petróleo tornam competitivos os biocombustíveis – etanol como aditivo ou substituto da gasolina e biodiesel como aditivo ou substituto do diesel derivado do petróleo. O Brasil tem todas as condições para se impor como um grande produtor e, com tempo, exportador de biocombustíveis, reduzindo as emissões de gases de estufa, gerando oportunidades numerosas de trabalho decente para agricultores familiares e tornando-se menos dependente com relação à geopolítica do petróleo. A substituição dos derivados do petróleo por biocombustíveis é apenas parte de uma estratégia energética na qual a eficiência e a conservação devem desempenhar um papel preponderante. Por outro lado, a produção de biocombustíveis deve ser colocada no âmbito mais amplo da construção de uma civilização moderna de biomassa para a qual os países tropicais têm condições privilegiadas e que constituiria uma contribuição essencial ao desenvolvimento includente e sustentável.

Palavras-chave: Petróleo, Biocombustível, Etanol, Biodiesel, Mudanças climáticas.

ABSTRAC

PEAK oil, the tapering of petroleum production, is drawing nearer. The resulting steep rise in oil prices will enhance the price competitiveness of biofuels – ethanol as additive or replacement for gasoline, and biodiesel as additive or replacement for diesel oil. Brazil meets all the requirements to become a large producer and, in time, an exporter of biofuels – reducing the emission of greenhouse gases, generating numerous decent job opportunities for family farmers, and becoming less dependent on the geopolitics of petroleum. The substitution of biofuels for petroleum-based products is only part of an energy strategy in which efficiency and conservation must have an overriding role. On the other hand, the production of biofuels should be seen within the larger setting of the construction of a modern biomass civilization, for which the tropical countries have highly advantageous conditions and which would be an essential contribution to sustainable and encompassing development.

Key-words: Oil, Biofuels, Ethanol, Biodiesel, Climate Changes.

HÁ POUCO TEMPO, a Agência Internacional de Energia, em Paris, um apêndice da OCDE, organizou um seminário internacional sobre as opções de biocombustíveis, co-organizado por essa agência, pela Fundação das Nações Unidas e pelo governo brasileiro. O Brasil esteve representado por uma delegação importante, chefiada pelo Ministro Rodrigues. Em certo sentido, esse seminário marca a maioridade dos biocombustíveis, ou, pelo menos, assinala uma situação nova, que se explica pela conjunção de três fatores:

  1. Um número bastante grande de geólogos acredita que o pico da produção mundial de petróleo vai acontecer dentro de dez a vinte anos. Isso não sig-nifica que o petróleo vai desaparecer, mas que hoje, aparentemente, as novas reservas não compensam a extração, de modo que estamos instalados num período de esgotamento das reservas de petróleo que pode durar um século. Isso, todavia, não tem importância, e sim que estamos instalados de uma maneira duradoura em preços altos provocados por uma oferta que vai diminuir e uma demanda que continua, ainda, a aumentar. Esse é o primeiro fator, os preços do petróleo bateram os sessenta dólares o barril, muito acima daquilo que torna os biocombustíveis competitivos. E se se trata de um fenômeno razoavelmente duradouro, estamos entrando numa nova época.

  2. A segunda razão é geopolítica, ou seja, os custos cada vez maiores que os Estados Unidos e seus aliados têm na manutenção das linhas de abastecimento a partir do Médio Oriente. Há um número cada vez maior de especialistas norte-americanos que acha que é melhor investir nas alternativas do que continuar a administrar essa situação.

  3. A terceira razão, que eu considero muito importante, embora eu não creia que ela tenha precipitado a nova situação, é o problema ambiental. Aí é evidente que mesmo que fosse realizado integralmente o Protocolo de Kyoto ainda seria altamente insuficiente em termos da redução das emissões de gases de efeito estufa.

Esses três fatores juntos fizeram com que, recentemente, Amory Lovins, eminente especialista norte-americano de questões energéticas, publicasse um livro. Nos anos de 1970, Lovins escreveu um outro, chamado The Soft Energy Paths, e depois foi co-autor de um livro muito discutido por ambientalistas, O fator 4, ou seja, como dobrar a produção mundial reduzindo pela metade os insumos, em particular os energéticos. O novo livro tem um título muito significativo, qual seja, Winning the Oil Endgame ou seja, a partida final, a fase final da liquidação do petróleo, não porque ele vai desaparecer, mas por que nenhuma das grandes revoluções energéticas do passado aconteceu por esgotamento do recurso, e sim quando surgia outro mais eficiente e mais barato.

O interessante é que o relatório do Lovins foi co-financiado pelo Pentágono e prefaciado por George Schultz, um dos grandes ministros republicanos de Reagan.

Quase simultaneamente, o Departamento de Agricultura e o de Energia do governo norte-americano publicaram um relatório no qual dizem que é possível, em 25 anos, tornar os Estados Unidos independentes da importação de petróleo, por meio de um gigantesco programa de produção de biocombustíveis, que vai envolver um bilhão de toneladas secas de biomassa por ano.

O argumento do Lovins, que vai no mesmo sentido, está apoiado essencialmente num technological fix, uma nova geração de veículos ultraleves que vão pesar muito menos que os nossos automóveis de hoje e que, portanto, vão consumir menos da metade do que hoje consome um carro. 50% a partir disso, 25% de redução a partir do programa de biomassa e 25% a partir de um uso mais eficiente do gás e, ao mesmo tempo, a utilização dos excedentes de gás para a produção de hidrogênio. Essa é, em poucas palavras, a Proposta Lovins.

A proposta dos departamentos de agricultura e energia para satisfazer 25% dessa demanda atual pelos biocombustíveis líquidos está baseada numa outra inovação tecnológica importante, que o Brasil, aliás, já conhece, mas que eu creio que não pratica ainda, que é a produção do etanol celulósico, ou seja, a produção do etanol a partir da celulose. O que permite pensar numa base de matéria-prima totalmente diferente da atual, porque todos os resíduos vegetais se tornam uma matéria-prima para produção do etanol celulósico. Aliás, naquele estudo norte-americano, o milho, que hoje é a principal base da produção de álcool nos Estados Unidos, passa a ser 5 a 6% da base, e quase a metade são resíduos vegetais.

Portanto, temos duas inovações tecnológicas de monta, a nova geração de automóveis e um novo tipo de combustível, ou seja, o etanol celulósico. A Dedini tem uma patente para fazer o etanol a partir do bagaço que é exatamente este caso. Pelos dados que estão publicados, isso permitiria dobrar praticamente a produção de álcool a partir da tonelada de cana, 90% a mais.

Esse é o panorama internacional. Evidentemente, dentro desse panorama explica-se o interesse pelo Brasil como país pioneiro que tem trinta anos de experiência em matéria de Proalcool, aliás, duplo interesse: o primeiro para entender melhor a experiência brasileira que foi muito bem apresentada pela delegação brasileira, na figura do Dr. Gylvan; e a outra coisa, já que o Brasil é tão competitivo em etanol, por que não pensar num grande mercado mundial, uma nova commodity que é o etanol? Vamos comprar o etanol barato dos países do Sul para alimentar os carros do Norte? Isso, inclusive, explica por que havia na mesa as companhias de petróleo, e duas grandes montadoras de automóveis, a Peugeot e a Toyota, que co-financiaram aquele evento.

Duas observações fundamentais fazem-se necessárias nesta altura. A primeira adverte que não se deve reduzir a questão da saída da civilização do petróleo unicamente aos problemas tecnológicos de modificação da construção do carro, ou da produção de um novo combustível. É óbvio que o problema tem que ser recolocado dentro de uma perspectiva muito mais ampla de uma estratégia energética, onde a variável principal é aquela energia que é não poluente, e muitas vezes a mais barata, ou seja, aquela energia que se deixa de consumir. É preciso considerar a conservação da energia e a redefinição do perfil da demanda energética através da discussão dos estilos de vida, do papel do transporte, da substituição do transporte individual etc. Toda a discussão sobre a feição futura da cidade faz parte desse problema mais geral do qual a construção de veículos mais eficientes e a produção de biocombustíveis é parte importante, mas não resolve todo o problema.

A segunda observação, ainda mais importante, diz que, em vez de tratar os biocombustíveis como um mercado que se abre para uma commodity e que será produzida por monoculturas voltadas essencialmente para a eficiência econômica do processo, prefiro colocar os biocombustíveis dentro de uma visão mais ampla do que eu chamo de civilização moderna de biomassa.

Se estamos realmente começando a entrar na fase final da civilização do petróleo – podemos dizer que estamos saindo de um interlúdio de vários séculos que foram dominados, primeiro pelo carvão e depois pelo petróleo – e estamos voltando, em certo sentido, para a energia solar, captada pela biomassa. Só que não estamos voltando para trás, mas estamos construindo uma nova civilização de biomassa, onde há as conquistas da Ciência, em particular da Biologia. As novas gerações de biotecnologias estão chamadas a ocupar um lugar cada vez mais importante: estamos, portanto, voltando à civilização movida pela energia solar, a um nível infinitamente superior da espiral dos conhecimentos. Porque a civilização de biomassa permite produzir não só alimentos para o homem, mas também forragem para os animais, materiais de construção, adubos verdes, biocombustíveis, matérias-primas industriais (fibras, plásticos etc.), fármacos e cosméticos. É um leque extremamente amplo de produtos derivados da biomassa e potencializado pelo uso de biotecnologias nas duas pontas do progresso: para aumentar a produtividade da biomassa e para ampliar o espectro dos produtos dela derivado. A questão central é saber de quantos recursos de solos cultiváveis podemos dispor. Aí as opiniões divergem muito, há toda uma corrente de ambientalistas, como Lester Brown, que acha que vamos ter falta de solos cultiváveis para produzir os alimentos para a humanidade. A FAO tem uma posição diametralmente oposta ao malthusianismo do Lester Brown. Examinei, em particular, um estudo prospectivo recente da FAO segundo o qual, sobretudo na América Latina e na África, estamos usando apenas 20% dos solos disponíveis. Não quero avançar demais na avaliação desse um tópico absolutamente fundamental para discutir as perspectivas de uma civilização moderna de biomassa. Mas esse tema não deve ser abordado com uma visão de justaposição de mono-culturas, e sim dentro de um contexto mais complexo de sistemas integrados de produção de alimentos e energia.

