Quem controla o Banco Mundial e o FMI

O FMI – sigla para Fundo Monetário Internacional – é uma organização supranacional criada em 1944 pela Conferência de Bretton Woods, nos Estados Unidos. Ele tem por objetivo controlar as finanças e a economia internacional, de forma a evitar problemas econômicos, tais como as Crise de 1929 e qualquer outro tipo de instabilidade financeira. Sua sede encontra-se atualmente na cidade de Nova York.

Atualmente, o FMI possui 188 países-membros, cada qual responsável por depositar quantias em dinheiro para o fundo, de modo que aqueles que mais contribuem e detêm mais capital são aqueles que, posteriormente, poderão contrair os maiores empréstimos e também contar com um maior poder de decisão nas votações internas. No momento, os Estados Unidos possuem a maior cota, sendo responsáveis por mais de 25% dos votos totais da organização, fato que gera muitas críticas ao funcionamento do FMI.

Quem controla o Banco Mundial e o FMI

Sede do Fundo Monetário Internacional em Nova York ¹

Quando um país encontra-se em dificuldades econômicas ou necessita de recursos para adotar algum tipo de política estrutural ou social, ele pode recorrer ao FMI e requisitar um empréstimo. Ao fazê-lo, geralmente, o país deverá adotar uma série de ações recomendada pelo fundo monetário, quase sempre relacionada ao corte de gastos da máquina pública ou a adoção de medidas neoliberais.

Essas medidas colocadas como condição do FMI para a ajuda financeira são conhecidas como políticas de austeridade e são tomadas para reduzir o déficit público com o aumento de juros, controle no consumo, redução dos investimentos sociais pelo Estado, demissões em massa do funcionalismo público e a implantação de rápidas medidas de privatização.

Além de atuar com auxílios financeiros pontuais e temporários, o FMI também tem como função a expansão do crédito equilibrado em nível internacional, a promoção da estabilidade intercambial de divisas, diminuir os desequilíbrios nas balanças comerciais entre países, entre outras questões financeiras e monetárias.

Críticas ao FMI

Embora existam muitos defensores da existência do FMI, principalmente no mercado financeiro, realizam-se muitas críticas ao Fundo Monetário Internacional. A principal é o próprio funcionamento da instituição, como já mencionamos, que confere maior poder àqueles países que possuem maiores condições financeiras, no caso, os países desenvolvidos.

Além disso, existem as acusações de que o FMI teria sido criado para administrar e expandir os interesses dos Estados Unidos, visto que muitas nações em dificuldades tornam-se “reféns” das exigências impostas pelo fundo que, por extensão, apregoa medidas que interessam mais plenamente os estadunidenses.

Outras críticas ao fundo giram em torno de sua suposta ineficiência para gerir e controlar crises econômicas internacionais, principalmente a partir dos anos 1970. Além disso, muitos economistas questionam a forma com que o FMI procede com suas medidas de condicionalidade, obrigando países a adotarem maior controle orçamentário quando o ideal, na visão de muitos, seria o investimento em estruturas de bem-estar social.

Embora existam todas essas críticas, o FMI continua sendo um dos principais atores econômicos e também geopolíticos internacionais, sendo apontado, por muitos, como o principal organismo internacional responsável pela difusão e predomínio do sistema neoliberal em todo o mundo a partir da segunda metade do século XX.

¹ Créditos da imagem: AgnosticPreachersKid / Wikimedia Commons

As Reuniões de Primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, FMI, destacam a realidade financeira na recuperação da pandemia associada à perturbação gerada nos mercados pela guerra na Ucrânia. O conflito poderá reduzir o crescimento global em 2022 para 3,2% dos 4,1% iniciais.

Na abertura do Fórum Parlamentar Global 2022, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, disse que uma das esperanças é o aumento da oferta de recursos.

Reação 

Se isso acontecer, os preços começarão a cair imediatamente e a medida aliviará alguns dos encargos criados pela crise em termos globais. 

Quem controla o Banco Mundial e o FMI

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, destacou que a inflação é o maior perigo

Malpass já tinha confirmado a reação em cadeia à guerra: a economia global em retomada após a pandemia, problemas de suprimentos que criaram escassez e aumento na inflação.

Várias economias sofreram recessão ao mesmo tempo com a perda de capital, empregos e meios de subsistência num momento em que aumenta a inflação.

Nesta semana dois grandes eventos abordarão a Ucrânia e a segurança alimentar global na terça e quinta-feira. As “conversas específicas” envolverão países engajados nos esforços pelo fim da guerra.

FMI

Malpass declarou que o tamanho do financiamento e o papel de instituições como os parlamentos nessas questões requerem uma abertura e perspectiva diferentes.