Foi um programa que dirigi na Universidade das Nações Unidas há quinze anos, chamado "O nexo entre alimentos e energia" que me fez pensar muito no modo pelo qual se articulam as diferentes produções dentro de sistemas integrados. Por outro lado, deve-se obviamente introduzir nesse debate aquilo que os agrônomos franceses chamam de revolução duplamente verde, e que o agrônomo indiano mundialmente conhecido, MS Swaminathan chama de "Evergreen Revolution", ou seja, a segunda geração da revolução verde que ultrapassa a primeira (que tinha um aspecto essencialmente produtivista) e propõe uma agricultura que busca rendimentos razoáveis mas, em harmonia com a natureza, e, sobretudo, orientada para os pequenos produtores, os agricultores familiares.

Esse debate sobre a civilização de biomassa, na realidade, permite atacar um dos grandes problemas do século, se não o maior, o mais difícil, o problema social por excelência que é a questão de emprego, de trabalho decente para todos; e dentro desse tema, a questão de um futuro para os dois bilhões de pequenos agricultores e suas famílias. É totalmente absurdo pensar o futuro deste século sem ver que o problema de desenvolvimento rural continua a ser um problema crucial, não dá para jogar toda essa gente nas favelas, e se por acaso o forem, vamos ter que administrar uma tragédia de proporções inéditas.

Junto a esse primeiro problema, o problema social, temos o ambiental. Devemos sair o quanto antes da emissão de gases de efeito estufa, sair das energias fósseis. O terceiro problema, que já mencionei, é geopolítico. Enquanto persistimos na geopolítica atual do petróleo, corremos o risco de ir de uma guerra a outra, com incertezas e custos enormes decorrentes da concorrência das grandes potências industriais pelo controle das fontes de petróleo.

É na intersecção desses três problemas que reside a problemática que estou discutindo. O importante é entender corretamente todos os deslocamentos que podem ocorrer no uso de solos. Porque se eu passar a produzir o essencial do etanol a partir dos resíduos vegetais, não vou gastar hectares com essa produção. Se, para dar o exemplo de um projeto que visitei em abril, no sul da Bahia, eu conseguir produzir proteína animal criando peixes em gaiolas alimentados unicamente com folhas de bananeira e folhas de mandioca, essa proteína não vai competir pelos solos que são necessários para produzir a carne de boi. A passagem da criação extensiva de gado à criação de gado semiconfinado e confinado é uma das variáveis nesse debate sobre as terras disponíveis.

Explique por que Vivemos numa civilização do petróleo

Portanto, sem prejulgar quais são os países que têm a capacidade de substituir 100% o petróleo por biocombustíveis, ou quais são os países que vão ter excedentes para jogar naquele novo mercado de commodities, acho que devemos fazer análises caso por caso, país por país, e isso me permite passar para o Brasil.

Se há um país onde a saída da civilização do petróleo é possível, eu não estou dizendo amanhã, estou falando de um período de vinte a trinta anos, este país é o Brasil. Se há um país onde se pode pensar em construir uma civilização moderna de biomassa, este país é o Brasil. A maior reserva de biodiversidade, uma enorme reserva de terras cultiváveis sem mexer numa árvore da floresta amazônica, climas variados, uma dotação de recursos hídricos entre ótima e razoável na maioria dos territórios e um fator muito importante, uma pesquisa agronômica e biológica de classe internacional, uma indústria capaz de produzir equipamentos para a produção de etanol e para a produção de biodiesel, todos esses elementos estão presentes aqui para avançar nesse caminho.

O fato de o país ter chegado praticamente à auto-suficiência em petróleo não significa que não se deva avançar na substituição do petróleo sempre que possível, porque esse petróleo passa a ser commodity que pode ser vendida nos mercados mundiais. Essa fase de transição da civilização do petróleo à civilização moderna de biomassa vai durar décadas. Durante essas décadas, dá para continuar a explorar o petróleo que se tem e a vendê-lo, provavelmente, a preços altos, já que o álcool é muito competitivo com relação ao petróleo a cinqüenta dólares o barril. É óbvio que mais vale vender o petróleo por cinqüenta dólares o barril e substituí-lo dentro do país por álcool, que custa menos; e como o Brasil tem essa inovação recente que é o flex motor, não há praticamente nada que impeça avançar rapidamente na área do etanol.

As coisas estão bem mais complicadas na área do biodiesel, porque não temos a mesma experiência. Foi criado no ano passado o Centro de Referência do Biodiesel na Esalq, mas, por enquanto, não produziu resultados definitivos: está se trabalhando sobre treze ou catorze óleos diferentes. É evidente que o país vai ter estratégias diferenciadas por biomas, porque é uma coisa no trópico úmido, outra coisa no semi-árido, outra ainda no cerrado; certamente o óleo de dendê aparece com uma perspectiva promissora para o trópico úmido. Primeiro porque aí temos uma experiência estrangeira bem-sucedida que é a produção em grande escala de óleo de dendê para fins comestíveis na Malásia. Segundo porque há alguns anos estamos discutindo um modelo de reforma agrária para a Amazônia que se baseia na idéia de uma cooperativa de quinhentas famílias que recebem cada uma dez hectares para cultivar o dendê e outros dez para atividades agro-florestais e pequenas produções para autoconsumo. Para cada área de cinco mil hectares de dendê, uma indústria nacional que dispõe de tecnologia de classe internacional nessa área, a Agropalma, se diz disposta a construir usina de esmagamento com quatro condições:

  1. que ela forneça as mudas;

  2. que ela forneça a assistência técnica;

  3. que ela tenha exclusividade de compra;

  4. que ela pague um preço calculado em percentual do preço mundial do óleo de dendê.

São propostas, a meu ver, muito razoáveis; houve um estudo feito por três especialistas conhecidos, Prof. Kageyama que está hoje no Ministério do Meio Ambiente e é da Esalq, Prof. Ademar Romeiro, da Unicamp, e o Dr. Kitamura, que dirige a Embrapa Meio Ambiente. Os três mostraram que dez hectares de dendê dão um emprego para um homem para o ano todo, porque é uma produção contínua. Os outros dez hectares dão o equivalente a um ou dois empregos para os membros da família, e um conjunto de quinhentas famílias cria uma vila agroindustrial onde há ainda emprego industrial no transporte, nos serviços técnicos, nos serviços sociais, no comércio, ou seja, dá uma relação de emprego por família extremamente favorável.

Essa proposta foi entusiasticamente recebida pelo governo do Amapá há uns quatro a cinco anos, estamos na estaca zero, mas é o tipo de proposta que a gente pode fazer.

Já no semi-árido as escolhas devem ser diferentes. Provavelmente, em vários estados do Nordeste, a escolha vai recair sobre a mamona, sobre a qual o Brasil já tem também experiência porque a cultura de mamona foi, durante muitos anos, uma cultura de uso industrial. Vale a pena mencionar a última lei de incentivos que é, do ponto de vista da sua construção, muito interessante, porque ela prevê incentivos duplamente diferenciados pela região e pelo tamanho do produtor. Ou seja, incentivos fiscais fortes para o produtor familiar no Nordeste, menos fortes para o grande produtor no Nordeste, menos ainda para pequeno produtor no Sul e praticamente inexistentes para o grande produtor no Sul.

Acho que estamos com elementos para ir construindo um mapa da agroenergia no Brasil. O ministro Rodrigues está interessado em criar uma rede de instituições brasileiras que trabalham com agroenergia, e creio que entre os projetos que estão sendo contemplados está o da criação de um Instituto de Agroenergia e de uma Estação de Agroenergia na Embrapa, embora ainda bastante embrionário.

Eu gostaria de insistir no fato de que essa nova oportunidade que geram os biocombustíveis é uma oportunidade de ouro para repensar o desenvolvimento rural, e não apenas para atender à demanda de biocombustíveis para os automóveis. Aí é que reside o problema central: como se insere essa perspectiva dentro da visão mais integrada do desenvolvimento rural? Como se movimenta o enorme contingente de agricultores familiares que lá estão e que necessitam de serem amparados, assistidos e conduzidos para uma situação menos precária? Como se integra a produção de biocombustíveis com outras produções não só agrárias, porque o rural é muito mais do que simplesmente o agrário. Como se integra em tudo isso a questão do gerenciamento das florestas e de florestas de plantação, lembrando que, do ponto de vista ambiental, é sempre mais interessante lançar mão de culturas perenes do que de culturas anuais; e lembrando ainda que, ao plantar árvores, estamos gerando sumidouros de carbono e podemos, inclusive, pleitear, em certas condições, créditos de carbono, embora eu não faria disso o elemento principal. O elemento principal é definir uma estratégia de desenvolvimento rural compatível com as condições modernas. Com a nova geração de tecnologias de comunicação podemos pensar na descentralização de uma série de atividades não-agrícolas no mundo rural, o que vai facilitar a plurifuncionalidade das famílias de agricultores, ou seja, temos um enorme conjunto de problemas que devem ser integrados entre si.

Joguem sobre isso uma curva de aprendizado de inovação tecnológica. Onde estão as inovações tecnológicas? Qual o ritmo que podemos prever de aumento da produtividade? Porque a biotecnologia entra nessa visão nas duas pontas da produção. Ela entra de um lado para aumentar a produtividade primária, embora o fato de sermos um país tropical já proporcione uma vantagem comparativa permanente. O trópico, que foi durante décadas considerado como um obstáculo, passa a ser, ao contrário, um fator valorizado, sem esquecer o problema do controle das doenças endêmicas como parte do conjunto das questões a examinar. Por outro lado, as biotecnologias vão servir para abrir o leque dos produtos derivados da biomassa.

Então onde estão as oportunidades? Onde se deve buscar as inovações tecnológicas? Em que momento o etanol celulósico passará a ser uma alternativa competitiva com relação ao etanol da cana? Hoje o Brasil é imbatível, segundo The Economist de Londres: um litro de etanol brasileiro custa vinte centavos de euro, um litro de etanol americano custa trinta centavos de euro e um litro de etanol na Europa custa cinqüenta centavos de euro. Mas esse é o etanol de cana-de-açúcar, agora, quando o etanol celulósico vai virar competitivo?

O responsável pelo financiamento de pesquisas nessa área do governo holandês, por sua vez, diz que está se abrindo uma nova possibilidade para o etanol celulósico porque estão agora trabalhando com uma enzima interessante, colhida no estrume do elefante. Daí acho que seria talvez importante pensar na criação de elefantes no Brasil, sem falar que o meu cenário da próxima crise econômica mundial é o seguinte: primeira fase – todos os automóveis passam a funcionar em cima do etanol; segunda fase – por excesso de zelo das agências de turismo, os safáris na África exterminam os elefantes; terceira fase: o último elefante morre e a economia mundial pára.

Voltando ao nosso tema, acho que temos que fazer uma análise das potenciais inovações tecnológicas. Temos que ter uma prospectiva de desenvolvimento territorial diferenciado por biomas, como já dito, o trópico úmido, o cerrado, o semi-árido, no mínimo. Temos uma série de pontos de entrada possíveis para poder ir construindo cenários da saída gradual do Brasil da civilização do petróleo. É claro que dentro dessa análise precisamos fazer a análise de disponibilidade de solos, disponibilidade de água, etc.

Tudo isso para dizer que acho que chegou o momento de desenvolver um tal estudo. O IEA é ideal para isso, para ver como organizamos os conhecimentos que já temos, como identificamos as lacunas do conhecimento para ir trabalhando e como iniciamos um debate que não deveria ser um debate brasileiro só, mas um debate internacional, não só como substituir o petróleo pelos biocombustíveis, mas sobre o modo de organizar uma estratégia de transição para uma civilização realmente sustentável e, ao mesmo tempo, socialmente includente, jogando com todas as variáveis que eu enumerei nesse texto.

* * *

Ricardo Abramovay – A respeito da exposição feita por Ignacy Sachs tenho uma observação a fazer, mas antes gostaria de fazer duas perguntas que imagino sejam importantes para quem está trabalhando com esse assunto e para quem está pensando sobre ele.

A primeira é a seguinte. Eu noto que antes mesmo de iniciar a exposição sobre a importância e a viabilidade e a urgência da transição que ele está anunciando, Sachs nos diz que o problema para o qual aponta o fim da civilização de petróleo não pode escamotear uma questão de fundo colocada à nossa civilização que se refere, em última análise, ao nosso padrão de consumo. Esse é um tema que vem sendo discutido tanto pelos movimentos ambientalistas, como cada vez mais pelas empresas do ponto de vista da sua responsabilidade social, como DNA Brasil. Não sei se vocês se lembram, mas no ano passado houve um encontro em Campos do Jordão, onde cinqüenta brasileiros mobilizados por Ricardo Semler e por várias pessoas voltadas a pensar o Brasil se reuniram para numa modalidade muito inédita, não eram mesas redondas, as pessoas andavam em duplas, em trios, por Campos do Jordão, conversando sobre temas brasileiros. Isso vai ser retomado agora e um dos temas, por exemplo, vai ser o consumo sustentável.

Portanto, do Relatório Bruntland para cá, em que, na sua opinião, avançou essa discussão sobre mudanças no padrão de consumo?

O ponto de vista habitual dos economistas é que as mudanças nos padrões de consumo serão feitas a partir das sinalizações emitidas aos atores econômicos, aos agentes econômicos, pelo sistema de preços. Claro, nós sabemos que isso, se funciona, funciona evidentemente mal. Portanto, quais são os instrumentos, o que é que se avançou na reflexão sobre isso?

A segunda pergunta é que o cenário que você traça com relação ao da civilização do petróleo nos leva também a uma questão que você não abordou na sua exposição mas que obviamente está presente nas suas reflexões, que é a questão do poder no campo da energia. Afinal, se há uma área das nossas sociedades contemporâneas em que existe uma fantástica concentração de poder é essa. Qual é o cenário que o fim da civilização do petróleo nos traz com relação a isso?

Isso me traz então à reflexão que eu queria fazer a partir da exposição do Sachs, que é a seguinte, eu acho que para quem não trabalha diretamente com temas referentes a desenvolvimento rural, a vinculação que a exposição do Sachs faz entre mudança no padrão energético, aumento da produção da biomassa e luta contra a pobreza por meio do fortalecimento da agricultura familiar, pode parecer chocante. Por quê? Porque nós, como cidadãos, pessoas da universidade, não especialistas, incorporamos um ponto de vista que é aquele da grande maioria dos economistas, segundo o qual a produção eficiente desses meios pelos quais se vai fazer a transição da civilização do petróleo à civilização da biomassa, deverá ser feita sob as formas mais eficientes possíveis, e portanto, e é aí que está o mais importante, sob a forma de unidades que sejam competitivas, que produzam e funcionem numa escala tão grande que, evidentemente, não vão dar lugar para a possibilidade de que, com elas, possam competir unidades familiares, quando mais unidades compostas por pessoas que hoje vivem em situação de pobreza.

Eu queria fazer duas observações com relação a isso. Primeiro não só, claro minha admiração e eu me sinto discípulo de Ignacy Sachs nesse sentido, não só o ponto de vista sem dúvida voluntarista no sentido de que é possível sim fazer com que a vida econômica seja um meio de se promover a luta contra a pobreza, mas esse ponto de vista voluntarista seria completamente vão e inócuo se ele não se apoiasse em fundamentos técnicos, econômicos e sociológicos sólidos. Pois bem, apóia-se, ao menos em dois sentidos importantes, em primeiro lugar naquilo que se refere à especificidade da agricultura. Se alguém lhe disser entre neste avião porque ele é um produto da fabricação familiar aeronáutica, provavelmente você vai preferir entrar no avião da Boeng ou no Air Bus etc. A agricultura, nesse sentido, é um setor que tem uma particularidade técnica que, no mundo todo, faz com que unidades cuja dimensão está ao alcance da capacidade de trabalho de famílias, costumam ser unidades competitivas. A idéia de economias de escalas na agricultura é uma idéia que não pode ser considerada tal como ela é considerada na indústria. Há vários estudos internacionais mostrando isso e essa é a razão pela qual a agricultura é certamente, fora alguns setores de serviços e economia informal etc. mas a agricultura é, no mundo todo, o segmento mais familiar que existe, tanto do ponto de vista da sua composição atual, ou seja, o trabalho predominantemente desenvolvido na agricultura no mundo todo é um trabalho familiar, como do ponto de vista de sua sucessão. A esmagadora maioria de agricultores são filhos de agricultores. Então esse é um elemento importante.

Mas, talvez esse elemento técnico não seja o mais importante, embora ele forneça uma base objetiva para aquilo que está sendo proposto. Talvez o mais importante seja o fato de que nós estamos diante do horizonte da construção de um novo mercado. Ora, temos aí duas possibilidades. A primeira é julgar que mercados são realidades objetivas que correspondem a pontos de equilíbrio entre oferta e procura, dados por um conjunto de mecanismos impessoais e anônimos que são os preços. Essa é uma visão a respeito do que são mercados. A segunda é a visão da sociologia econômica contemporânea, que considera que mercados são estruturas sociais, regras, padrões de interação entre atores econômicos que possuem uma certa estabilidade e que são construídos em função de circunstâncias históricas.

O que o Prof. Sachs está nos dizendo é que, se a sociedade hoje se organiza, isto é, governo, atores privados, organizações sociais, inovadores públicos, inovadores privados e inovadores associativos se organizam de maneira a ocupar espaços importantes neste mercado, não há porque considerar que eles, de antemão, estarão excluídos deste mercado. Os exemplos históricos a partir dos quais organizações de agricultores familiares se organizam para estabelecer relações com mercados dinâmicos, mercados competitivos e conseguem se firmar neles são inúmeros. Evidentemente, esses exemplos são minoritários, exatamente em função de uma questão de correlação de forças e não de uma questão técnica ligada a uma noção abstrata de eficiência.

Portanto, eu acho que o que o Prof. Sachs está nos propondo é uma agenda de pesquisa, mas é, ao mesmo tempo, uma agenda de proposições políticas em torno da maneira como este mercado vai ser organizado e da maneira como diferentes forças sociais terão ou não representação, presença melhor dizendo, nesses mercados.

Luiz Gylvan Meira Filho – Como o senhor e a maioria dos senhores sabem, aqui no Instituto eu tenho me dedicado a um aspecto do problema, o terceiro que o Prof. Sachs mencionou, que é o problema da mudança de clima.

Ontem esteve aqui o conselheiro científico do primeiro ministro Tony Blair, Sir David King. Ele está visitando o Brasil para conversar com pessoas cujos chefes de estado e de governo foram convidados para uma reunião na Escócia no mês que vem, uma reunião do G-8 expandida.

O primeiro ministro Tony Blair convidou Brasil, China, Índia, África do Sul, Coréia do Sul e México, além do G-7 mais a Rússia, ou seja, o G-8 para um debate sobre dois temas: um deles é o problema do desenvolvimento ou de pobreza, dependendo do seu olhar, e o outro é o tema de mudança de clima. De um modo geral, o tema é visto no mundo, hoje, como uma coisa extremamente oportuna porque o Protocolo de Kyoto entrou em vigor com a ratificação pela Rússia. Os Estados Unidos e a Austrália preferiram ficar de fora e, inevitavelmente, meia hora depois que o Protocolo entrou em vigor, o grande debate internacional passou a ser o próximo passo, ou seja, o segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto, ou o Novo Regime ou o Pós-2012, ou Pós-Kyoto, não interessa o nome, mas claramente há que se fazer algo.

Todo mundo que se interessa por esse tema está achando a iniciativa do primeiro ministro Tony Blair extremamente interessante porque é um dos poucos foros onde se o tema for colocado na mesa pelo presidente, no caso o Reino Unido, ninguém pode fugir dele, e nessa mesa estará sentado os Estados Unidos, que preferiu não ratificar o Protocolo de Kyoto, e países em desenvolvimento como Brasil, China, Índia e África do Sul. São países pobres em termos de renda per capita; há várias maneiras de definir o que quer dizer pobre ou em desenvolvimento, eu prefiro dizer que são países que ainda têm uma porcentagem da população ainda não incluída na economia moderna. São países novos. O Brasil começou sua industrialização depois da Segunda Guerra Mundial, a China e a Índia têm porcentagens, frações muito maiores que o Brasil ainda nessa faixa. Isso faz com que pelo fato de ainda terem muita coisa a ser implementada em termos de infra-estrutura energética, transporte etc. são países extremamente importantes no meio desse exercício. Nesse contexto, eu concordo com a avaliação do Prof. Sachs, é notável que no prédio da OECD, na realidade na Agência Internacional de Energia, que é bom lembrar, é um braço da OECD que foi criado em reação à criação do cartel do petróleo, uma reação racional dos países que disseram: se os produtores vão formar um cartel, eu vou me organizar aqui para reagir em conjunto, aumentando o nosso poder de barganha. Então, a alma da Agência Internacional de Energia é essa. E é notável que numa casa como essa se tenha feito uma reunião sobre as opções de biocombustíveis.