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Presidente do Banco Mundial, David Malpass David Malpass, disse que uma das esperanças é o aumento da oferta de recursos

Já a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, FMI, Kristalina Georgieva chamou a atenção para o anúncio sobre projeções mundiais de crescimento esperado.

Ela disse que a instituição deverá em 146 países baixar as projeções de crescimento para 2022. Eles representam 86% do Produto Interno Bruto, PIB, global.

Apesar disso, Georgieva acredita que na maioria das nações, o crescimento permanecerá positivo. A preocupação é com o retrocesso da recuperação, apesar de previsões de um final de ano com leve avanço.

Perigo

A chefe do FMI destacou que a inflação é o maior perigo, numa realidade onde bancos centrais “têm as ferramentas para lidar com os sinais” e que algumas ações estão sendo tomadas.

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Recuperação enfrenta riscos com as crescentes pressões inflacionárias em muitas economias

Mas o maior sinal a ser observado é como essas condições financeiras mais apertadas “afetarão ainda a recuperação da Covid-19, prestando atenção a um eventual aprofundamento das forças econômicas”.

Os efeitos da pandemia exacerbados pelo impacto da guerra na Ucrânia fazem que países emergentes e economias em desenvolvimento levem muito mais tempo no retorno aos níveis pré-Covid-19.

Comunidade  internacional

Em 2026, a instituição calcula que esse grupo de países ainda esteja 6% aquém da trajetória anterior à pandemia. 

Para ajudar economias emergentes, em desenvolvimento e à Ucrânia nessa “dupla crise”, o apelo é que seja reconhecido que elas “exigiriam muito mais apoio para estar ao mesmo passo que a comunidade internacional.”

O FMI destinou mais de US$ 170 bilhões em apoio financeiro aos membros, colocando cerca de US$ 1 trilhão ao dispor. Deste valor existem US$ 300 bilhões e o restante ainda se encontram disponíveis.
 

Quem controla o Banco Mundial e o FMI

Funcionário trabalha na produção de vacinas contra a Covid-19 na Índia.

Desemprego em alta, privatizações, perda de direitos, reformas que privilegiam o sistema financeiro em detrimento da classe trabalhadora -- incluindo a da Previdência -- e alianças com forças conservadoras internacionais são algumas das marcas do governo de Jair Bolsonaro. O alinhamento com o neoliberalismo e a subserviência aos Estados Unidos também aparecem como uma preocupação de setores que defendem a soberania nacional. Mas como é possível entender o alcance da influência dos EUA no governo brasileiro e dentro de um processo internacional mais amplo?

Em entrevista recente concedida ao programa de rádio Guns and Butter, o economista e historiador estadunidense Michael Hudson analisa algumas formas como os EUA exploram economias do mundo e podem dar pistas para se entender um pouco o contexto nacional atual -- mesmo que ele não se debruce especificamente sobre o Brasil. Uma das formas apontadas pelas quais os Estados Unidos mantêm o controle político e da estrutura de poder em outros países é estabelecendo alianças com grupos locais leais aos EUA, “oportunistas que agem contra os interesses do próprio país”. “Se você olhar para quem está no comando dos bancos centrais estrangeiros, quase todos estudaram nos Estados Unidos e receberam essencialmente uma lavagem cerebral”, afirma.

“Quando se tem uma teoria econômica desajustada, que é destrutiva em vez de produtiva, isso nunca acontece por acaso”, alerta. Hudson conta que já ouviu de funcionários do Tesouro americano que, muitas vezes, "basta encontrar pessoas corruptas e oportunistas" nos países e comprá-las para aceitarem as condições desse modelo econômico baseado na dependência do poder imperialista.

Imperialismo alimentar

Sem se debruçar especificamente sobre o caso do Brasil, mas traçando um panorama mais amplo da influência dos EUA na economia mundial, Hudson discute ideias de alguns de seus estudos, publicados em livros como Super Imperialism: The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance, lançado originalmente em 1972. Um dos pontos principais defendidos pelo economista é que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) são instrumentos utilizados pelos Estados Unidos para promover a exploração de economias internacionais, impulsionando o imperialismo alimentar e mantendo os países na dependência do capital e da produção agrícola dos EUA.

Hudson explica que, desde sua criação nos anos 1940, o Banco Mundial e o FMI têm o objetivo de estabelecer uma ordem internacional que torne outros países dependentes dos Estados Unidos – único acionista com poder de veto nas duas organizações. A política dessas instituições, afirma, “é o neoliberalismo, que é basicamente a doutrina da supremacia americana e da dependência estrangeira”.

O imperialismo alimentar, explica o economista, tem o objetivo “de garantir os Estados Unidos como produtores de alimentos essenciais e os outros países, de monoculturas não essenciais, para mantê-los dependentes dos grãos, da soja e de alimentos básicos dos EUA”.