Eu acho, mas aí há um claro viés profissional meu, que o problema da mudança de clima passará rapidamente a ser um fator extremamente importante nessa equação. Na medida em que isso for verdade, e a razão para isso é física, na palestra do Prof. David King ele disse que há que se reduzir as emissões de gases de efeito estufa em cerca de 60% até 2050 mais ou menos, do mundo. Considerando que há que respeitar essas frações da população que ainda estão excluídas, ou que ainda não foram incluídas, um certo tanto no Brasil, um pouco mais na China, um bocado na Índia, países inteiros na África, ou seja, há que se criar espaço para que esses países tenham acesso à energia etc. significa também que os países industrializados terão que reduzir mais que 60%. Talvez 70 ou 80%; ontem à noite no Conselho Britânico ele mencionou 80%. É um número que não é calculado, maior que sessenta e menor que cem porque também não se pode fechar os países. Ele usou em outra ocasião, não aqui no Brasil, a expressão de uma nova revolução industrial: nós criamos a revolução industrial, então nós nos propomos a criar outra e há que se fazer isso. Tudo isso dá razão às palavras do Prof. Sachs na medida em que, com calma, não dá para fazer de repente, mas o que se está falando é de uma mudança bastante séria de paradigma.

Eu gostaria, portanto, de fazer duas perguntas ao Prof. Sachs, uma delas é que a gente pensa em energia, energia na forma líquida para colocar em carro, em caminhão etc. há o programa do etanol no Brasil, mas se nós olharmos sob a ótica de mudança de clima, um problema igualmente grande é o do carvão e esse problema foi agravado pelo fato de que, na década de 1970, quando do choque do petróleo, quando da formação do cartel da Opep, todos os países do mundo passaram, com razão, a dar uma prioridade muito grande na agenda política ao problema de segurança de abastecimento. O Brasil teve inteligência, ou sorte, ou mistura de ambos, ao fazer isso, de pular para o lado certo. Naquela época ainda não havia efeito estufa, Protocolo de Kyoto. O Brasil pulou para o lado do álcool. Os Estados Unidos pulavam para o lado errado, quer dizer, o problema foi colocado assim: como é que eu dou um jeito para diminuir a minha dependência externa em termos de fonte de energia? Ele pulou para o lado do carvão porque o carvão é bastante abundante lá. E aí fez investimentos grandes etc. que ainda não foram amortizados. Mas, eu menciono o problema do carvão porque, na realidade, sob a ótica da mudança de clima, e aí o que interessa são as emissões dos gases de efeito estufa, aí há que levar em conta também o carvão e há que fazer nuances ou diferenças, por exemplo, o álcool produzido a partir de milho, nos Estados Unidos, é produzido com um consumo grande de energia, fertilizantes etc. Então, se olharmos por essa métrica, a cana-de-açúcar, ou o álcool feito de cana-de-açúcar no Brasil, é muito melhor para diminuir a emissão de gases de efeito estufa do que o álcool de milho dos Estados Unidos. Dizem-me amigos da área de Biologia que também não é tão óbvio assim que etanol produzido a partir de cana em outros lugares, mesmo nos trópicos, com solos diferentes, tenham o mesmo efeito do que o daqui. Então, se for verdade o que eu falo como meu viés, de que esse fator deve passar a ser importante, haveria que levar, encarar as coisas também sob o ponto de vista dessas emissões, haveria que encarar o carvão, haveria que encarar outras formas de energia. Produção de cimento é uma atividade profundamente intensiva em termos de energia, alumínio é energia pura, a produção básica do alumínio, a produção de ferro e aço também, na realidade se usa carvão aqui em Minas Gerais, carvão mineral como termorredutor, quer dizer, além de reduzir o óxido do minério, é energia que está sendo liberada de lá. Em outras palavras, professor, se esta moda pega, se daqui a pouco, por efeito das conversas do primeiro ministro Tony Blair, ou se cair mais um iceberg grande lá da Antártida, o pessoal daqui a pouco levar um susto grande, daqui a cinco a dez anos, qual é a sua opinião sobre o papel dos renováveis num cenário de energia no mundo mais amplo do que simplesmente o problema do petróleo?

Eu tenho amigos que me dizem, puxa vida, então o Brasil é um lugar bastante espaço, ótimo, a gente tira toda a floresta amazônica e planta coisas lá para abastecer a China. Coisas assim meio futurísticas, mas nem tanto. Então eu queria provocá-lo um pouco para o senhor especular, por favor, sobre o que podem ou pelo menos devem ser essas pressões se esse problema de clima ficar sério.

E a segunda pergunta, Prof. Sachs, tem mais a ver com economia. Uma vez, alguns anos atrás, o Prof. Bresser Pereira virou Ministro da C&T e eu fui encarregado de brifá-lo, explicar para ele o que é mudança de clima; eu pensei: vai ser difícil, ele é economista. Aí eu inventei coisas como o custo marginal de diminuir as emissões, criei coragem e expliquei. Ele olhou bem para aquilo e disse – ó Gylvan, não tem jeito não, esse problema aí que você me trouxe não tem solução, as leis da economia não permitem. Ele me explicou, de uma maneira simplificada, que o tal de mercado em si não vai resolver esse problema, será necessário introduzir, de alguma forma, certos sinais no mercado no sentido de subsídios ou penalidades etc. para as coisas irem um pouco para o lado certo. Aí eu perguntaria, professor, o que é que o senhor acha que pode ser feito para induzir as coisas na direção certa.

Ignacy Sachs – Primeira pergunta do Ricardo, problema da estrutura do consumo. É a variável chave. No jogo de harmonização entre os objetivos sociais, ambientais e econômicos. Os sociais são primordiais, o desenvolvimento é, antes de mais nada, o problema da inclusão social de todos e de trabalho decente, não de trabalho, mas trabalho decente. A economia desempenha apenas um papel instrumental, por importante que seja, ela não é um objetivo em si. Agora, é óbvio que a variável mais difícil de se mexer e ao mesmo tempo a mais importante é aquela que muda a demanda e não aquela que ajusta a oferta à demanda. O que leva a discutir estilos de vida, de transporte, modelos do uso do tempo. A importância que tem para o consumo de energia o fato de a gente voltar para casa para almoçar nas cidades ou não voltar etc.

Tentamos colocar esse problema desde a Conferência de Estocolmo de 1972. Tivemos, em 1974, um seminário cujas recomendações eu estava relendo recentemente. A Declaração de Cocoyoc de 1974 provavelmente contém tudo que se disse depois sobre esses problemas e de uma maneira extremamente contundente. Foi um seminário absolutamente extraordinário porque tivemos Barbara Ward como presidente que serviu de pára-raios. Estavam lá vários dirigentes das Nações Unidas e intelectuais de prestígio. O Presidente do México fez questão de participar da última sessão e endossou as conclusões. Apontamos para o sobre-consumo dos ricos e o subconsumo dos pobres. Alguns dias depois desse seminário, um cavalheiro bastante conhecido no mundo, chamado Henry Kissinger, mandou para as Nações Unidas ameaçando que os Estados Unidos terão que reconsiderar a sua atitude com relação ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Ou seja, fomos parados nessa discussão por alguns anos. Reconstruímos o tema através de uma série de seminários regionais sobre estilos de desenvolvimento e meio ambiente dos quais o mais memorável foi o seminário de Santiago, organizado por Oswaldo Sunkel e do qual saíram dois volumes importantes publicados no México. Fizemos um seminário na África, não muito bom, um seminário em Bangcoc sobre a Ásia e um seminário europeu, porque achávamos que o problema dos estilos de vida dos países industrializados era o mais importante nessa problemática.

O que é que nos aconteceu? Os conselheiros ambientais da Comissão das Nações Unidas para a Europa disseram que estávamos fora da temática ambiental e a coisa morreu. É óbvio que é um tema fundamental. O quanto basta ? – " how much is enough?" – é uma questão gandhiana, ela está no centro do pensamento de Gandhi. Colocamo-la num debate público com a opinião pública sueca num relatório que também circulou muito na época – "What now?", publicado em 1975. Perguntamos quatro questões, eu me lembro de três: vale a pena limitar o consumo da carne, não para salvar as crianças de Bangladesh e sim para salvar a saúde da pessoa? Quantos metros quadrados de alojamento são suficientes ? O que é melhor: possuir um carro particular ou dispor de um bom sistema de transporte urbano e de uma agência onde se pode alugar o carro quando se sai da cidade? Foi um debate na televisão, no rádio e levamos na cabeça. A maioria dos suecos achou que não se deveria limitar nem o carro, nem a carne. E não falamos da cachaça. Você tem toda razão, essa é uma questão absolutamente fundamental.

A questão do poder, das sete irmãs. Claro que é um elemento fundamental de todo esse jogo, mas é interessante observar como as grandes companhias de petróleo estão tentando transformar-se em empresas de energia, porque elas também entenderam que alguma coisa está mudando e têm que salvar a sua pele.

A terceira questão que você levantou, produção eficiente, bom, essa é uma das palavras mais traiçoeiras do vocabulário econômico. Eficiência é o que? Eficiência com relação aos custos? Eficiência com relação aos objetivos sociais? Eficiência com relação aos objetivos ambientais? Toda a nossa briga, pois somos marginais com relação à ortodoxia econômica, tem sido desde os anos de 1970 mostrar que temos que introduzir critérios não só econômicos e sim também critérios sociais e ambientais. Isso me permite responder não na ordem, a sua última pergunta. É óbvio que isso não pode acontecer numa economia de mercado.

Aliás, é interessante observar que para a Rio-92 – eu fui conselheiro do Secretário Geral da Cúpula da Terra, nós circulamos dois documentos que diziam claramente que o desenvolvimento sustentável é incompatível com a economia de mercado pura. Um deles continha uma coletânea de artigos escritos por eminentes economistas, dois deles prêmios Nobel de economia, e outros, publicados pelo Banco Mundial e pela Unesco. Todos diziam mais ou menos – precisamos de uma economia mista no qual o mercado tem uma função importante a desempenhar, mas um mercado regulado, um mercado que sozinho não resolve as coisas. John Robinson costumava dizer que o mercado é míope e insensível socialmente. Portanto, se quisermos ter alguma sensibilidade social e alguma visão a longo prazo, nós teremos que dispor de alguma coisa a mais do que simplesmente o mercado.

Essa é a questão institucional central do nosso século. O que reconstruímos nas ruínas dos paradigmas que herdamos do século passado. Por que o que é que aconteceu no século passado?

Tivemos o socialismo real que morreu com a queda do muro de Berlim, eu não vou me estender sobre o assunto. Tivemos o modelo do Consenso de Washington que, para mim, do ponto de vista intelectual, morreu com a tragédia argentina. Tivemos trinta anos de capitalismo reformado, 1945-1975, que foi contestado pela reação neoliberal. Mas como essa reação neoliberal levou ao Consenso de Washington acho que nós temos que reatar com o capitalismo reformado dos anos de 1945-1975. Não estou dizendo que temos que voltar para ele, temos que reatar com ele. É bom lembrar quais eram as três palavras-chave do capitalismo reformado, que surgiu como uma resposta à catástrofe de 1929 à qual foram dadas três respostas – o fascismo, o socialismo real e o New Deal rooseweltiano. Estas palavras eram: pleno emprego como objetivo social número um, Estado protetor como complemento e planejamento. Quando Von Hayek escreveu o famoso panfleto em 1944 contra o planejamento, ele era o dissidente, todos os outros ao redor estavam planejando.

Eu acho que nós temos que voltar a essas idéias, a importância do pleno emprego, a importância do Estado protetor, a importância mais do que nunca do planejamento, não aquele planejamento do tipo soviético, não tenho tempo para entrar nas diferenças, mas algum tipo de planejamento.

Tivemos mais um paradigma que é muito importante no debate brasileiro, que foi o modelo de crescimento rápido e modernização rápida através da potencialização das desigualdades sociais, o modelo do Brasil do milagre. Taxas de crescimento extremamente altas, modernização e industrialização, tudo que se queira, mas com as desigualdades sociais crescendo. Este é o modelo da China de hoje, este é também em grande parte o modelo da Índia de hoje. O exemplo brasileiro mostra que esse modelo tem limites, ele se esgota, sem falar da herança maldita que ele deixa em termos sociais. Portanto, nós temos que inventar novas formas de organização da Economia, mas com esses parâmetros.

Volto ainda para a pergunta de Ricardo, isso se liga muito com a idéia de Bagnasco – la costruzione sociale del mercato – ou seja, o mercado é uma construção social, nós temos que construir um mercado dentro de uma visão mais ampla subordinada a esses objetivos.

Agora, Prof. Gylvan, do que o senhor disse, primeiro eu gostaria de resgatar uma idéia que foi muito discutida na semana passada em Paris. O enorme potencial para a cooperação Sul-Sul na construção de uma nova civilização do pós-petróleo, e a experiência brasileira que pode servir para outros. Isso foi realçado pelo representante da FAO, pelo representante do Banco Mundial que nos disse que infelizmente ele está em minoria dentro do Banco. São os ossos do ofício. Estou muito contente que o senhor tenha trazido aqui esses números de 60% de redução ou de 80% para os países industrializados, isso visto do outro lado é que, Kyoto mesmo 100% realizado, significa 1/10 daquilo que os países industrializados deveriam fazer.

Primeiro devo confessar que não trabalhei o carvão, embora, pela origem, eu deveria tê-lo feito porque essa era a grande riqueza da Polônia. Existem tecnologias modernas de queima de carvão que reduzem muito o impacto ambiental, leito fluidizado, para quem entende. Dito isso, é óbvio que o carvão é o problema número um, sobretudo na China. A China é um país terrivelmente poluído pelo excesso do uso do carvão. Mas, é óbvio também que nós temos que trabalhar com todas as tecnologias alternativas. Por exemplo, se diz freqüentemente que a energia solar não tem futuro porque requer muito espaço. Eu não vejo problema de limitação de espaço no Nordeste para fazer grandes instalações solares. Agora, não proponho colocar instalações solares no meio de São Paulo. A gente tem que sempre contextualizar as propostas.

O grande debate aí é o nuclear, o senhor não mencionou, nem eu mencionei, embora vindo de Paris eu deveria dizer que todas as soluções passam só pelo nuclear, a França está absolutamente convencida do futuro do nuclear. Dentro do debate do nuclear existe ainda essa questão da fusão, é uma alternativa real ou não?

Há cinqüenta anos se dizia que daí a meio século iríamos ter a fusão, hoje se diz que daqui a meio século vamos ter a fusão, bom, eu não sei, não tenho resposta.

O nuclear é perigoso? não é perigoso? o quanto é perigoso? é um debate que a gente não pode evitar. No começo dos anos de 1970, um grupo de ONGs francesas pediu-me para representá-las num debate sobre a energia em Bruxelas. Eu fiz o milagre de hostilizar todo mundo, ou seja, quando eu disse: o mínimo de energia nuclear como uma estratégia de transição num país que não tem outras energias como a França. Evidentemente o estabilishment francês e Bruxelas não gostaram e as ONGs caíram em cima de mim porque, para elas, eu devia ter dito que, por razões de religião, eu sou contra o nuclear, e que não tem nada dessa história de nuclear por um período de transição. Depois, o Partido Socialista Francês, quando ainda estava na oposição, criou um grupo de trabalho sobre a energia, aliás era presidido por Alain Touraine, que muita gente aqui conhece. Produzimos um relatório no qual propusemos que se parasse e promovesse um grande debate societal, um debate que não pode ser resolvido por cientistas, um debate político por excelência : queremos correr os riscos envolvidos no nuclear ou não ? O risco de um acidente nuclear é mínimo, mas as conseqüências de um grande acidente nuclear podem ser terríveis. Por outro lado, não sabemos o que fazer com os reatores uma vez que chegam ao fim de sua vida útil, há uma série de problemas em que não vou entrar. Eu não tenho uma resposta clara a essas questões, a não ser um sentimento. Elas não podem ser escamoteadas como estão sendo escamoteadas, esse deveria ser um grande debate social, porque aí não há nenhuma evidência científica que permita eliminar o lado político e ético das soluções a serem tomadas.

Por isso acho que nós temos que colocar o futuro energético da humanidade no centro do verdadeiro debate político. Isso não é um assunto para especialistas, é um assunto para cidadãos, e não é um assunto para ser resolvido por um referendo. Você é a favor ou contra a energia nuclear? É um assunto que requer uma pedagogia social, demorada, tal como a questão das mudanças climáticas. Estamos terrivelmente carentes de um trabalho junto às opiniões públicas do mundo sobre quais são os verdadeiros desafios, quais são os problemas, onde estão as decisões que a sociedade deve tomar e isso, na realidade, remete a um assunto que não foi discutido: Qual é o conteúdo que se deve dar a essa palavra tão freqüentemente citada, mas de uma maneira vaga, que é a democracia?

Ignacy Sachs é professor honorário na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS) em Paris e co-diretor do seu Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo (CRBC). @ –


Page 2

ENERGY AFFAIRS

From a petrol-based to a new green civilization

Ignacy Sachs

ABSTRACT

Peak oil, the tapering of petroleum production, is drawing nearer. The resulting steep rise in oil prices will enhance the price competitiveness of biofuels – ethanol as additive or replacement for gasoline, and biodiesel as additive or replacement for diesel oil. Brazil meets all the requirements to become a large producer and, in time, an exporter of biofuels – reducing the emission of greenhouse gases, generating numerous decent job opportunities for family farmers, and becoming less dependent on the geopolitics of petroleum. The substitution of biofuels for petroleum-based products is only part of an energy strategy in which efficiency and conservation must have an overriding role. On the other hand, the production of biofuels should be seen within the larger setting of the construction of a modern biomass civilization, for which the tropical countries have highly advantageous conditions and which would be an essential contribution to sustainable and encompassing development.

Keywords: Oil, Biofuels, Ethanol, Biodiesel, Climate Changes.

Not long ago, the International Energy Agency based in Paris, a branch of the OECD, organized an international seminar on biofuel options, together with the United Nations Foundation and the Brazilian government. Brazil was represented by a strong delegation led by Minister Rodrigues. In a sense, this seminar was a coming-of-age for biofuels, or at least heralded a new situation, as explained by a conjunction of three factors:

1.A great number of geologists believe that oil output will peak in the next ten to twenty years. This does not mean that there will be no more oil, but simply that the new reserves apparently do not compensate the extraction. We are entering a period of depleting oil reserves that could last a century. However, this is not important in itself, what matters is that we find ourselves in a time of permanently high prices caused by diminishing supply and still growing demand. This is the first factor, oil prices have hit sixty dollars a barrel, already way above the margin that starts to make biofuels competitive. If this proves a relatively long-term phenomenon, we could say that we have entered a new age.

2. The second reason is geopolitical, in other words, the mounting costs that the United States and its allies have to shoulder in order to maintain the supply-lines through the Middle East. More and more North-American specialists are starting to think that it would be more worthwhile to invest in alternatives than to continue trying to administrate this situation.

3.The third factor, which I consider as very important, though I do not believe it has led to the new situation, is the environmental problem. It is already clear that, even if the Kyoto Protocol were implemented fully, it would still be far too little in terms of cutting greenhouse gas emissions.

The combination of these three factors recently led the eminent North-American energy specialist, Amory Lovins, to publish a new book. In the 1970s Lovins wrote The Soft Energy Paths, and later co-authored a work much discussed by environmentalists entitled Factor Four, in which he postulated doubling world GNP while halving resource use, especially in energy. His new book carries a very telling title, Winning the Oil Endgame, the final phase of petrol-based liquid fuels, not because we are going to run out of oil, but because none of the energy revolutions of the past was motivated by resource exhaustion, and because of the emergence of a cheaper, more efficient alternative.

It is interesting that Lovins' report was co-financed by the Pentagon and prefaced by George Schultz, one of the great Republican ministers of the Reagan era.

Almost simultaneously, the US Departments of Agriculture and Energy published a joint report in which they claimed that the USA could put an end to their dependence on oil within the next 25 years through a massive biofuel production program requiring only a billion dry tons of biomass per year.

Lovins' argument, which follows similar lines, basically rests upon a technological fix, a new generation of ultra-light vehicles that will weigh much less than present-day cars and use under half the amount of fuel. This will enable a 50% cut in the dependence on oil imports, a further 25% will come from the biomass program and the remaining quarter from a more efficient use of gas and the application of gas surpluses in hydrogen production. This, in a nutshell, is the Lovins Proposal.

The proposal laid out by the US Departments of Agriculture and Energy for meeting 25% of this demand for liquid biofuels is based on another important technological innovation, one well-known to Brazil, albeit not yet in practice, I believe, which is the production of cellulosic ethanol, that is, the production of ethanol from cellulose. This allows us to consider a whole new base of raw-materials to that currently in use, as all agricultural residues can serve as feedstock for cellulosic ethanol. In fact, in the North-American study, corn, today the main base for alcohol production in the United States, would account for a mere 5 or 6% of that base, with over half of the feedstock coming from agricultural residues.