“Uma constante na política externa americana é garantir que os outros países sejam dependentes das exportações de grãos e alimentos dos EUA. O objetivo é sustentar o superávit da balança comercial do agronegócio americano”, explica o economista.

Empréstimo em moeda estrangeira

Hudson aponta que, ao não oferecer empréstimos em moeda local, mas apenas em moeda estrangeira, o Banco Mundial desfavorece a produção de alimentos e faz com que os países clientes privilegiem monoculturas de exportação, principalmente aquelas que não podem ser produzidas nos EUA. Isso, segundo o economista e analista financeiro de Wall Street, faz com que “os países clientes se tornem dependentes dos produtores americanos – e de sanções políticas”.

Enquanto um país seria capaz de pagar empréstimos em sua própria moeda, ele não pode imprimir dólares nem euros para pagar as dívidas feitas nessas moedas. “Tornar o dólar central força os outros países a se relacionarem com o sistema financeiro dos EUA”, critica. A interferência do sistema bancário permite que se impeçam os pagamentos da dívida de países que desviem das decisões estadunidenses.

“Quando você é um produtor no Brasil, na Argentina ou no Chile, seus negócios são feitos em moeda local. Não ajuda se oferecerem dólares para você, porque suas despesas são em moeda local. Então se o Banco Mundial e o FMI conseguem impedir os países de oferecer apoio em moeda local, isso faz com que eles não consigam estabelecer uma política de garantia de preços mínimos nem serviços de comercialização de produtos agrícolas no setor público”, avalia.

Embora apliquem uma política intervencionista e neoliberal ao redor do mundo, os EUA sempre buscaram para si a autossuficiência em bens essenciais, para que nenhum outro país possa usar sanções econômicas para pressionar o governo norte-americano, cortando o fornecimento de alimentos ou energia, por exemplo. “Mas os EUA podem utilizar o controle do petróleo para deixar outros países congelarem no escuro e morrerem de fome aplicando sanções na exportação de alimentos.”

Hudson destaca, na entrevista, a contradição entre a política econômica que os Estados Unidos impõem aos outros países e aquela que aplicam internamente. “Nosso governo sempre subsidiou a formação de capital na agricultura e na indústria, mas insiste em dizer que outros países são socialistas ou comunistas se fizerem o mesmo e usarem o próprio governo para dar apoio a economia. São dois pesos e duas medidas. Ninguém chama os EUA de socialistas por darem suporte aos agricultores, mas outros países são chamados de socialistas e os governos, derrubados se tentarem promover a reforma agrária ou garantir a alimentação da população.”

Golpes e assassinatos

Para forçar os outros países a aceitarem empréstimos em moeda estrangeira em condições praticamente impossíveis de serem quitadas, Hudson explica que os Estados Unidos interferem na política desses países, como na América Latina, “sempre impulsionando a direita”. “Por exemplo, quando o Departamento de Estado de Hillary [Clinton] derrubou o reformista de Honduras [Manuel Zelaya] que queria realizar uma reforma agrária e alimentar os hondurenhos, ela afirmou: ‘Essa pessoa precisa sair.’ É por isso que há tantos hondurenhos tentando entrar nos Estados Unidos hoje, porque não conseguem viver no próprio país”, avalia o economista na entrevista.

Hudson também compara os golpes no continente americano com a conjuntura na Síria e no Iraque, demonstrando que a população é forçada a migrar por não conseguir mais sobreviver “sob ditaduras brutais apoiadas pelos Estados Unidos para impor esse sistema de dependência internacional”.

O economista segue a reflexão mencionando a Teologia da Libertação, e como os Estados Unidos promoveram o assassinato de padres e freiras que defendiam a reforma agrária e a soberania alimentar da população na Guatemala e na América Central.

“A pobreza mundial é vista como solução, não como problema. O Banco Mundial vê a pobreza como mão de obra barata, criando uma vantagem competitiva para países que produzem bens que exigem muita mão de obra. Então pobreza e austeridade, para o Banco Mundial e o FMI, são uma solução econômica que está incorporada nos modelos deles”, avalia Hudson. “A pobreza faz parte da luta de classes: lucro contra pobreza.”

Michael Hudson é presidente do Instituto para o Estudo de Tendências Econômicas de Longo Prazo, analista financeiro de Wall Street e professor pesquisador de economia da Universidade do Missouri. É autor de obras como Super Imperialism: The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance, J is for Junk Economics: A Guide to Reality in an Age of Deception e Killing the Host: How Financial Parasites and Debt Destroy the Global Economy, sem edição em português.

A transcrição da entrevista com o economista foi publicada em inglês no site CounterPunch.

Edição: Aline Scátola