We therefore have two technological innovations in the pipeline: a new generation of ultra-light vehicles and a new type of fuel, namely cellulosic ethanol. The company Dedini took out a patent on a method of producing ethanol from bagasse, which would be exactly this new type of fuel. According to the published data on cane-based alcohol production, this would enable us to practically double alcohol outputs, thus reaching around 90%.

This is the international outlook. Obviously, within this panorama there is special interest in Brazil as a pioneer in the field, with over thirty years experience through its Proalcool Program. In fact, the interest is two-fold: first of all, there is the wish to better understand the Brazilian experiment, which was very well presented by the Brazilian delegation in the figure of Dr. Gylvan; and secondly, as Brazil is so competitive in ethanol, why not start thinking about a new global market, with ethanol as a commodity? Shall we buy cheap ethanol from the southern cone to drive our northern cars? This would explain why the oil companies were joined at the table by two of the world's leading car manufacturers, Peugeot and Toyota, which co-financed the event.

Two observations are fundamental at this point. The first warns against reducing the end of the petrol-based civilization exclusively to the technological problems of modifications in car manufacturing or the production of a new type of fuel. Obviously, the problem must be framed within the broader context of an energy strategy in which the main variable is a non-pollutant and often cheaper fuel, in other words, it is about the fuel type whose consumption has been foregone. It is important to address energy conservation and the redefining of the profile of energy demand from the angle of lifestyle choices, the role of transport and the substitution of individual modes of transport, etc. The whole discussion on the shape that our cities will take pertains to a wider problem of which the construction of more efficient vehicles and biofuel production is an important element, but not the end-solution.

The second and more important observation is that, rather than treating biofuels as a commodity-based market supplied by monoculture activities and designed for economic efficiency, I would prefer to place biofuels within the broader context of what I call the modern biomass-based civilization.

If we really are nearing the end of oil domination – should we say a centuries-long interlude of domination first by coal and then by oil – we are therefore, in a certain sense, returning to solar power captured by biomass, though this is by no means a step backwards, but rather a return at an infinitely higher level of the spiral of knowledge. The biomass-based civilization not only allows us to produce food, but also animal feeds, building materials, green fertilizers, biofuels, industrial feedstocks (fibres, plastics, etc.), pharmaceuticals and cosmetics. The range of products derived from biomass is enormous and can be further boosted through the use of biotechnologies at either end of the process: to increase biomass yields and broaden the spectrum of biomass-derivatives. The key question is how much cropland we actually have at our disposal, and on this matter opinions diverge wildly. On one hand, the camp of environmentalists, represented by Lester Brown, claims that we will face a shortage of arable land on which to produce food. On the other, the FAO's position is diametrically opposed to the Malthusian thinking of Lester Brown and company. I recently examined an FAO forecast study that found that Africa and Latin America are using only 20% of available cropland. I do not want to go too deeply into an analysis of this subject, essential to a discussion on the perspectives of a biomass-based civilization, but suffice it to say that this theme should not be approached in terms of juxtaposed monocultures, but rather as a wider context of integrated systems for the production of foodstuffs and energy.

It was a program I directed at the United Nations University some fifteen years ago, entitled "The Food-Energy Nexus", that made me think deeply about the way different forms of production interlink within integrated systems. Of course, this debate must consider what the French agronomists call the doubly-green revolution, or what the world-renowned Indian agronomist MS Swaminathan calls the "Evergreen revolution", in other words, a second generation of green revolution that surpasses the first (which was essentially productivist in scope) and proposes an agriculture that seeks reasonable yields, but in harmony with nature, and which is, moreover, oriented toward small farmers.

In fact, the debate on the biomass-based civilization allows us to address one of the greatest problems of the century, if not the greatest and most difficult; the social problem par excellence, namely the employment issue, the provision of decent work for all; and part of this issue is the kind of future that lies in store for the world's two billion small farming families. It is utterly absurd to attempt to envisage the rest of this century without recognizing rural development as an abiding and crucial problem. We can't simply sweep all these people into shantytowns, and if they do end up there, we will have a catastrophe of untold proportions on our hands.

Alongside this first problem, the social problem, comes the environmental one. We have to stop emitting greenhouse gases as soon as possible; we simply have to abandon fossil fuels. The third problem, which I have already mentioned, is geopolitical. As long as we continue with the current oil-based geopolitics, we risk shuttling from one war to another, facing the uncertainties and enormous costs generated by competition for oil sources among the industrial powers.

The problematic I am discussing here resides where these three dimensions intersect. The crux is to understand all the possible ramifications of soil use. If I start producing ethanol feedstock from agricultural residues, I am not going to have to set aside hectares in order to do it. If, to take the example of a project I visited in the south of Bahia in April, I can produce animal protein by farming fish kept in cages and fed exclusively with banana and cassava leaves, this protein is not going to compete for the hectares I need on which to raise beef stock. The shift from free-range cattle to semi-confined and confined cattle-raising is another variable in this debate on land availability.

And so, not to prejudge which countries have the capacity for a 100% switch from petrol to biofuels, or which countries will have surpluses to plough into this new commodity market, I think we should analyze each case individually, country by country, and on this note I now turn to Brazil.

If there is one nation for which the end of the petrol-based civilization is a real possibility, not tomorrow, but in the next twenty to thirty years, that country is Brazil. If there is one nation that can really think about building a modern biomass-based civilization, it is Brazil. It has the world's largest reserve of biodiversity, an enormous stock of cropland at its disposal without needing to fell a single Amazonian tree, various climates, a good to excellent endowment of water resources in most of its territories and, another important factor, an agronomical and biological research corps of international quality and an industrial sector capable of providing the equipment for the production of ethanol and biodiesel. All the elements are in place for Brazil to proceed in this direction.

Explique por que Vivemos numa civilização do petróleo

The fact that Brazil has practically reached self-sufficiency in oil does not mean it should refrain from pushing ahead with the substitution of oil whenever possible, as the oil it chooses not to use can be sold as a commodity on the international market. The transition from petrol-based to biomass-based civilization will take decades to complete, so in the meantime Brazil will be able to continue prospecting and selling its oil at most likely very high prices, as alcohol will be extremely competitive in relation to petrol with oil at fifty dollars a barrel. Naturally, it makes much more sense to sell oil at fifty dollars a barrel and run the cars at home on alcohol, which costs much less. And as Brazil has the recent innovation of flexi-engines, there is absolutely nothing to prevent it from steaming ahead in the area of ethanol.

Things become much more complicated in the area of biodiesel, as we do not have the same experience to draw from. Last year saw the creation of the Esalq Biodiesel Refinery, but there have been no definitive results so far, as the plant is working with thirteen or fourteen different oils. Of course, the country will need different biomass strategies, as it is one thing in the wet tropics, another in the semi-arid, and different still in the scrubland. Oil palm seems to be a promising prospect in the wet tropics, firstly, because there is a successful foreign precedent in Malaysia for the large-scale production of oil palm as a foodstuff and, secondly, because we have been working for some decades now toward a model of land reform for the Amazon based on the idea of a cooperative of 500 small farmers, each of which would receive ten hectares of land on which to grow oil palm and another ten for agro-forest and farming activities for their own subsistence. For each five thousand-hectare area producing oil palm, Agropalma, a national company with international-class technology in this field, has agreed to build a processing plant, on the following four conditions:

1.that it provides the saplings;

2.that it also provides the technical assistance;

3.that it has exclusive right-to-buy;

4.that it buys at a price calculated as a percentage of the global palm oil price.

These strike me as very reasonable proposals. A study conducted by three well-known specialists, Professor Kageyama, on the staff of both the Ministry of the Environment and Esalq, Professor Ademar Romeiro, from Unicamp, and Dr. Kitamura, director of Embrapa Meio Ambiente, showed that these ten hectares of oil palm (being a continuous production process) can keep one man in work for an entire year, while the other ten hectares effectively generate employment for one to two members of that farmer's family. Five hundred such families taken together comprise an agro-industrial village in which further job creation through the provision of related transport, technical, social and commercial services would generate very favorable employment prospects for these families.

Though this proposal was enthusiastically received by the government of Amapá State four or five years ago, it never left square one; but this is the type of proposal that can be made.

However, in semi-arid regions, the options should be rather different. In much of the Northeast, the choice will probably fall on castor oil, as Brazil has experience in this crop, which was used as industrial feedstock for many years. The latest fiscal incentive law is worth mentioning here for its interesting composition, which sees the incentives doubly-qualified per region and size of producer, with large fiscal incentives for the small farmer in the Northeast, smaller incentives for large producers in the Northeast, smaller still for small producers in the South and practically no incentives for large producers in the South.

I think we have enough elements to start drawing up an agro-energy map of Brazil. Minister Rodrigues is interested in creating a network of Brazilian institutions that work with agro-energy and I think that among the projects under appraisal is the creation of an Agro-energy Institute and an Agro-energy Station at Embrapa, though still at a very embryonic stage.

I would like to further stress the fact that what biofuels present us is a golden opportunity for rethinking rural development, not just for meeting the fuel demands of cars. Therein lies the crux of the matter: how does one insert this perspective within a more integrated vision of rural development? How do we mobilize this enormous contingent of small farmers who are out there and who need support, assistance and guidance toward a less precarious situation? How can we integrate the production of biofuels with other forms of production, agrarian and non-agrarian? Because not everything rural is simply agrarian. How do we integrate this with the question of forest management and forest plantations, bearing in mind that, from an environmental perspective, it is always more interesting to go for perennial rather than annual species, and that by planting trees we are generating carbon sinks that could, in some cases, entitle the grower to carbon credit, although I would not make this the key objective. The key objective should be to define a rural development strategy that is compatible with modern conditions. With the new generation of communication technologies we can now consider the decentralization of a series of non-agricultural activities in rural areas, thus heightening the plurifunctionality of traditionally farming families. In short, we have a host of issues that should be integrated.

Add to this the learning curve of technological innovation. Where are the technological innovations? What pace of productivity increase can we expect? Why does biotechnology come into the question at either end? It comes in at one end in order to boost baseline productivity, although as a tropical country we already enjoy a permanent competitive edge. Brazil's tropical nature, long viewed as an obstacle, is now seen as the opposite, as a value-added factor, though we must not forget that the control of endemic diseases should rank among the aspects most in need of examination. At the other end of the equation, biotechnology will also expand the range of biomass by-products.

So where are the opportunities? Where should we look for technological innovations? At what point does cellulosic ethanol emerge as a competitive alternative to cane-based ethanol? Today, according to The Economist, Brazil is unbeatable: one liter of Brazilian ethanol costs twenty euro-cent compared with thirty euro-cent in the United States and fifty euro-cent in Europe. But that is ethanol from sugar cane, when will cellulosic ethanol become competitive?

The member of the Dutch government responsible for funding research in this area says that new possibilities are opening up for cellulosic ethanol, as they are now working on an interesting enzyme extracted from elephant dung. So Brazil might want to start thinking about breeding elephants, not to mention the fact that my scenario for the next global economic crisis goes as follows: phase one – all cars start running on ethanol; phase two - due to excessive zeal on the part of tourist agencies, African safaris end up wiping out the elephants; phase 3 - the last elephant dies and the global economy grinds to a halt.

Going back to our main theme, I think we need to analyze the potential technological innovations. As already mentioned, we need to have territorially distinct prospects for biomass production, at least in the tropical, semi-arid and scrubland biomes. Brazil has a series of possible exit signs to follow in the construction of a gradual farewell to the petrol-based civilization. Of course this analysis must encompass an analysis of soil use, water availability, and so forth.

This is just to say that the time has come to conduct such an analysis. The IEA is ideally suited to the task, to seeing how we organize the knowledge we already have, how to identify gaps in that knowledge and how to start a debate that is not exclusively Brazilian, but international, not exclusively about switching from petrol to biofuels, but about how to organize a strategy for the transition to a truly sustainable, truly inclusive society, playing all the cards I have outlined in this text.

* * *

Ricardo Abramovay – I have an observation to make on the exposition delivered by Ignacy Sachs, but first I would like to ask two questions that I imagine must be important to everyone working with or thinking about this subject.

The first is as follows: I noted that, even before beginning his exposition on the importance, viability and urgency of the transition he is announcing, Sachs makes it clear that the problem to which the end of the petrol-based civilization is pointing should not eclipse the broader question to our civilization, which concerns, in the last analysis, our consumer behavior. This is a theme that has been under discussion both within the environmental movements and increasingly in companies, like DNA Brasil, under the auspices of social responsibility. I don't know if you may recall, but last year there was a meeting held in Campos de Jordão at which fifty Brazilians, mobilized by Ricardo Semler and others dedicated to thinking Brazil, came together in the most unusual format. There were no roundtables, instead, people just strolled about Campos de Jordão in twos and threes discussing Brazilian themes. This initiative is going to be repeated and one of the themes will be sustainable consumption.

So, since the Bruntland Report, in your opinion, in what respects has the discussion on changes in consumer behavior advanced?

The customary position of the economists is that changes in consumer behavior will follow the cues issued to economic agents and players by the pricing system. Of course, we all know that if this is how things work, it works very badly. So what are the tools, what progress has been made on this matter?

The second question is that the scenario you develop in relation to the petrol-based civilization leads to an issue that you did not address in your talk, but which is clearly present in your thoughts, namely the question of power in the field of energy. After all, if there is one facet of our society in which there is a fantastic concentration of power, this is it. What does the end of the petrol-based civilization have in store for us in relation to this?

This brings me to the reflection I would like to make on the exposition made by Sachs, which is as follows: for people who do not work directly with rural development themes, the connection Sachs makes between a change in the pattern of energy consumption, an increase in biomass production and the fight against poverty by strengthening small landholders may come as something of a shock. Why? Because we, as citizens, university people, non-specialists, have incorporated a point of view that is consensus among the majority of economists, namely that the production of the means by which to effect the transition from the petrol-based civilization to biomass civilization should be entrusted to the most efficient possible forms, namely – and this is the crucial point – competitive units that produce and function on such a large-scale that they leave no room for any possible competition from smallholders, especially not from units composed by people now living in a state of poverty.

I would like to make two observations in relation to this. Firstly, while I recognize, and in this I am an admirer and disciple of Ignacy Sachs, that the undoubtedly voluntarist perspective can indeed make economic life a means of combating poverty, this voluntarist perspective would be entirely vain and neutered without a solid technical, economic and sociological basis. Well, it rests, first and foremost, and in at least two key respects, on what can be called the specificity of agriculture. If someone were to say 'come on-board this plane, which is the product of family-based manufacture', I am sure you would probably prefer to take a Boeing or an Airbus. Agriculture, in this sense, is a sector that has a technical particularity, the world over, in that family-based productive units do tend to be competitive. We cannot consider economies of scale in agriculture in the same way we do in industry. There are various international studies that show that this is precisely why agriculture is, worldwide, with the exception of some service sectors and the informal economy, the most family-based sector there is, both in its current composition, predominantly family-based throughout the world, and in terms of its succession. The vast majority of farmers are sons of farmers. So this is an important element.

But this technical aspect is perhaps not the most important one, though it does provide an objective base for what is being proposed. The most important point may be that we are at the threshold of the construction of a new market, for which we have two possibilities. One is to take the line that markets are objective realities that correspond to points of balance between supply and demand as established by impersonal and autonomous mechanisms – prices. This is a view concerned with what markets are. The second is a position of contemporary economic sociology that markets are social structures based on reasonably stable and time-honored rules, as well as patterns of interaction among economic agents.

What Professor Sachs is telling us is that if society organizes itself – that is, if the government, private agents, social organizations, public and private innovators and associative innovators organize themselves – to occupy important places in this market, there is no reason to think that they would be excluded from it. History is full of instances in which family smallholders organized themselves to establish relationships with dynamic markets, competitive markets, and succeeded in gaining a foothold. Of course, such cases are a minority, precisely in function of a correlation of forces, rather than a technical question concerning such an abstract notion as efficiency.

And so, I think that what Prof. Sachs is proposing is a research agenda, but, at the same time, an agenda of political propositions as to how this market should be organized and whether the different social forces should have representation; or to put it more clearly, whether they should be present within this market.

Luiz Gylvan Meira Filho - As Professor Sachs and most of those gathered here will know, I have been dedicating myself, here at the Institute, to one aspect of the problem, the third one mentioned by Prof. Sachs, which is the problem of climate change.

Yesterday we had a visit from a scientific advisor to Prime Minister Tony Blair, Sir David King. He was here in Brazil to talk to people whose heads of State and governments have been invited to a meeting in Scotland next month, an expanded meeting of the G-8.

Tony Blair invited Brazil, China, India, South Africa, South Korea and Mexico to join the G-7, plus Russia, in other words, the G-8, for a debate on two themes: development, or poverty, depending on which way you look at it, and climate change. In general, the theme is seen worldwide as rather opportune, as the Kyoto Protocol came into vigor with the Russian ratification. The United States and Australia opted out. Inevitably, no sooner had the protocol come into effect than the international debate shifted to what the next step should be, the second tier to the Kyoto Protocol, or the New Regime, Post-2012 or Post-Kyoto, whatever you want to call it, but clearly something has to be done.

Everyone concerned with the theme has found Tony Blair's initiative extremely interesting, as it is one of the few fora in which the theme has been placed on the table by the head of State, in this case the United Kingdom, where no-one can avoid it; and at that table there'll be the United States, who chose not to ratify the Kyoto Protocol, as well as developing countries like Brazil, China, India and South Africa. These are countries that may be poor in terms of per capita incomes, but there are many ways to define 'poor' or 'developing'; I prefer to define them as countries in which there is still a percentage of the population that has yet to be included in the modern economy. These are new countries. Brazil only started to industrialize after the Second World War, the percentages, or fractions, in this bracket in China and India are far bigger than in Brazil. This means that, as they still have much to implement in terms of energy infrastructure, transport, and so on, they are very important countries in this discussion. In this context, I agree with Professor Sachs' assessment. It is noteworthy that it was in the OECD building, in fact in the offices of the International Energy Agency, which, it is important to remember, is a branch of the OECD created in response to the formation of the oil cartel, a rational response on behalf of those who said: if the producers can form a cartel, then I'm going to organize myself so that I can react in conjunction too, increasing my bargaining power. So, the soul of the International Energy Agency is this, and it is noteworthy that it was there, at a venue like this, that a meeting on biofuel options was held.

I think, but of course this is clearly my own professional bias, that the problem of climate change will swiftly become an extremely important factor in this equation. And the reason for this is physical. In his lecture, Prof. David King said that greenhouse gas emissions need to be reduced by roughly 60% by 2050, more or less, worldwide. Considering that we have to respect those swathes of the population that remain excluded, or have yet to be included, a good portion of which are in Brazil, a little more again in China, another slice in India, entire nations in Africa, in other words, if we have to create space for these countries to gain access to energy, etc., then the industrialized nations will have to cut emissions by more than 60%. Maybe 70 or 80%. Last night, at the British Council, he was talking in terms of 80%. It's a figure that is not calculated, it's higher than 60% but less than 100%, because you can't just shut down whole countries. On another occasion, not here in Brazil, he used the expression 'a new industrial revolution'. We created the industrial revolution, so now we have to set ourselves the task of creating another one, and this has to be done. All of this is in full agreement with what Prof. Sachs has been saying; what we need – calmly, you can't do it all of a sudden – is a very serious change of paradigm.

So I would like to pose two questions to Professor Sachs. One is that, when we think about liquid fuel, to run our cars and trucks on, here in Brazil we have the ethanol program, but if we look through the lens of climate change, an equally serious problem is coal, and this was aggravated by the fact that, back in the 70s, with the oil crisis and the formation of Opec, the political agendas of all the nations of the world quite rightly started prioritizing assured supply. Brazil was intelligent or lucky enough to mix both, and in so doing jumped in the right direction. Greenhouse effect had not emerged back then, and there was no Kyoto Protocol. Brazil opted for alcohol. The United States jumped the wrong way, I mean; the problem was framed more or less like this: how do I manage to reduce my dependence on external energy sources? They opted for coal, because coal was abundant there. They invested heavily in the sector, etc., and this still hasn't been amortized. However, and I mention the coal problem because, in fact, from the perspective of climate change, and greenhouse gas emissions are the key issue here, we have to take coal into account and recognize certain nuances or differences. For example, the production of alcohol from corn in the United States consumes lots of energy, fertilizer, etc. So when we look at it through this lens, the alcohol produced from sugar cane here in Brazil is much better in terms of cutting greenhouse gas emissions than the alcohol from the US. Some biologist friends of mine tell me that it is not a foregone conclusion that cane-based alcohol produced elsewhere, even in the tropics, from different soils, would have the same effect as that produced here. So if what I say is true, despite my bias, that climate change will prove an important factor, then we will have to face things, approach things from the perspective of these emissions, we'll have to start looking at coal, we'll have to start looking at other forms of energy. Cement production is extremely energy-intensive; aluminum, then, is pure energy, in the basic production of aluminum, and the production of iron and steel too, we use coal here, in Minas Gerais. Coke is used in the thermo-reduction anodes, I mean, in addition to reducing the mineral oxides, latent energy is also being released there. In other words, professor, if this trend sticks, if, in the short haul, whether through the conversations of Tony Blair or if another large iceberg collapses in the Antarctic, if everyone takes a huge fright, five, ten years from now, what is your opinion on the role of renewable fuel sources in the broader global energy context, not just oil?

I have friends who say things like, hey look, Brazil has so much space, why don't we just clear away the Amazon and plant a whole heap of stuff to supply China. Futuristic things like that, but not all that futuristic. So I would like to coax you into a little speculation, if you don't mind, as to what you think the pressures will be if and when the climate problem turns ugly.

My second question, Prof. Sachs, has more to do with the economy. Once, some years ago, Professor Bresser Pereira became Minister for Science and Technology and I was responsible for briefing him, to explain all about climate change. I thought to myself: it's going to be hard, he's an economist. So I invented things like the marginal cost of reducing emissions, got my courage up and explained. He studied the thing long and hard and said – Gylvan, there's no way. There's no solution to this problem you've brought to me, the laws of economics don't permit it. Then he explained to me in simple language that this market-thing can't solve the problem on its own, we would have to somehow send signals to the market, in the form of subsidies or fines, etc., before things would start to edge in the right direction. So I ask you, professor, what do you think can be done to induce such a movement?

Ignacy Sachs - First, Ricardo's question about the problem of the structure of consumption. It's a decision tree. It's the juggling act of harmonizing economic, social and environmental goals. The social goals are primordial, development is, before all, the problem of social inclusion and decent work for all; not just any work, decent work. The economy plays a merely instrumental role. However important that might be, it is not the end in itself. Now, obviously the most difficult variable to adjust, and the most essential, is that which changes demand, not that which adjusts supply to meet demand. And that means discussing lifestyles, transport habits and time use; for example, the difference it makes to energy consumption whether we cityfolk go home for lunch or not, etc.

We have been trying to pose this question since the Stockholm Conference in 1972. In 1974 we had a seminar whose recommendations I recently re-read. The Cocoyoc Declaration of 1974 probably contains everything that has been said about these problems ever since, and in a very impactful manner. It was an absolutely extraordinary seminar because we had Barbara Ward as president and lightning-conductor in chief. Also present were various United Nations directors and renowned intellectuals. The Mexican President made a point of attending the closing session as a way of endorsing its conclusions. We drew attention to the hyper-consumption of the rich and the under-consumption of the poor. A few days later, a gentleman well-known to us all, Henry Kissinger, sent his messengers to the UN threatening that the United States would have to reconsider their stance on the United Nations Environment Program.

In other words, our discussions on the issue were locked up for a few years. We rebuilt the theme through a series of regional seminars on styles of development and the environment, of which the most memorable was perhaps the Santiago Seminar, organized by Oswaldo Sunkel, which gave rise to two important volumes published in Mexico. We held another seminar in Africa, which was not very good, and another in Bangkok on Asia, followed by another one in Europe, as we thought the problem of lifestyles in the industrialized world was the most important aspect of the whole problematic.

And what happened? The environmental advisors on the United Nations Commission for Europe said that we were straying from the environmental theme and the whole thing died right there. It is obvious that it is a fundamental theme. How much is enough? – it's a Gandhian question, it's at the core of Gandhian thought. We introduced it to a public debate with the Swedish public opinion in a report widely circulated at the time, entitled "What now?" and published in 1975. We asked four questions, three of which I remember: would it be a good idea to limit meat consumption, not to save the children of Bangladesh, but to protect people's health? How many square meters of living space are enough? What's better, having a private car or a good public transport system and a rental service for when you need a car to go somewhere out of town? The debate was on TV and radio and we got it in the neck. The majority of the Swedish thought that we shouldn't limit cars or meat. And we said nothing about drink. You are absolutely right, this is a crucial issue.

The question of power, of the seven sisters. Naturally this is an essential element of the whole game, but it is interesting how the big oil companies are trying to transform themselves into energy companies. It's as if they know times are changing and they want to save their skin.

The third question you raised, concerning efficient production. Indeed, this is one of the most treacherous words in the vocabulary of economics. Efficiency of what? Efficiency in relation to costs? Efficiency in relation to social goals? Efficiency in relation to environmental goals? Our whole struggle since the 70s, as we are outsiders in relation to the economic orthodoxy, has been to show that we have to introduce criteria that are not merely economic, but social and environmental as well. This brings me to another of your questions, though not in the order they were put, which is your last question. It is obvious that this cannot happen within a market economy.

In fact, it is interesting to recall that at Rio-92 – I was advisor to the Secretary General of the Earth Summit - we circulated two documents which clearly stated that sustainable development was incompatible with a pure market economy. One of these, published by the World Bank and UNESCO, was a collection of articles by eminent economists, two of whom were Nobel laureates. They all said more or less the following: we need a mixed economy in which the market has an important role to play, but a regulated market, a market that is not the end all and be all. John Robinson used to say that the market is short-sighted and socially insensitive. So if we want social sensitivity and long-term vision we need something more than just the market.

This is the key institutional question of our century. What should we build out of the ruins of the paradigms inherited from the last century? Why did what happened last century actually happen?

We had real socialism, which died with the fall of the Berlin wall. I'm not going to go into the matter. We had the Washington Consensus model, which, for me, from an intellectual point of view, died with the tragedy in Argentina. We had thirty years of reformed capitalism, 1945-75, which was contested by the neoliberal backlash. But as this neoliberal reaction led to the Washington Consensus, I think we have to reactivate the reformed capitalism of 1945-75. I'm not saying we should return to it, but we have to reactivate it. It is worth remembering the three key words of reformed capitalism, which surged as a response to the catastrophe of 1929, to which there were three reactions: fascism, real socialism and Roosevelt's New Deal. Those three mottos were: full employment as the social goal; a protective State as a complement; and planning. When van Hayek penned his famous pamphlet in 1944 against planning, he was a dissident, everyone else around him was planning.

I think we have to return to these ideas, the importance of full employment, of a protective state, and, more than ever, of planning – not planning in the Soviet sense, I don't have time to go into the differences, but some form of planning.

We had another very important paradigm in the Brazilian debate, which was the model of rapid growth and rapid modernization by tensioning social inequalities; the Brazilian miracle model. Extremely high growth rates, modernization and industrialization, everything we wanted, but with yawning social inequality. This is the model of China today, this is also largely the model of present-day India. The Brazilian example shows that this model has limits; that it runs out of steam, to say nothing of the damning legacy it leaves in social terms. So we need to invent new forms of organizing the Economy, but within these parameters.

Returning to Ricardo's question, this is connected with Bagnasco's idea – la construzione sociale del mercato – in other words, the market is a social construction and we have to build a market from within a wider vision that is subordinated to these goals.

Now, on the observations made by Prof. Gylvan, I would like to start by getting back to an idea that was discussed at length last week in Paris. The enormous potential for South-South cooperation in the construction of a new post-petrol civilization and how the Brazilian experience can serve as a model for others. This was underscored by the FAO representative, the World Bank representative, who said that he was unfortunately in the minority at the Bank. It goes with the territory. I am very glad you have brought these numbers to the discussion – 60% to 80% reductions for the industrialized world – as this, seen from another angle, shows that Kyoto, even 100% implemented, is still only 1/10 of what the industrialized nations should be doing.

First of all, I must confess that although I have not discussed coal, I should have done, as this is a great asset of Poland. There are modern coal-burning technologies that greatly reduce environmental impact, such as fluidized bed combustion, for those who are interested. That said, it is clear that coal is the number-one problem, especially in China. China is a terribly polluted country because of excessive coal-burning. However, we clearly need to work with all the technological alternatives at hand. For example, it is often said that solar energy has no future because it requires too much space. I don't see space being an obstacle to building large solar plants in the Northeast. Now, I would not suggest doing the same in the middle of São Paulo. We have to know how to contextualize the proposals.

The great debate is nuclear energy, which neither you nor I mentioned, although returning from Paris I can say that all of the proposed solutions are coming through the nuclear door; France, for example, is convinced that the future is nuclear. In the nuclear debate we still have the question of fission. Is it a real alternative or is it not?

Fifty years ago they used to say that we'd have fission in the next half-century. Today, we're still saying that we'll have fission in the next half-century. Will we? I don't know, I don't have the answer.

Is nuclear energy dangerous? Is it not? How dangerous is it? It's a debate we can't avoid. In the early 70s a group of French NGOs asked me to represent them at an energy debate in Brussels. I worked the miracle of managing to upset everybody by saying that nuclear energy should be considered, at least, as a transitional energy strategy for countries, like France, that had no other available energy source. Obviously, the establishment in France and Brussels didn't like that, while the NGOs were furious because, as far as they were concerned, I should have said I was against nuclear energy on religious grounds, period, with none of this transitional business. Later, the French Socialist Party, still in opposition at the time, created a working group on energy, presided by Alain Touraine, whom many of you know. We produced a report in which we proposed that we stop and launch a major social debate, not one to be decided by scientists, but a political debate par excellence: do we want to run the risks posed by nuclear energy? The risk of a nuclear accident is minimal, but the consequences of a large leak can be catastrophic. On the other hand, we still don't know what to do with the spent reactors, there's a series of problems which I won't go into here. I don't have a clear answer to these questions, only my gut-feeling. They can't be buried over the way they are being buried over today, this has to be a big social debate, because then there will be no scientific proof to override the political and ethical solutions to be taken.

This is why I believe we have to put the future of humanity's energy supply at the center of a genuine political debate. This is not a matter for specialists, this is a matter for citizens. And I don't mean it should be solved by referendum – are you for or against nuclear energy? It's an issue that requires lengthy social pedagogy, as does the issue of climate change. We are seriously low on genuine information on world public opinion concerning what the key challenges are, what the problems are, where the big decisions need to be made, and this, in reality, goes back to a subject we didn't discuss: how should we define that word so often cited and yet so vague: democracy?

Ignacy Sachs is honorary professor at the School for Advanced Studies in Social Sciences (EHESS) in Paris and co-director of the Research Center on Contemporary Brazil (CRBC). @ -

Translated by Anthony Doyle. The original in Portuguese is available at http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0103-401420050003&lng=pt&nrm=iso.